segunda-feira, 30 de setembro de 2013

PARAGUAY :- ASSASSINATOS, CORRUPÇÃO, TRÁFICO... E TEM SENADORES DO PARANÁ QUE APOIAM...

OS REFUGIADOS DE CURUGUATY

 Por Sol Amaya, do el Puerco Espín*
  • Família presente na hora do conflito (Foto: Última Hora)
  • Momento do início do confronto. (Foto: Última Hora)
  • O ex-presidente, Fernando Lugo
  • Ruben Villalba é preso pela polícia em 27 de setembro
Sobreviventes do massacre que derrubou Lugo fugiram para a Argentina para escapar da perseguição da justiça paraguaia; aqui, eles contam suas histórias
Mais de 1400 quilômetros e 365 dias os separam dos eventos daquele dia, mas quando eles descrevem o que viveram em 15 de junho de 2012 parecem estar de volta à cena do massacre de Curuguaty: as mãos tremem, os olhos se turvam, a voz falha. Sentados em um bar no bairro de San Telmo, em Buenos Aires, os camponeses paraguaios Dani Garcete, de 25 anos, e Héctor Ramírez, de 26, baixam o tom de voz e as palavras ficam mais raras.
Ao ser perguntado sobre o confronto no qual 17 pessoas  morreram – seis policiais, onze camponeses – durante a operação de reintegração de posse que causou a destituição do presidente Fernando Lugo, Dani limpa a garganta. Hesita. Olhando para a porta de entrada, confessa que quase cancelou a entrevista: não queria falar. Faz um ano que está tentando tirar essas imagens da cabeça, e esquecer o motivo de ter deixado a família e fugido do seu país.
Em Buenos Aires, Dani só conhece Ramírez e Fredy Villalba – ambos também foragidos do Paraguai e da mesma tragédia. Dani olha humildemente para os sapatos azuis – ele e Héctor estão vestidos para uma partida de futebol – e conta que todos os fins de semana se juntam para jogar bola no campo de várzea da comunidade onde moram, na periferia da capital argentina. Antes de mergulhar nas lembranças, crava o olhar na mesa e suspira.

A FUGA

A sugestão partiu do irmão de Héctor, que está preso, como outros 13 camponeses que estavam no dia do confronto com a polícia. Alcides Ramirez lhes disse que havia uma possibilidade de sair do país, pelo menos até que os fatos fossem esclarecidos. “Aceitei imediatamente, me arrependi imediatamente”, diz Dani levantando a cabeça, as mãos entrelaçadas sobre a mesa. “Mas depois compreendi que não tinha outra opção”.
Em silêncio, Héctor Ramírez assente com a cabeça. Embora ele vivesse havia cinco anos em Buenos Aires – para onde imigrou em busca de trabalho – desta vez seria diferente. Antes, visitava a sua família no Paraguai sempre que podia. Quando ocorreu a ocupação de Marina Cué, como é conhecida a propriedade onde ocorreu o massacre de Curuguaty, Ramírez estava por ali aproveitando suas férias. Mas decidiu se juntar aos outros sem-terra na ocupação do terreno de 2000 hectares a cerca de 250 quilômetros de Assunção. E, como todos os camponeses, teve seu nome anotado a lápis em um papel pelos coordenadores da ocupação, para pedir alimentos ao governo. Encontrado pela polícia após o massacre, o documento acabou se convertendo em uma lista de “culpados” a serem caçados pela polícia e detidos imediatamente. A investigação oficial sustenta que eles armaram uma emboscada para assassinar os policiais. Estivessem ou não em Marina Cué no dia da desocupação, todos os que figuravam na lista foram acusados de homicídio doloso agravado, homicidio doloso em grau de tentativa, associação criminal e invasão de propriedade alheia.
Foi o político paraguaio Domingo Laíno – do mesmo partido Liberal do então vice-presidente Federico Franco, que se tornou presidente depois do impeachment de Lugo – quem lhes ajudou a fugir do Paraguai. Convencido de que o massacre fora forjado para servir de pretexto para o impeachment, em mais um trágico episódio da conservadora política paraguaia, ele fundou a ONG Plataforma de Estudio e Investigación de Conflictos Campesinos (PEICC) para fazer uma investigação paralela à oficial, conduzida pelo Ministério Público local. Durante a pesquisa conheceu a mãe de Dani, uma enfermeira que vive em uma comunidade próxima ao terreno de Marina Cué. Ela temia pela vida de seu filho – e pediu que Laino o ajudasse.
Assim como ela, Rubén Villalba, um dos coordenadores da ocupação às terras de Marina Cué, cuja defesa também é paga pelo PEICC, também temia pela vida de Fred Rubén Villaba, seu braço direito na organização camponesa na zona rural de Curuguaty. Rubén continua preso e é acusado de ser o principal “mentor” do massacre. Fred estava próximo a Rubén Villalba durante a troca de tiros com a  polícia. Corria grande perigo se continuasse no Paraguai segundo Domingo Laino.
Depois de algumas conversas pelo telefone, os dois decidiram se encontrar em Marina Cué para, dali, emprender a fuga. “Terrível” é a palavra que usa Dani para descrever como foi para ele voltar àquele lugar. “Terrível, terrível”, repete, apertando os lábios. De Curuguaty, viajaram de carro a Assunção, e se alojaram na casa de Laino, enquanto ele buscava uma solução. Laino, figura conhecida na política paraguaia, exilou-se na Argentina durante a ditadura de Alfredo Stroessner (1954 – 1989). Dessa vez, ele diz ter contatado a embaixada argentina em Assunção: deixaria os três foragidos na fronteira. Procurado pela reportagem, o governo argentino não confirmou nem desmentiu a informação, alegando que a lei impõe confidencialidade para o caso de refugiados.
Depois alguns dias de planejamento, seguiram de carro até o limite com a Argentina. Com o coração palpitante, as mãos suando e a boca seca, cruzaram a fronteira a pé. Assim que entraram, pediram status de refugiados. Durante 12 horas, que pareceram intermináveis, foram entrevistados por guardas da fronteira. Passaram por uma revista médica; tiveram que explicar por escrito os motivos de seu pedido de refúgio, por que tinham que deixar o Paraguai e ficar na Argentina.
Finalmente, acompanhados de dois guardas de fronteira, viajaram de ônibus até a Estación de Retiro, na zona portuária de Buenos Aires. Chegaram em um sábado de outubro. Um irmão de Héctor vivia em uma comunidade na zona sul da cidade: era para lá que planejavam ir. Os guardas se ofereceram para levá-los, mas eles preferiram esperar alguns dias. Passaram o fim da semana em um edificio da Guarda Nacional de Fronteira. Foi uma noite triste, embora tranquilizadora: ao menos estavam longe da polícia paraguaia e ninguém poderia prendê-los. Os guardas ofereceram mate, comida e um lugar para dormir. Era o primeiro refúgio.
Na segunda-feira seguinte, chegaram à comunidade onde iriam começar vida nova.
Mas, um ano depois, Dani não consegue parar de pensar no seu Paraguai.

