domingo, 5 de janeiro de 2014

COMANDANTE RAUL COM A PALAVRA

• Discurso do general-de-exército Raúl Castro Ruz no encerramento do 
segundo período ordinário de sessões da 8ª Legislatura da Assembleia 
Nacional do Poder Popular (Parlamento), no Palácio das Convenções, em
21 de dezembro de 2013, "Ano 55 da Revolução"

(Versões estenográficas – Conselho de Estado)

Intensas e extensas têm sido as jornadas nos últimos dias. Na quarta e 
quinta-feira passadas, como já foi informado, efetuamos a reunião 
alargada do Conselho de Ministros na qual, entre outros assuntos, 
fizemos um balanço do estado da implementação dos acordos do 6º 
Congresso do Partido, os resultados atingidos pela economia no ano e o 
plano e a proposta de Orçamento para o ano 2014. Participaram como 
convidados os integrantes do Bureau Político do Secretariado do Comitê 
Central, do Conselho de Estado e os presidentes de importantes 
organizações superiores de direção empresarial (OSDE).

No atual período de sessões, a Assembleia Nacional aprovou o Código do 
Trabalho que atualiza, em correspondência com o modelo econômico 
projetado, as regulamentações para a proteção dos direitos e o 
cumprimento dos deveres trabalhistas, por parte de trabalhadores e 
empregadores, tanto no setor estatal como no não estatal, tornando 
propícia a criação de um ambiente de maior disciplina e de reafirmação 
da autoridade e responsabilidade da administração.

Há um ano, a última sessão da anterior legislatura adotou o acordo de
submeter à consulta popular o anteprojeto do Código do Trabalho, 
processo que se efetuou no país todo, entre 20 de julho e 15 de 
outubro, sob a condução da Central dos Trabalhadores de Cuba e a ativa 
participação dos deputados e funcionários do Ministério do Trabalho e
Previdência Social.

Participaram do amplo debate — como já afirmaram aqui diferentes 
oradores — mais de 2,8 milhões de trabalhadores, em 69.056 
assembleias, onde se produziram mais de 620 mil intervenções, que 
geraram 171.680 propostas ou colocações, acarretando a modificação 
significativa da versão inicial.

Este processo foi caracterizado por seu sentido político, democrático
e de participação, obtendo-se a compreensão e o apoio majoritário dos
trabalhadores acerca da necessidade de modificar o Código anterior e 
permitiu à CTC e a suas organizações sindicais contribuir com 
informação, esclarecer e orientar acerca da instrumentação e andamento 
das Diretrizes.

Apesar de que a economia cubana continuou seu avanço no ano atual, não 
foram atingidas as metas previstas. O Produto Interno Bruto (PIB) 
cresceu 2,7%, inferior ao 3,6 planejado.

Isso foi condicionado pela contração das receitas das exportações, 
tanto de serviços quanto de mercadorias, cujos preços diminuíram, ao 
mesmo tempo que encareciam os produtos de importação. Tampouco se 
conseguirá o crescimento esperado no turismo internacional e em 
algumas produções nacionais que substituem custosas importações.

Ao mesmo tempo, vieram novamente à tona deficiências nas obras a serem 
construídas, devido a dificuldades defrontadas com o financiamento e 
fornecimentos que chegaram fora de tempo, preparação não adequada, 
atrasos nos projetos e déficit nas forças construtoras.

Ainda em meio destas complexas circunstâncias se conseguiu manter em 
patamares semelhantes determinados serviços sociais, como a saúde e a
educação, entre outros, que são oferecidos gratuitamente a toda a 
população cubana.

Ao longo do ano 2013 e apesar do acirramento do bloqueio 
norte-americano, especialmente no plano comercial e financeiro, a 
crise econômica global e as limitações de nossa economia para aceder a 
fontes de crédito externo, continuamos cumprindo estritamente as 
obrigações financeiras assumidas. Para isso também contribuiu o avanço 
significativo conseguido em diferentes processos de reestruturação da
dívida, tudo o qual propicia que a credibilidade internacional da 
economia cubana continue sua ascensão paulatina e segura.

Ainda, se manteve a tendência favorável no saneamento das finanças 
internas, o que se expressa na redução das contas a serem cobradas e 
pagadas já vencidas, conseguindo-se, ao mesmo tempo, uma correlação 
positiva entre o crescimento do salário médio e da produtividade, em 
benefício do equilíbrio financeiro nacional.

