• Discurso do general-de-exército Raúl Castro Ruz no encerramento do segundo período ordinário de sessões da 8ª Legislatura da Assembleia Nacional do Poder Popular (Parlamento), no Palácio das Convenções, em 21 de dezembro de 2013, "Ano 55 da Revolução" (Versões estenográficas – Conselho de Estado) Intensas e extensas têm sido as jornadas nos últimos dias. Na quarta e quinta-feira passadas, como já foi informado, efetuamos a reunião alargada do Conselho de Ministros na qual, entre outros assuntos, fizemos um balanço do estado da implementação dos acordos do 6º Congresso do Partido, os resultados atingidos pela economia no ano e o plano e a proposta de Orçamento para o ano 2014. Participaram como convidados os integrantes do Bureau Político do Secretariado do Comitê Central, do Conselho de Estado e os presidentes de importantes organizações superiores de direção empresarial (OSDE). No atual período de sessões, a Assembleia Nacional aprovou o Código do Trabalho que atualiza, em correspondência com o modelo econômico projetado, as regulamentações para a proteção dos direitos e o cumprimento dos deveres trabalhistas, por parte de trabalhadores e empregadores, tanto no setor estatal como no não estatal, tornando propícia a criação de um ambiente de maior disciplina e de reafirmação da autoridade e responsabilidade da administração. Há um ano, a última sessão da anterior legislatura adotou o acordo de submeter à consulta popular o anteprojeto do Código do Trabalho, processo que se efetuou no país todo, entre 20 de julho e 15 de outubro, sob a condução da Central dos Trabalhadores de Cuba e a ativa participação dos deputados e funcionários do Ministério do Trabalho e Previdência Social. Participaram do amplo debate — como já afirmaram aqui diferentes oradores — mais de 2,8 milhões de trabalhadores, em 69.056 assembleias, onde se produziram mais de 620 mil intervenções, que geraram 171.680 propostas ou colocações, acarretando a modificação significativa da versão inicial. Este processo foi caracterizado por seu sentido político, democrático e de participação, obtendo-se a compreensão e o apoio majoritário dos trabalhadores acerca da necessidade de modificar o Código anterior e permitiu à CTC e a suas organizações sindicais contribuir com informação, esclarecer e orientar acerca da instrumentação e andamento das Diretrizes. Apesar de que a economia cubana continuou seu avanço no ano atual, não foram atingidas as metas previstas. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 2,7%, inferior ao 3,6 planejado. Isso foi condicionado pela contração das receitas das exportações, tanto de serviços quanto de mercadorias, cujos preços diminuíram, ao mesmo tempo que encareciam os produtos de importação. Tampouco se conseguirá o crescimento esperado no turismo internacional e em algumas produções nacionais que substituem custosas importações. Ao mesmo tempo, vieram novamente à tona deficiências nas obras a serem construídas, devido a dificuldades defrontadas com o financiamento e fornecimentos que chegaram fora de tempo, preparação não adequada, atrasos nos projetos e déficit nas forças construtoras. Ainda em meio destas complexas circunstâncias se conseguiu manter em patamares semelhantes determinados serviços sociais, como a saúde e a educação, entre outros, que são oferecidos gratuitamente a toda a população cubana. Ao longo do ano 2013 e apesar do acirramento do bloqueio norte-americano, especialmente no plano comercial e financeiro, a crise econômica global e as limitações de nossa economia para aceder a fontes de crédito externo, continuamos cumprindo estritamente as obrigações financeiras assumidas. Para isso também contribuiu o avanço significativo conseguido em diferentes processos de reestruturação da dívida, tudo o qual propicia que a credibilidade internacional da economia cubana continue sua ascensão paulatina e segura. Ainda, se manteve a tendência favorável no saneamento das finanças internas, o que se expressa na redução das contas a serem cobradas e pagadas já vencidas, conseguindo-se, ao mesmo tempo, uma correlação positiva entre o crescimento do salário médio e da produtividade, em benefício do equilíbrio financeiro nacional. Como foi amplamente argumentado, no ano próximo se manterá a influência de fatores externos que restringirão o desempenho da economia nacional. Não obstante, se prevê um crescimento do Produto Interno Bruto de 2,2 por cento. Este