O PESADELO DE CURUGUATY

Em 15 de junho de 2012, havia cerca de 70 camponeses, incluindo mulheres e crianças, no terreno de Marina Cué. No dia marcado para a reintegração de posse, esperavam falar com a polícia. “Queríamos ver os papéis da propriedade, só isso. Mas logo começaram os disparos, e….”. Dani interrompe a fala, o rosto fica vermelho. Mais uma vez, silêncio.
Tudo começou por volta das 7:30 da manhã. A polícia havia recebido a ordem de desocupar a terra. As ocupações de sem-terras eram frequentes naquela região, mas o caso de Marina Cué era único. O terreno era alvo de uma complexa disputa judicial entre a empresa Campos Morumbi S.A., do falecido Blas N. Riquelme, político do partido Colorado, e o Instituto de Terras paraguaio. Havia sido entregue oficialmente ao Instituto e destinado à reforma agrária, mas a empresa Campos Morumbi o reclamou perante a justiça local, que aquiesceu. Uma procuradora solicitou a reintegração de posse, e um deputado, o também colorado Oscar Tuma, pediu que o Congresso respaldasse a medida judicial.
Dani e Ramírez eram dois dos 30 camponeses que se aproximaram da entrada para receber a polícia naquela manhã. Alguns dos seus companheiros, muito poucos, segundo ambos, levavam velhas escopetas de caça. Não sabiam se as escopetas funcionavam e – segundo a versão deles – nem tampouco haviam averiguado. Nenhum dos dois portava armas de fogo.
Dani, que estava um pouco afastado do local onde começou o tiroteio, lembra ter escutado o primeiro disparo. “Ouvimos um barulho, demos uma volta e olhamos para o outro lado. Aí saímos correnedo pelo pasto, nos escondemos na baixada, ao lado de um riozinho”. Segundos depois, ouviram uma rajada de tiros que lhes pareceu interminável. Houve gritaria, confusão, e todos se puseram a correr. A polícia estava atacando. Correram para os montes sem olhar para trás. Mas estavam certos de que alguns dos seus companheiros estavam mortos, “talvez todos”, murmura Dani. Quem sabe também eles morreriam. Não havia nada a fazer.
Ainda hoje, Dani se lembra vívidamente de um helicóptero que voava tão baixo que parecia que iria aterrissar sobre eles; uma sirene ensurdecedora.
Afinal, houve sim sobreviventes. Alguns passaram a noite escondidos nos montes, como Dani, até as 5 da manhã. Outros, os que tinham celular para se comunicar com algum conhecido, puderam se refugiar em casas perto dali.
Escondiam-se sem saber até quando. Esperando. Temiam que a polícia ainda estivesse por ali, pronta para disparar contra eles. Não sabiam, nem tinham como saber, que neste momento o Ministério Público os acusava de haver perpetrado o massacre. Nem que o tiroteio que acabavam de testemunhar terminaria por derrubar um presidente.
No dia 21 de junho de 2012, Lugo foi denunciado perante o Congresso. Apesar de protestos populares em sua defesa e da intervenção de todos os chanceleres da Unasul, que viajaram a Assunção para tentar conversar com representantes do parlamento e com o vice-presidente, pedindo que impedissem o impeachment, Fernando Lugo foi destituído no dia seguinte.
O promotor Jalil Rachid encabeçou investigação oficial sobre o massacre de Curuguaty. Sua conclusão foi simples: os camponeses armaram uma emboscada para assassinar seis policiais. Dos camponeses sobreviventes – incluindo Rubén Villalba e o irmão de Hector, Alcides Ramirez – 14 permanecem detidos. No início deste ano, após uma longa greve de fome, a justiça permitiu que alguns deles esperassem o julgamento  – ainda sem data marcada para acontecer – em prisão domiciliar.