Como foi amplamente argumentado, no ano próximo se manterá a 
influência de fatores externos que restringirão o desempenho da 
economia nacional. Não obstante, se prevê um crescimento do Produto 
Interno Bruto de 2,2 por cento. Este indicador, que não nos satisfaz 
absolutamente, é o fruto de uma profunda e objetiva análise de nossas
atuais possibilidades e exigirá de todos os atores no cenário 
econômico, potencializar as enormes reservas de eficiência existentes
e maior racionalidade e organização, com o objetivo de atingir 
resultados superiores.

O Plano para o ano 2014 assegura os recursos requeridos em interesse 
das exportações de serviços e mercadorias e concebe preservar os 
principais programas de obras, desenhados para a geração de novos e 
crescentes ingressos.

Vamos deixando atrás a visão de curto prazo, condicionada por 
urgências e imprevistos; já estamos em condições de projetar, sobre 
bases sólidas e confiança no futuro, o desenvolvimento até o ano 2030, 
questão à que prestaremos a atenção requerida durante o desenrolar do
ano 2014.

A Assembléia Nacional acordou aprovar a Lei do Orçamento para o 
próximo ano, cujo déficit equivale a 4,7 por cento do Produto Interno
Bruto, o qual não impede assegurar a estabilidade monetária e garantir 
os objetivos econômicos e sociais primordiais do país.

O Plano e o Orçamento de 2014, apesar de suas limitações, respaldarão, 
no fundamental, a implementação das políticas aprovadas em interesse 
da atualização do modelo econômico e social, na trilha dos acordos do
6º Congresso do Partido Comunista de Cuba.

Nesta matéria, vocês receberam uma abundante informação que demonstra
que continua o avanço, em correspondência com a projeção estratégica 
aprovada para a implementação das Diretrizes.

Um passo transcendental, devido a sua repercussão em todas as fases da 
vida nacional, o constituiu a entrada em vigência do cronograma de 
trabalho para a unificação monetária e cambial, a qual começará no 
setor dos entes jurídicos, isto é, os organismos estatais, entidades 
empresariais, cooperativas e outros, com o propósito de ir criando as
condições para o incremento da eficiência, medir adequadamente os 
fatos econômicos e estimular aqueles ramos que gerem receitas por suas 
exportações ou que contribuam a substituir importações. Na segunda 
etapa será estendida aos entes ou pessoas naturais.

Encontramo-nos no período de preparação de condições que incluem a 
conformação do marco jurídico, as modificações dos registros e das 
normas de contabilidade, bem como da capacitação dos funcionários 
envolvidos.

Eu considero oportuno ratificar que o processo de unificação monetária 
não afetará aqueles que obtêm receitas de forma legal, tanto em 
divisas como em pesos, nem o dinheiro efetivo nas mãos da população ou 
os depósitos existentes no sistema bancário nacional. Ainda, quero 
reiterar que esta decisão não constitui, ela própria, a solução mágica 
dos nossos problemas, mas penso que contribuirá, de maneira decisiva,
a melhorar o funcionamento da economia e à edificação de um socialismo 
próspero e sustentável, menos igualitário e mais justo, o que 
definitivamente propiciará maiores benefícios para todos os cubanos.

Ao mesmo tempo, aperfeiçoam-se os instrumentos para o controle sobre a 
emissão monetária e o equilíbrio financeiro da população no novo 
âmbito, o qual prevê uma atuação crescente do setor não estatal. 
Manteve-se o desdobramento paulatino da política de créditos, a qual 
oferece maior acesso ao financiamento, tanto aos entes naturais como 
às diferentes modalidades de gestão, cooperativa ou privada.

Por outro lado, já está em andamento um conjunto de medidas que 
flexibiliza, de maneira ordenada, o objeto social da empresa 
socialista, dando-lhe autonomia, favorecendo a melhor exploração de 
suas capacidades produtivas e o acesso ao mercado, após ter cumprido o 
encargo estatal.

Enorme interesse provocou a criação da Zona Especial de 
Desenvolvimento Mariel, chamada a converter-se em um importante pólo 
de atração do investimento estrangeiro e, ao mesmo tempo, em um 
polígono de experimentação de tecnologias modernas e formas e métodos
de gestão empresarial, em harmonia com a preservação do meio ambiente. 
Nos fins do próximo mês de janeiro inauguraremos a primeira etapa do 
Terminal de Contêineres que está sendo construído ali, junto com 
outras infraestruturas vitais, para o qual temos contado com o 
financiamento oferecido pelo governo solidário do Brasil.

Nesse mesmo sentido, o Conselho de Ministros aprovou o aperfeiçoamento 
da política para o Investimento Estrangeiro, fator de singular 
importância para dinamizar o desenvolvimento econômico e social do 
país. A partir disso se trabalha na elaboração de um projeto de Lei 
nessa matéria, que devemos examinar na próxima sessão da Assembleia 
Nacional que, tal como combinamos ontem, será no mês de março, numa 
reunião extraordinária, para tratar deste tema e outros mais.