indicador, que não nos satisfaz absolutamente, é o fruto de uma profunda e objetiva análise de nossas atuais possibilidades e exigirá de todos os atores no cenário econômico, potencializar as enormes reservas de eficiência existentes e maior racionalidade e organização, com o objetivo de atingir resultados superiores. O Plano para o ano 2014 assegura os recursos requeridos em interesse das exportações de serviços e mercadorias e concebe preservar os principais programas de obras, desenhados para a geração de novos e crescentes ingressos. Vamos deixando atrás a visão de curto prazo, condicionada por urgências e imprevistos; já estamos em condições de projetar, sobre bases sólidas e confiança no futuro, o desenvolvimento até o ano 2030, questão à que prestaremos a atenção requerida durante o desenrolar do ano 2014. A Assembléia Nacional acordou aprovar a Lei do Orçamento para o próximo ano, cujo déficit equivale a 4,7 por cento do Produto Interno Bruto, o qual não impede assegurar a estabilidade monetária e garantir os objetivos econômicos e sociais primordiais do país. O Plano e o Orçamento de 2014, apesar de suas limitações, respaldarão, no fundamental, a implementação das políticas aprovadas em interesse da atualização do modelo econômico e social, na trilha dos acordos do 6º Congresso do Partido Comunista de Cuba. Nesta matéria, vocês receberam uma abundante informação que demonstra que continua o avanço, em correspondência com a projeção estratégica aprovada para a implementação das Diretrizes. Um passo transcendental, devido a sua repercussão em todas as fases da vida nacional, o constituiu a entrada em vigência do cronograma de trabalho para a unificação monetária e cambial, a qual começará no setor dos entes jurídicos, isto é, os organismos estatais, entidades empresariais, cooperativas e outros, com o propósito de ir criando as condições para o incremento da eficiência, medir adequadamente os fatos econômicos e estimular aqueles ramos que gerem receitas por suas exportações ou que contribuam a substituir importações. Na segunda etapa será estendida aos entes ou pessoas naturais. Encontramo-nos no período de preparação de condições que incluem a conformação do marco jurídico, as modificações dos registros e das normas de contabilidade, bem como da capacitação dos funcionários envolvidos. Eu considero oportuno ratificar que o processo de unificação monetária não afetará aqueles que obtêm receitas de forma legal, tanto em divisas como em pesos, nem o dinheiro efetivo nas mãos da população ou os depósitos existentes no sistema bancário nacional. Ainda, quero reiterar que esta decisão não constitui, ela própria, a solução mágica dos nossos problemas, mas penso que contribuirá, de maneira decisiva, a melhorar o funcionamento da economia e à edificação de um socialismo próspero e sustentável, menos igualitário e mais justo, o que definitivamente propiciará maiores benefícios para todos os cubanos. Ao mesmo tempo, aperfeiçoam-se os instrumentos para o controle sobre a emissão monetária e o equilíbrio financeiro da população no novo âmbito, o qual prevê uma atuação crescente do setor não estatal. Manteve-se o desdobramento paulatino da política de créditos, a qual oferece maior acesso ao financiamento, tanto aos entes naturais como às diferentes modalidades de gestão, cooperativa ou privada. Por outro lado, já está em andamento um conjunto de medidas que flexibiliza, de maneira ordenada, o objeto social da empresa socialista, dando-lhe autonomia, favorecendo a melhor exploração de suas capacidades produtivas e o acesso ao mercado, após ter cumprido o encargo estatal. Enorme interesse provocou a criação da Zona Especial de Desenvolvimento Mariel, chamada a converter-se em um importante pólo de atração do investimento estrangeiro e, ao mesmo tempo, em um polígono de experimentação de tecnologias modernas e formas e métodos de gestão empresarial, em harmonia com a preservação do meio ambiente. Nos fins do próximo mês de janeiro inauguraremos a primeira etapa do Terminal de Contêineres que está sendo construído ali, junto com outras infraestruturas vitais, para o qual temos contado com o financiamento oferecido pelo governo solidário do Brasil. Nesse mesmo sentido, o Conselho de Ministros aprovou o aperfeiçoamento da política para o Investimento Estrangeiro, fator de singular importância para dinamizar o desenvolvimento econômico e social do país. A partir disso se