O REFÚGIO

O status de refugiado se concede a alguém que é forçado a abandonar o seu país de residência porque sua vida ou liberdade correm perigo devido à violência generalizada, conflitos armados ou violações massivas de direitos humanos. A Comissão Nacional para Refugiados do governo argentino (Conare) é encarregada de conceder o refúgio e de apoiar os refugiados para que se integrem no novo país. Entre os deveres do país anfitrião em relação aos refugiados, que constam na lei N° 26.165, está “o respeito aos princípios de não-devolução, incluindo a proibição de negativa de entrada na fronteira, a não discriminação, a não sanção por entrada ilegal, a preservação da unidade da família, a confidencialidade e o tratamento  mais favorável à pessoa humana”. Tais princípios valem “tanto para o refugiado reconhecido como tal, quanto para o solicitante”.
Depois de descerem dos montes, na manhã seguinte ao massacre, Dani e Héctor ficaram trancados nas suas casas durante os quatro meses seguintes. Só saíam quando ficavam sabendo por vizinhos e amigos que haveria uma busca policial, para se esconder em outra casa, até que a polícia fosse embora. Era uma rotina de medo. Não podiam dormir tranquilos, deixaram de trabalhar. Vivam como prisioneiros. Foi pelo rádio ficaram sabendo quantos  companheiros foram mortos, que houve policiais falecidos, que Lugo foi destituído. Também foi assim que souberam que a justiça paraguaia acusara a todos, sem distinção, pelas mortes.
Através de um amigo advogado comprovaram que seus nomes figuravam entre os que tinham mandado de prisão decretado: a qualquer momento poderiam ser presos. A menos que continuassem fugindo.
Héctor, Fredy e Dani pediram refúgio na Argentina, mas a sua solicitação ainda está em trâmite. Em teoria, nenhum dos três pode ser expulso, devolvido ou extraditado para o Paraguai enquanto perdurarem riscos à sua vida, liberdade ou segurança. O governo argentino também tem o dever de conceder uma permissão de trabalho temporário e um Documento Nacional de Identidade (DNI) para que exerçam os seus “direitos civis, sociais e culturais”, segundo as regras da Conare.
Agora, resta-lhes esperar que os dois países – Argentina e Paraguai – decidam seus destinos. E que a justiça paraguaia afirme qual das versões sobre o massacre de Curuguaty prevalecerá.
Na versão oficial, que se tornou um processo judicial instruído pelo promotor Rachid, os camponeses são os acusados e os policiais, testemunhas e vítimas. Nessa versão o provocador da tragédia foi Rubén Villalba, um dos líderes da ocupação e mentor da “emboscada”. A última audiência aconteceu em 12 de setembro. Os advogados dos camponeses fizeram uma queixa formal contra a juíza Rosa Yanine Ríos, a quem acusam de ser “parcial” no seu julgamento. Também pedem que a Justiça determine a quem pertencem as terras reclamadas, já que o título de propriedade ainda não apareceu.  Essa mesma Justiça vem recebendo duras críticas da opinião pública paraguaia e de vários organismos internacionais, como a ONU e a Anistia Internacional, que pedem “uma investigação imparcial e independente”.
A outra versão dos fatos foi levantada pela investigação paralela realizada pela ONG PEICC, de Domingos Laino, que defende os camponeses e pede a anulação da investigação do promotor Jalil Rachid. Entre os fatos levantados está o de que apenas cinco escopetas de caça e um revólver foram encontradas no terreno, o que difícilmente causaria tantas mortes, e pelo menos um fuzil automático foi utilizado no massacre, arma cara e inacessível aos camponses. E destaca a presença de crianças e mulheres no local: os camponeses teriam planejado uma emboscada pondo em risco suas próprias familias?
Enquanto as autoridades dos dois países discutem o que será feito deles, os três jovens foragidos vivem em quartos alugados na periferia de Buenos Aires, lar de uma grande comunidade paraguaia. Trabalham como pedreiros de segunda a sábado, de manhã até amanhecer. O trabalho é informal, já que ainda não receberam seu documento de identificação. Telefonam para suas famílias no Paraguai uma vez por semana. Evitam falar de Curuguaty; preferem se inteirar de nascimentos ou casamentos. Nem Dani nem Héctor têm filhos ou esposa. Por sorte, dizem. Aos fins de semana, às vezes vão a alguma festa na região de Constitución. Têm saudades da família, da tranquilidade do campo, da comida caseira de suas mães, da possibilidade de caminhar pelas ruas de seu bairro. E do calor.
Dani ainda tem pesadelos. De noite, sua cabeça se enche de imagens dos companheiros fugindo. Escuta os gritos das crianças e de suas mães, e os disparos. Ele se vê correndo pelo campo, enquanto outros camponeses caem mortos no caminho; a sirene do helicóptero soa estridente. Depois ele acorda,  em uma comunidade na periferia de Buenos Aires, bem longe de casa.
* Colaborou Natalia Viana, da Pública

OBAMA E SEU RASTO DE SANGUE...


O silencioso golpe militar que se apoderou de Washington

Por John Pilger, do The Guardian - Carta Maior 

Na parede tenho exposta a primeira página do Daily Express de 5 de setembro de 1945 com as seguintes palavras: "Escrevo isto como uma advertência ao mundo". Assim começava o relatório de Wilfred Burchett sobre Hiroshima. Foi a notícia bomba do século.

Com motivo da solitária e perigosa viagem com a qual desafiou as autoridades de ocupação estadunidenses, Burchett foi colocado na picota, sobretudo por parte de seus colegas. Avisou que um ato premeditado de assassinato em massa a uma escala épica acabava de dar o disparo de partida para uma nova era de terror.

Na atualidade, [a advertência de] Wilfred Buirchett está sendo reivindicada pelos fatos quase todos os dias. A criminalidade intrínseca da bomba atômica foi corroborada pelos Arquivos Nacionais dos EUA e pelas ulteriores décadas de militarismo camuflado como democracia. O psicodrama sírio é um exemplo disso. Uma vez mais somos reféns da perspectiva de um terrorismo cuja natureza e história continuam sendo negadas inclusive pelos críticos mais liberais. A grande verdade inominável é que o inimigo mais perigoso da humanidade está do outro lado do Atlântico.