Prosseguiu o alargamento da experiência das cooperativas não 
agropecuárias, das quais já estão funcionando mais de 250, embora o 
tempo decorrido ainda não nos permita fazer uma avaliação integral dos 
seus resultados. Nesta etapa se requer de uma permanente supervisão e
controle da experiência por parte das instituições reitoras de cada 
atividade, com o intuito de detectar e corrigir oportunamente qualquer 
desvio.

Mais de 440 mil cubanos exercem o trabalho independente e espera-se 
que esta modalidade continue aumentando, como resultado da 
flexibilização ulterior dos regulamentos existentes e a ampliação das
atividades compreendidas nesta forma de gestão não estatal.

Agora bem, da mesma forma em que o Partido e o Governo — também 
dissemos isso dos sindicatos, em seu momento — estão no dever de 
facilitar o trabalho independente e desterrar estigmas e preconceitos
que existiam em relação a ele, também eles todos têm que garantir a 
ordem e o respeito da Lei e o cumprimento rigoroso dos impostos e 
demais tributos estabelecidos para estes trabalhadores.

Fatos recentes evidenciaram um controle inadequado, por parte das 
instituições governamentais, das ilegalidades no exercício do trabalho 
independente, as quais não foram enfrentadas resolvida e 
oportunamente, tendo sido criado um ambiente de impunidade que, por 
sua vez, estimulou o crescimento acelerado de atividades que nunca 
tinham sido autorizadas nos requisitos definidos para determinadas 
ocupações.

Independentemente das medidas que tivemos que adotar para corrigir 
estes fenômenos, considero conveniente que examinemos as causas de seu 
aparecimento e rápida difusão e aprendamos a lição, que se resume em 
que cada passo que demos deve ser acompanhado do estabelecimento e 
preservação dum clima de ORDEM, DISCIPLINA E EXIGÊNCIA; que se devem 
prever os problemas antes de seu aparecimento e, caso surgirem, temos
que agir de imediato, sem hesitação, preferentemente quando sejam 
pequenos e isolados, pois isso sempre será preferível antes de termos
que pagar o custo político que entranha a inércia e a passividade de 
não fazerrmos cumprir o estipulado nas leis.

Não nos iludamos, o caminho que escolhemos não estará isento de 
obstáculos e riscos, mas o sucesso dependerá da inteligência, 
paciência e, sobretudo, da firmeza com que atuemos, com o apoio de 
nosso povo e dos próprios trabalhadores deste setor, que 
majoritariamente cumprem as disposições vigentes.

Continuaremos avançando, com decisão, na implementação dos acordos do
6o. Congresso, sem pressa, mas sem pausas, repito, sem pressa, mas sem 
pausas, apesar de variadas exortações com boas intenções e outras que
definitivamente não são assim. Não ignoramos que aqueles que nos 
instam a acelerar o passo nos empurram ao fracasso, à desunião e a 
prejudicar a confiança e o apoio do povo na construção do socialismo,
ou o que é a mesma coisa, a independência e a soberania da nação 
cubana, que foram conquistadas neste país e serão mantidas pelo 
socialismo.

Que ninguém duvide isso, os que dedicamos quase a vida inteira a esses 
ideais, por razões óbvias, encontramo-nos entre os mais interessados 
em avançar ainda a maior velocidade. A história registra não poucas 
experiências dos nefastos resultados que causam violentar o ritmo e 
pular etapas, o qual, irremediavelmente, em vez de adiantar na 
materialização dum programa, conduz ao retrocesso e à derrota.

Nem nós, a chamada direção histórica da Revolução, nem as novas 
gerações, permitiremos que se perca a obra da Revolução, não haverá 
espaço para submeter nosso povo aos efeitos dos frustrados pacotes de
ajuste, que condenam as grandes maiorias à miséria; nunca admitiremos
na Cuba revolucionária terapias de choque, tais como as que estamos 
vendo na chamada rica e culta Europa, que fariam cair o país num clima 
de divisão e instabilidade, que serviria de pretexto para aventuras e
intervenções contra a nação.

Como é sabido, no passado mês de novembro, realizamos o Exercício 
Estratégico "Bastión 2013", que constituiu a atividade mais importante 
da preparação para a defesa, nos últimos quatro anos. Sua realização 
tinha sido marcada para 2012. Contudo, decidimos pospô-la atendendo 
aos prejuízos ocasionados pela passagem do furacão Sandy pelas 
províncias orientais.