trabalha na elaboração de um projeto de Lei nessa matéria, que devemos examinar na próxima sessão da Assembleia Nacional que, tal como combinamos ontem, será no mês de março, numa reunião extraordinária, para tratar deste tema e outros mais. Prosseguiu o alargamento da experiência das cooperativas não agropecuárias, das quais já estão funcionando mais de 250, embora o tempo decorrido ainda não nos permita fazer uma avaliação integral dos seus resultados. Nesta etapa se requer de uma permanente supervisão e controle da experiência por parte das instituições reitoras de cada atividade, com o intuito de detectar e corrigir oportunamente qualquer desvio. Mais de 440 mil cubanos exercem o trabalho independente e espera-se que esta modalidade continue aumentando, como resultado da flexibilização ulterior dos regulamentos existentes e a ampliação das atividades compreendidas nesta forma de gestão não estatal. Agora bem, da mesma forma em que o Partido e o Governo — também dissemos isso dos sindicatos, em seu momento — estão no dever de facilitar o trabalho independente e desterrar estigmas e preconceitos que existiam em relação a ele, também eles todos têm que garantir a ordem e o respeito da Lei e o cumprimento rigoroso dos impostos e demais tributos estabelecidos para estes trabalhadores. Fatos recentes evidenciaram um controle inadequado, por parte das instituições governamentais, das ilegalidades no exercício do trabalho independente, as quais não foram enfrentadas resolvida e oportunamente, tendo sido criado um ambiente de impunidade que, por sua vez, estimulou o crescimento acelerado de atividades que nunca tinham sido autorizadas nos requisitos definidos para determinadas ocupações. Independentemente das medidas que tivemos que adotar para corrigir estes fenômenos, considero conveniente que examinemos as causas de seu aparecimento e rápida difusão e aprendamos a lição, que se resume em que cada passo que demos deve ser acompanhado do estabelecimento e preservação dum clima de ORDEM, DISCIPLINA E EXIGÊNCIA; que se devem prever os problemas antes de seu aparecimento e, caso surgirem, temos que agir de imediato, sem hesitação, preferentemente quando sejam pequenos e isolados, pois isso sempre será preferível antes de termos que pagar o custo político que entranha a inércia e a passividade de não fazerrmos cumprir o estipulado nas leis. Não nos iludamos, o caminho que escolhemos não estará isento de obstáculos e riscos, mas o sucesso dependerá da inteligência, paciência e, sobretudo, da firmeza com que atuemos, com o apoio de nosso povo e dos próprios trabalhadores deste setor, que majoritariamente cumprem as disposições vigentes. Continuaremos avançando, com decisão, na implementação dos acordos do 6o. Congresso, sem pressa, mas sem pausas, repito, sem pressa, mas sem pausas, apesar de variadas exortações com boas intenções e outras que definitivamente não são assim. Não ignoramos que aqueles que nos instam a acelerar o passo nos empurram ao fracasso, à desunião e a prejudicar a confiança e o apoio do povo na construção do socialismo, ou o que é a mesma coisa, a independência e a soberania da nação cubana, que foram conquistadas neste país e serão mantidas pelo socialismo. Que ninguém duvide isso, os que dedicamos quase a vida inteira a esses ideais, por razões óbvias, encontramo-nos entre os mais interessados em avançar ainda a maior velocidade. A história registra não poucas experiências dos nefastos resultados que causam violentar o ritmo e pular etapas, o qual, irremediavelmente, em vez de adiantar na materialização dum programa, conduz ao retrocesso e à derrota. Nem nós, a chamada direção histórica da Revolução, nem as novas gerações, permitiremos que se perca a obra da Revolução, não haverá espaço para submeter nosso povo aos efeitos dos frustrados pacotes de ajuste, que condenam as grandes maiorias à miséria; nunca admitiremos na Cuba revolucionária terapias de choque, tais como as que estamos vendo na chamada rica e culta Europa, que fariam cair o país num clima de divisão e instabilidade, que serviria de pretexto para aventuras e intervenções contra a nação. Como é sabido, no passado mês de novembro, realizamos o Exercício Estratégico "Bastión 2013", que constituiu a atividade mais importante da preparação para a defesa, nos últimos quatro anos. Sua realização tinha sido marcada para 2012. Contudo, decidimos pospô-la atendendo aos prejuízos ocasionados