A farsa de John Kerry e as piruetas de Barack Obama são temporais. O acordo de paz russo sobre armas químicas será tratado ao cabo do tempo com o desprezo que todos os militaristas reservam para a diplomacia. Com a al-Qaeda figurando agora entre seus aliados e com os golpistas armados pelos EUA solidamente instalados no Cairo, os EUA pretendem esmagar os últimos Estados independentes do Oriente Próximo: primeiro a Síria, depois o Irã. "Esta operação [na Síria]", disse o ex-ministro de exterior francês Roland Dumas em junho, "vem de muito antes. Foi preparada, pré-concebida e planejada".

Quando o público está "psicologicamente marcado", como descreveu o repórter do Canal 4, Jonathan Rugman, a esmagadora oposição do povo britânico a um ataque contra a Síria, a supressão da verdade se converte em tarefa urgente. Seja ou não verdade que Bashar al-Assad ou os "rebeldes" utilizaram gás nos subúrbios de Damasco, são os EUA, não a Síria, o país do mundo que utiliza essas terríveis armas de forma mais prolífica.

Em 1970 o Senado informou: "Os EUA derramaram no Vietnã uma quantidade de substâncias químicas tóxicas (dioxinas) equivalente a 2,7 quilos por cabeça". Aquela foi a denominada Operação Hades, mais tarde rebatizada mais amavelmente como Operação Ranch Hand, origem do que os médicos vietnamitas denominam "ciclo de catástrofe fetal". Vi gerações inteiras de crianças afetadas por deformações familiares e monstruosas. John Kerry, cujo expediente militar escorre sangue, seguramente que os lembra. Também os vi no Iraque, onde os EUA utilizaram urânio empobrecido e fósforo branco, como o que fizeram os israelenses em Gaza. Para eles não houve as "linhas vermelhas" de Obama, nem o psicodrama de enfrentamento.

O repetitivo e estéril debate sobre se "nós" devemos "tomar medidas" contra ditadores selecionados (ou seja, se devemos aplaudir os EUA e seus acólitos em outra nova matança aérea) forma parte de nosso lavado de cérebro. Richard Falk, professor emérito de Direito Internacional e relator especial da ONU sobre a Palestina, o descreve como "uma máscara legal/moral unidirecional com anseios de superioridade moral e cheia de imagens positivas sobre os valores ocidentais e imagens de inocência ameaçada cujo fim é legitimar uma campanha de violência política sem restrições". Isso "está tão amplamente aceito que é praticamente impossível de questionar".

Se trata da maior mentira, parida por "realistas liberais" da política anglo-estadunidense e por acadêmicos e meios de comunicação auto proclamados gestores da crise mundial mais que como causantes dela. Eliminando o fator humanidade do estudo dos países e congelando seu discurso com uma linguagem a serviço dos desígnios das potências ocidentais, endossam a etiqueta de "falido", "delinquente" ou malvado aos Estados aos que depois infligirão sua "intervenção humanitária".

Um ataque contra a Síria ou Irã ou contra qualquer outro demônio estadunidense se baseará em uma variante de moda, a "Responsabilidade de Proteger", ou R2P, cujo fanático pregoeiro é o ex-ministro de Relações Exteriores australiano Gareth Evans, co-presidente de um "centro mundial" com base em Nova Iorque. Evans e seus grupos de pressão generosamente financiados jogam um papel propagandístico vital instando a "comunidade internacional" a atacar os países sobre os quais "o Conselho de Segurança resiste aprovar alguma proposta ou que recusa abordá-la em um prazo razoável".

O de Evans vem de longe. O personagem já apareceu em meu filme de 1994, Death of a Nation, que revelou a magnitude do genocídio no Timor Leste. O risonho homem de Canberra alça sua taça de champanhe para brindar por seu homólogo indonésio enquanto sobrevoam o Timor Leste em um avião australiano depois de haver firmado um tratado para piratear o petróleo e gás do devastado país em que o tirano Suharto assassinou ou matou de fome um terço da população.

Durante o mandato do "débil" Obama o militarismo cresceu talvez como nunca antes. Ainda que não haja nenhum tanque no gramado da Casa Branca, em Washington se produziu um golpe de Estado militar. Em 2008, enquanto seus devotos liberais enxugavam as lágrimas, Obama aceitou em sua totalidade o Pentágono que lhe legava seu predecessor George Bush, completo com todas suas guerras e crimes de guerra. Enquanto a Constituição vai sendo substituída por um incipiente Estado policial, os mesmos que destruíram o Iraque a base de comoção e pavor, que converteram o Afeganistão em uma pilha de escombros e que reduziram a Líbia a um pesadelo hobbesiano, esses mesmos são os que estão ascendendo na administração estadunidense. Por trás de sua amedalhada fachada, são mais os antigos soldados estadunidenses que estão se suicidando que os que morrem nos campos de batalha. No ano passado 6.500 veteranos tiraram suas vidas. A colocar mais bandeiras.

O historiador Norman Pollack chama isso de "liberal-fascismo": "Em lugar de soldados marchando temos a aparentemente mais inofensiva militarização total da cultura. E em lugar do líder grandiloquente temos um reformista falido que trabalha alegremente no planejamento e execução de assassinatos sem deixar de sorrir um instante". Todas as terças-feiras, o "humanitário" Obama supervisiona pessoalmente uma rede terrorista mundial de aviões não tripulados que reduz a mingau as pessoas, seus resgatadores e seus doentes. Nas zonas de conforto do Ocidente, o primeiro líder negro no país da escravidão ainda se sente bem, como se sua mera existência supusesse um avanço social, independentemente do rasto de sangue que vai deixando. Essa obediência a um símbolo destruiu praticamente o movimento estadunidense contra a guerra. Essa é a particular façanha de Obama.