"Bastión 2013" realizou-se de maneira bem-sucedida, com a entusiástica 
participação da população nas atividades dos dias nacionais da defesa, 
realizados sob o critério da máxima racionalidade. As experiências 
deste exercício nos permitem continuar o aperfeiçoamento constante da
capacidade defensiva alcançada pelo país.

Tal como outras vezes vou referir-me agora, brevemente, a assuntos da
política externa.

Em primeiro lugar, gostaria de compartilhar com vocês a emoção que 
sentimos durante a visita à África do Sul para render merecido tributo 
a Nelson Mandela. Ali constatamos o carinho e agradecimento do povo 
sul-africano a Cuba, a Fidel e aos nossos combatentes 
internacionalistas, tombados nas lutas pela independência da África e
contra o apartheid, cujos nomes estão esculpidos nos muros do Parque 
da Liberdade, junto a milhares de lutadores sul-africanos, por 
iniciativa pessoal do próprio Mandela.

Tive fraternais reuniões com o presidente Zuma e com dirigentes do 
Congresso Nacional Africano — ANC — e do Partido Comunista, 
organizações que, sob a direção de Mandela e outros líderes 
históricos, chefiaram a resistência popular e a luta armada desse 
povo. Fatos que a estas alturas alguns pretendem desvirtuar.

O exemplo de Mandela, a quem Fidel qualificou na passada quarta-feira
18 como "um homem íntegro, revolucionário profundo e radicalmente 
socialista", continuará mostrando o caminho da libertação nacional e 
da justiça social às gerações futuras.

O decisivo resultado alcançado pelas forças revolucionárias, sob a 
direção do presidente Nicolás Maduro, nas eleições municipais de 8 de
dezembro, na Venezuela, constitui uma resposta demolidora às 
tentativas de desestabilização dos seus inimigos e demonstra a decisão 
do governo e do povo venezuelanos de preservar e defender as 
conquistas atingidas e o legado do chefe da Revolução Bolivariana Hugo 
Chávez Frías.

Na arena internacional, nosso país obteve, recentemente, dois 
importantes sucessos: uma nova vitória na ONU, onde 188 nações votaram 
a favor do fim do bloqueio norte-americano, e sua eleição — a de Cuba
— como membro do Conselho dos Direitos Humanos. Ambos os 
acontecimentos são mais uma mostra do reconhecimento e da simpatia que 
desperta no mundo a luta do povo cubano.

Durante o ano, exercemos a presidência pro tempore da Comunidade dos 
Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), animados pela decisão
de contribuir para a unidade de nossa região, dentro de sua 
diversidade. Em janeiro, efetuaremos em Havana a Cúpula dos Chefes de
Estado e de Governo da América Latina e o Caribe, que será mais uma 
oportunidade para dialogar e adotar decisões políticas sobre questões
que mais interessam a nossas nações, inclusive a luta contra as 
desigualdades.

Se nos últimos tempos fomos capazes de ter alguns diálogos sobre temas 
de benefício mútuo entre Cuba e os Estados Unidos, consideramos que 
podemos resolver outros assuntos de interesse e estabelecer uma 
relação civilizada entre ambos os países, como deseja nosso povo e a 
maioria dos cidadãos estadunidenses e a emigração cubana.

Por nosso lado, expressamos em múltiplas ocasiões a disposição para 
ter com os Estados Unidos um diálogo respeitoso, em pé de igualdade e
sem comprometermos a independência, soberania e autodeterminação da 
nação. Não reclamamos dos Estados Unidos que mude seu sistema político 
e social nem aceitamos negociar o nosso. Se realmente desejamos 
avançar nas relações bilaterais, teremos que aprender a respeitar 
mutuamente nossas diferenças e acostumarmo-nos a conviver 
pacificamente com elas. Só assim; pelo contrário, estamos dispostos a
suportar mais 55 anos na mesma situação (Aplausos).

Há já mais de 15 anos que os Heróis Gerardo, Ramón, Antonio e Fernando 
cumprem injusta condenação em cárceres norte-americanos. Sua 
libertação e retorno à Pátria e às famílias teve, tem e terá a máxima
prioridade para nosso povo, Partido e Governo, em cujo nome lhes 
transmitimos um imenso abraço.

Por último, companheiras e companheiros, desejo terminar minhas 
palavras enviando, através de vocês, ao nobre e heróico povo cubano os 
parabéns pelo Ano Novo e pelo 55o. aniversário do triunfo da 
Revolução, que comemoraremos em Santiago de Cuba, em 1o. de janeiro.

Muito obrigado.

Viva a Revolução sempre! (Exclamações de: "Viva!")

Viva Fidel! (Exclamações de: "Viva!")

E viva seu espírito de combate! (Exclamações de: "Viva!")

(Ovação.)