pela passagem do furacão Sandy pelas províncias orientais. "Bastión 2013" realizou-se de maneira bem-sucedida, com a entusiástica participação da população nas atividades dos dias nacionais da defesa, realizados sob o critério da máxima racionalidade. As experiências deste exercício nos permitem continuar o aperfeiçoamento constante da capacidade defensiva alcançada pelo país. Tal como outras vezes vou referir-me agora, brevemente, a assuntos da política externa. Em primeiro lugar, gostaria de compartilhar com vocês a emoção que sentimos durante a visita à África do Sul para render merecido tributo a Nelson Mandela. Ali constatamos o carinho e agradecimento do povo sul-africano a Cuba, a Fidel e aos nossos combatentes internacionalistas, tombados nas lutas pela independência da África e contra o apartheid, cujos nomes estão esculpidos nos muros do Parque da Liberdade, junto a milhares de lutadores sul-africanos, por iniciativa pessoal do próprio Mandela. Tive fraternais reuniões com o presidente Zuma e com dirigentes do Congresso Nacional Africano — ANC — e do Partido Comunista, organizações que, sob a direção de Mandela e outros líderes históricos, chefiaram a resistência popular e a luta armada desse povo. Fatos que a estas alturas alguns pretendem desvirtuar. O exemplo de Mandela, a quem Fidel qualificou na passada quarta-feira 18 como "um homem íntegro, revolucionário profundo e radicalmente socialista", continuará mostrando o caminho da libertação nacional e da justiça social às gerações futuras. O decisivo resultado alcançado pelas forças revolucionárias, sob a direção do presidente Nicolás Maduro, nas eleições municipais de 8 de dezembro, na Venezuela, constitui uma resposta demolidora às tentativas de desestabilização dos seus inimigos e demonstra a decisão do governo e do povo venezuelanos de preservar e defender as conquistas atingidas e o legado do chefe da Revolução Bolivariana Hugo Chávez Frías. Na arena internacional, nosso país obteve, recentemente, dois importantes sucessos: uma nova vitória na ONU, onde 188 nações votaram a favor do fim do bloqueio norte-americano, e sua eleição — a de Cuba — como membro do Conselho dos Direitos Humanos. Ambos os acontecimentos são mais uma mostra do reconhecimento e da simpatia que desperta no mundo a luta do povo cubano. Durante o ano, exercemos a presidência pro tempore da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), animados pela decisão de contribuir para a unidade de nossa região, dentro de sua diversidade. Em janeiro, efetuaremos em Havana a Cúpula dos Chefes de Estado e de Governo da América Latina e o Caribe, que será mais uma oportunidade para dialogar e adotar decisões políticas sobre questões que mais interessam a nossas nações, inclusive a luta contra as desigualdades. Se nos últimos tempos fomos capazes de ter alguns diálogos sobre temas de benefício mútuo entre Cuba e os Estados Unidos, consideramos que podemos resolver outros assuntos de interesse e estabelecer uma relação civilizada entre ambos os países, como deseja nosso povo e a maioria dos cidadãos estadunidenses e a emigração cubana. Por nosso lado, expressamos em múltiplas ocasiões a disposição para ter com os Estados Unidos um diálogo respeitoso, em pé de igualdade e sem comprometermos a independência, soberania e autodeterminação da nação. Não reclamamos dos Estados Unidos que mude seu sistema político e social nem aceitamos negociar o nosso. Se realmente desejamos avançar nas relações bilaterais, teremos que aprender a respeitar mutuamente nossas diferenças e acostumarmo-nos a conviver pacificamente com elas. Só assim; pelo contrário, estamos dispostos a suportar mais 55 anos na mesma situação (Aplausos). Há já mais de 15 anos que os Heróis Gerardo, Ramón, Antonio e Fernando cumprem injusta condenação em cárceres norte-americanos. Sua libertação e retorno à Pátria e às famílias teve, tem e terá a máxima prioridade para nosso povo, Partido e Governo, em cujo nome lhes transmitimos um imenso abraço. Por último, companheiras e companheiros, desejo terminar minhas palavras enviando, através de vocês, ao nobre e heróico povo cubano os parabéns pelo Ano Novo e pelo 55o. aniversário do triunfo da Revolução, que comemoraremos em Santiago de Cuba, em 1o. de janeiro. Muito obrigado. Viva a Revolução sempre! (Exclamações de: "Viva!") Viva Fidel! (Exclamações de: "Viva!") E viva seu espírito de combate! (Exclamações de: "Viva!") (Ovação.)