Na Grã Bretanha as distrações derivadas da falsificação da imagem e da identidade políticas não triunfaram completamente. A agitação já começou, mas as pessoas de consciência deveriam apressar-se. Os juízes de Nuremberg foram sucintos: "Os cidadãos particulares têm a obrigação de violar as leis nacionais para impedir que se perpetrem crimes contra a paz e a humanidade". As pessoas normais da Síria, e muito mais gente, como nossa própria autoestima, não se merecem menos nestes momentos.

(*) Jornalista do The Guardian. Grã Bretanha. Em “Bitácora” do Uruguai.

Tradução: Liborio Júnior

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

VIVA LAS FARC'S ! PÁTRIA LIVRE !

Farc. Somos muito velhos para render-nos


Timoleón Jiménez
Adital

O máximo chefe das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Timoleón Jiménez, conhecido como ‘Timochenko’, se dirige pessoalmente ao presidente Juan Manuel Santos através de uma extensa carta na qual reclama pelas imposições unilaterais do governo colombiano na mesa de paz em Havana e lhe diz que as Farc estão muito velhas para submeter-se.
Tradução: ADITAL
"Apesar de suas manifestações na busca de uma saída política, Santos, alucinado, confia em submeter-nos com grunhidos. Estamos muito velhos para isso. A chave está no consenso, em mudar para bem essa atitude arrogante e mesquinha”, ressalta o chefe das Farc.
'Timochenko' menciona como imposições o Marco Jurídico para a Paz e o projeto de referendo que está em curso no Congresso para que os colombianos se pronunciem sobre eventuais acordos com essa guerrilha em dia eleitoral de 2014, e sustenta que cada coisa que sua delegação diz para o governo em Havana não merece ser discutida.
Afirma que "cada gesto de reconciliação” das Farc é assumido pelo presidente Santos como produto de uma derrota militar.
E agrega: "E pressiona com a história de que o tempo e a paciência dos colombianos se esgotam. Os protestos, as marchas e as recentes paralisações demonstram que isso pode ser certo; porém, não no sentido indicado pelo presidente. O tal Pacto Nacional pelo Agro não passa de outro de seus ‘falsos positivos’. Os problemas, a inconformidade e a rebeldia continuam vivas. Na realidade, o tempo para definir sua candidatura à reeleição diminui; e é evidente seu afã em exibir ao país um acordo de paz. Porém, nem por isso assume uma posição que facilite a concertação. Somos nós que devemos ceder a seus afãs e assinar o quanto antes o que ele quer. Volta a chamar-nos de terroristas; se ufana de ter derramado nosso sangue como ninguém nos últimos cinquenta anos e exibe em cada mão a cabeça de um membro do Secretariado”.
O chefe máximo das Farc conclui sua carta a Santos anunciando um relatório de seus delegados em Havana a ser difundido na Colômbia e no mundo, sobre o que está acontecendo em Havana: "Ante tão grande ofensiva discursiva e midiática contra nós e o que acontece na Mesa, com o exclusivo propósito de que o país e o mundo de fato conheçam o que acontece, decidi autorizar nossos porta vozes em Havana a elaborar um relatório ao povo colombiano. Temos uma grande responsabilidade ante ele e tanta retórica faz mal, Santos”.
Leia a carta na íntegra:
O presidente Santos respondeu calculando cada palavra ao referir-se em Nova York aos oferecimentos de colaboração que lhe fez o presidente Mujica. Apesar de agradecer o oferecimento do território uruguaio como possível sede, o primeiro mandatário colombiano preferiu não adiantar nada sobre diálogos com a guerrilha do Ejército de Liberación Nacional (ELN). Nesse tipo de situação, há que ser bem prudente. As decisões são tomadas de comum acordo, afirmou.
Vale creer que para el Presidente Santos esta última frase debe inspirar también los diálogos con las FARC. Las decisiones, los acuerdos, han de ser el producto del consenso. No puede pretenderse estar sentado en una mesa de conversaciones y que sólo lo que una de las partes sostenga merezca atención. Si como lo predica repetidamente Santos, se conversa es con el enemigo, si la paz consiste en tender puentes entre contrarios, los modelos económico y de democracia, verdaderas causas de la confrontación social y armada, necesariamente deben ser modificados.
En las más recientes intervenciones del Presidente Santos, su discurso apunta a señalar con un grave e irresponsable sesgo, que el conflicto armado colombiano, la guerra, esa que ha dado en llamar mula o vaca muerta atravesada en el camino, es atribuible de manera exclusiva a la insurgencia. El terrorismo de Estado, las ejecuciones extrajudiciales, el paramilitarismo, los desplazamientos y demás horrores, según él, sólo son imputables a nosotros. Los intereses norteamericanos, la oligarquía colombiana, sus fuerzas armadas, sus políticas antipopulares y violentas, su corrupción y sus represiones son por completo ajenos e inocentes.
Si bien es cierto que varias generaciones de colombianos no hemos conocido en la vida un solo día de paz, tampoco puede desconocerse que lo peor de la existencia ha correspondido siempre a los sectores más pobres, la inmensa mayoría, y no precisamente a las familias engominadas que durante más de un siglo han manejado el país para beneficio de sectores minoritarios. Que Santos padre o hijo hayan prestado su servicio militar en la Armada o el Ejército, está muy lejos de equipararlos con los humildes colombianos que se juegan la vida en el campo de batalla. Las odiosas distinciones de clase y los privilegios perversos no desaparecen con frases enternecedoras.
El cerrado régimen bipartidista, la violencia salvaje en que echó sus raíces desde la primera parte del siglo pasado, azuzada por familias como los Santos, según sus propias y espontáneas revelaciones recientes, la brutal redistribución de la tierra que se prolonga hasta los albores de esta centuria, las políticas económicas encaminadas a favorecer siempre a banqueros, empresarios, terratenientes y compañías extranjeras al precio del envilecimiento de la vida de los trabajadores y campesinos, la militarización creciente, la criminalización de la lucha social, el vandalismo policial, la conjunción de corrupción, narcotráfico y paramilitarismo, el exterminio de la Unión Patriótica y lo más granado del movimiento sindical, campesino y popular, la guerra sucia, los crímenes cometidos por las fuerzas armadas en nombre de la contrainsurgencia, el capitalismo salvaje desatado en el país con la implementación de las políticas neoliberales, para la oligarquía gobernante ninguno de esos fenómenos de la vida colombiana guarda relación alguna con el conflicto armado existente en el país. Así que basta nuestra voluntad para poner fin a todo.
Lo que hemos afirmado las FARC desde el comienzo de las aproximaciones con el actual gobierno, es que para poner fin definitivamente al conflicto es necesario remover todas esas causas reales de la confrontación. Tras un largo proceso denominado Encuentro Exploratorio, firmamos con el gobierno nacional un Acuerdo General que todo el mundo conoce. Cuando lo hicimos, las dos partes coincidimos en que el desarrollo de los puntos de la agenda acordada se cumpliría en el espíritu de las distintas consideraciones que integraron su preámbulo. Sin embargo, nuestros delegados siempre se topan con la actitud gubernamental de considerar que el Acuerdo sólo comprende los puntos de la Agenda, a los cuales además insisten en otorgar tal restricción, que sólo lo que ellos llevan a la Mesa merece considerarse.
Cumplidas así las cosas, y ya lo han explicado ampliamente nuestros voceros, el gobierno nacional insiste en sus imposiciones unilaterales. Ya cuenta con su marco legal para la paz, un modelo de justicia transicional diseñado sin contar para nada con nuestra opinión, el cual además el Presidente Santos promociona hasta en las Naciones Unidas, única fórmula que considera válida para los puntos sobre víctimas y participación política. Ya tiene lista su ley de referendo para refrendar los acuerdos finales. Afirma que una vez desmovilizada, la guerrilla deberá cambiar de bando y sumarse a la política estatal de erradicación de cultivos ilícitos, porque así lo tiene él decidido antes de tratar del tema en los foros respectivos y en la Mesa. Así también la responsabilidad por el conflicto deberá ser asumida toda por nosotros.
Y aparte, presiona con el cuento de que el tiempo y la paciencia de los colombianos se agotan. Las protestas, las marchas y los paros recientes demuestran que eso puede ser cierto, pero no en el sentido que indica el Presidente. Su tal Pacto Nacional por el Agro no pasa de ser otro de sus falsos positivos. Los problemas, la inconformidad y la rebeldía siguen vivas. Lo que se acorta en realidad es el tiempo para definir su candidatura a la reelección, y es evidente su afán en exhibir al país un acuerdo de paz. Pero ni siquiera por ello asume una posición que facilite la concertación. Somos nosotros quienes debemos ceder a sus afanes y firmar cuanto antes lo que él quiere. Vuelve a llamarnos terroristas, se ufana de haber derramado nuestra sangre como nadie en los últimos cincuenta años y exhibe en cada mano la cabeza de un miembro del Secretariado.
Así la cosas, cada gesto nuestro de reconciliación significa debilidad. Haber pasado sobre el cadáver del camarada Alfonso Cano, haber aceptado los dos enviados al primer encuentro cuando no eran los que oficialmente nos habían dicho, hasta nuestra sincera voluntad de firmar una paz digna y justa es interpretada como el producto de la derrota militar. Y qué decir de la propuesta de cese bilateral de fuegos. Y de cada una de las propuestas a la Mesa. Todavía a estas alturas, tres años después de fracasar con su Espada de Honor y su Prosperidad Democrática, y pese a sus manifestaciones de encontrar una salida política, Santos, alucinado, confía en doblegarnos con gruñidos. Estamos muy viejos para eso. La clave está en consensuar, en cambiar para bien esa actitud arrogante y mezquina.
Mientras eso pasa, ante tan grande ofensiva discursiva y mediática contra nosotros y lo que sucede en la Mesa, con el exclusivo propósito de que el país y el mundo conozcan en verdad lo que ocurre, he decidido autorizar a nuestros voceros en La Habana la elaboración de un informe al pueblo colombiano. Tenemos una gran responsabilidad ante él, y tanta retórica hace daño, Santos.
25 de septiembre de 2013.

BOLSONARO - ANIMAL, ASNO, ASSASSINO !

Charge do Aroeira

A CYBER MERETRIZ CONTINUA SUA DEGRADAÇÃO

Yoani Sánchez agrada a direita

Por Carlos Fazio, no sítio da Adital:

Com o objetivo de ‘passar dos acordos à ação” e contribuir à construção de "um México próspero para todos”, a Confederação Patronal da República Mexicana convidou duas "especialistas” estrangeiras para seu próximo Encontro Empresarial Acapulco 2013. Trata-se da "superblogueira” cubana Yoani Sánchez e da deputada opositora venezuelana María Corina, partidária do magnicídio de Hugo Chávez e do golpe de Estado em seu país.

Ambas partilharão suas "façanhas” a serviço da contrarrevolução hemisférica na jornada de 25 de outubro próximo no porto de Acapulco, em presença de ex-Primeiro Ministro britânico Gordon Brown, do ex-Presidente mexicano Ernesto Zedillo e do atual inquilino de Los Pinos, Enrique Peña Nieto.

Fulgurante estrela midiática de Washingtonpara seus afãs subversivos e desestabilizadores na Ilha, Yoani Sánchez visitou Puebla (México) em março deste ano como vice-presidenta regional da Sociedade Interamenricana de Imprensa (SIP).

Com sede em Miami, a SIP –cartel patronal a serviço da Agência Central de Inteligência (CIA) desde o início da guerra fria- agrupa aos donos de 1.300 meios impressos privados das Américas e tem sido um instrumento eficaz nas campanhas de desinformação, propaganda suja e terrorismo midiático dos Estados Unidos contra países da área considerados hostis (exemplo: Cuba, Venezuela, Bolívia, Equador).

Caudilha da "liberdade de imprensa” nas redes sociais da Internet, multipremiada pelos "demokratas” do Ocidente, poucos sabem que os textos da blogueira milionária estão publicados em um servidor hospedado na Alemanha, atendido pelos servidores da Companhia Cronos AR Regensburg, sucursal germânica da empresa Strato, que não presta serviços a "usuários comuns”.

Segundo o investigador chileno Ernesto Carmona, o registro do domínio do blog é mantido pela empresa Godaddy, uma das companhias contratantes utilizadas pelo Pentágono na ciberguerra propagandística de nossos dias. Assim, Yoani Sánchez tem acesso preferencial às tecnologias estadunidenses que o bloqueio proíbe para Cuba.

Sumida em sucessivos escândalos públicos devido ao dinheiro que recebe de patrocinadores encobertos, em sua passagem pelo Brasil, em fevereiro último, no marco de uma viagem de 80 dias, Yoani Sánchez foi assinalada como "mercenária a serviço da CIA”.

Em Puebla, México, um mês depois, recebeu o apoio de um reconhecido traficante de pessoas de origem cubano radicado no Distrito Federal: Eduardo Matías López Ferrer, que ostenta o título de presidente da Casa del Balsero e do Migrante Cubano, e da Associação Cívica Cubano-Mexicana, uma ONG fantasma utilizada pela Agência de Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos (Usaid, siglas em inglês), em suas campanhas de propaganda anticubanas.

Promovido pelo El Nuevo Herald de Miami como um "salva vidas voluntário” de cubanos, López Ferrer foi mencionado como parte de uma rede de traficantes de pessoas através do território mexicano (e por via marítima), em trânsito para a "terra prometida” (EUA). Segundo denúncias publicadas na imprensa, a rede de traficantes utiliza passaportes e vistos falsos e, ocasionalmente, obtém, mediante subornos, visas de turista de funcionários corruptos do Instituto Nacional de Migração (INM).

Versões jornalísticas consignam que López Ferrer esteve por trás da visita de Yoani Sánchez para participar no evento da SIP, em Puebla, e de seu posterior encontro com legisladores direitistas no Senado, na Ciudad de México, atividades pelas quais a blogueira recebeu o módico salário de três mil dólares.

López Ferrer está na voragem de um escândalo no México que salpica as fundações alemãs Friedrich Naumann e Konrad Adenauer, bem como a Organización Demócrata Cristiana de América (ODCA, presidida pelo mexicano Jorge Ocejo Moreno, do Partido de Acción Nacional), que colaboram e somam esforços com a Usaid, que desde a missão diplomática em Paseo de la Reforma oficia como a verdadeira maga das operações encobertas contra Cuba e contra os países da ALBA (Aliança Bolivariana para os Povos de Noss América).

Desde que, em março de 2012, a Usaid reconheceu o caráter "secreto” e ilegal de suas operações de espionagem em Cuba sob o suposto de promover a democracia, que inclui o envio clandestino de material eletrônico e software para bombardear com propaganda subversiva os telefones celulares dos cubanos, o Escritório de Auditoria do Governo dos EUA (GAO, sigla em inglês) intensificou a revisão do desempenho dos funcionários da Secção de Interesses em Havana, bem como as atividades dos contratantes e subcontratantes utilizados em missões encobertas com "licenças humanitárias”.

Para a introdução de material eletrônico clandestino na Ilha, a Usaid tem utilizado nos últimos anos intermediários europeus e latino-americanos (incluídos mexicanos), e também "contratantes” de Freedom House e da firma Development Alternatives Inc. (DAI), como Alan Gross, um estadunidense detido e condenado em Cuba a 15 anos de prisão.

Segundo relatório da Chancelaria cubana, de março passado, desde 2008, porém, fundamentalmente, sob o mandato de Barack Obama, o Departamento de Estado e a Usaid concentraram a outorga dos fundos para os programas subversivos contra Cuba para organizações com presença mundial ou na América Latina. O objetivo é evitar a corrupção, já que durante muitos anos os recursos engrossaram as arcas das organizações da máfia cubano-estadunidense de Miami.

Os esforços estão enfocados em "conseguir que os fundos cumpram seu objetivo final”; ou seja, promover a "mudança de regime” em Cuba. E ressalta as ações do governo dos EUA para aperfeiçoar "o desenho encoberto e o mascaramento dos mesmos”.

Em relação ao papel da Secção de Interesses em Havana, o relatório alega que este já não participa na canalização da "assistência” da Usaid a grupos da chamada dissidência interna, por razões de "segurança”.

Revela que outro traço distintivo desses programas subversivos tem sido "a ênfase aos projetos vinculados ao uso de tecnologias das intercomunicações, a criação de blogs e a ampliação das redes sociais via Internet”.

Do anterior, deduz-se a notável visibilidade e projeção internacional alcançada em poucos anos pela blogueira Yoani Sánchez, que, inclusive, ante os controles da GAO ao Departamento de Estado, poderia fazer parte de uma triangulação encoberta para redistribuir recursos e o dinheiro dos prêmios a ONGs anticastristas do exílio e grupos contrarrevolucionários no interior de Cuba.

Com esses antecedentes, e junto com María Corina, a deputada venezuelana fundadora da organização ultradireitista ‘Súmate’, sem dúvida, Yoani Sánchez poderá fazer grandes contribuições aos patriotas mexicanos da Coparmex e ao presidente Enrique Peña Nieto em seus afãs para construir um México próspero.

PERIGOS MARRONS


ADVERTÊNCIA AO MUNDO

O silencioso golpe militar que se apoderou de Washington

Por John Pilger, do The Guardian - Carta Maior 

Na parede tenho exposta a primeira página do Daily Express de 5 de setembro de 1945 com as seguintes palavras: "Escrevo isto como uma advertência ao mundo". Assim começava o relatório de Wilfred Burchett sobre Hiroshima. Foi a notícia bomba do século.

Com motivo da solitária e perigosa viagem com a qual desafiou as autoridades de ocupação estadunidenses, Burchett foi colocado na picota, sobretudo por parte de seus colegas. Avisou que um ato premeditado de assassinato em massa a uma escala épica acabava de dar o disparo de partida para uma nova era de terror.

Na atualidade, [a advertência de] Wilfred Buirchett está sendo reivindicada pelos fatos quase todos os dias. A criminalidade intrínseca da bomba atômica foi corroborada pelos Arquivos Nacionais dos EUA e pelas ulteriores décadas de militarismo camuflado como democracia. O psicodrama sírio é um exemplo disso. Uma vez mais somos reféns da perspectiva de um terrorismo cuja natureza e história continuam sendo negadas inclusive pelos críticos mais liberais. A grande verdade inominável é que o inimigo mais perigoso da humanidade está do outro lado do Atlântico.

A farsa de John Kerry e as piruetas de Barack Obama são temporais. O acordo de paz russo sobre armas químicas será tratado ao cabo do tempo com o desprezo que todos os militaristas reservam para a diplomacia. Com a al-Qaeda figurando agora entre seus aliados e com os golpistas armados pelos EUA solidamente instalados no Cairo, os EUA pretendem esmagar os últimos Estados independentes do Oriente Próximo: primeiro a Síria, depois o Irã. "Esta operação [na Síria]", disse o ex-ministro de exterior francês Roland Dumas em junho, "vem de muito antes. Foi preparada, pré-concebida e planejada".

Quando o público está "psicologicamente marcado", como descreveu o repórter do Canal 4, Jonathan Rugman, a esmagadora oposição do povo britânico a um ataque contra a Síria, a supressão da verdade se converte em tarefa urgente. Seja ou não verdade que Bashar al-Assad ou os "rebeldes" utilizaram gás nos subúrbios de Damasco, são os EUA, não a Síria, o país do mundo que utiliza essas terríveis armas de forma mais prolífica.

Em 1970 o Senado informou: "Os EUA derramaram no Vietnã uma quantidade de substâncias químicas tóxicas (dioxinas) equivalente a 2,7 quilos por cabeça". Aquela foi a denominada Operação Hades, mais tarde rebatizada mais amavelmente como Operação Ranch Hand, origem do que os médicos vietnamitas denominam "ciclo de catástrofe fetal". Vi gerações inteiras de crianças afetadas por deformações familiares e monstruosas. John Kerry, cujo expediente militar escorre sangue, seguramente que os lembra. Também os vi no Iraque, onde os EUA utilizaram urânio empobrecido e fósforo branco, como o que fizeram os israelenses em Gaza. Para eles não houve as "linhas vermelhas" de Obama, nem o psicodrama de enfrentamento.

O repetitivo e estéril debate sobre se "nós" devemos "tomar medidas" contra ditadores selecionados (ou seja, se devemos aplaudir os EUA e seus acólitos em outra nova matança aérea) forma parte de nosso lavado de cérebro. Richard Falk, professor emérito de Direito Internacional e relator especial da ONU sobre a Palestina, o descreve como "uma máscara legal/moral unidirecional com anseios de superioridade moral e cheia de imagens positivas sobre os valores ocidentais e imagens de inocência ameaçada cujo fim é legitimar uma campanha de violência política sem restrições". Isso "está tão amplamente aceito que é praticamente impossível de questionar".

Se trata da maior mentira, parida por "realistas liberais" da política anglo-estadunidense e por acadêmicos e meios de comunicação auto proclamados gestores da crise mundial mais que como causantes dela. Eliminando o fator humanidade do estudo dos países e congelando seu discurso com uma linguagem a serviço dos desígnios das potências ocidentais, endossam a etiqueta de "falido", "delinquente" ou malvado aos Estados aos que depois infligirão sua "intervenção humanitária".

Um ataque contra a Síria ou Irã ou contra qualquer outro demônio estadunidense se baseará em uma variante de moda, a "Responsabilidade de Proteger", ou R2P, cujo fanático pregoeiro é o ex-ministro de Relações Exteriores australiano Gareth Evans, co-presidente de um "centro mundial" com base em Nova Iorque. Evans e seus grupos de pressão generosamente financiados jogam um papel propagandístico vital instando a "comunidade internacional" a atacar os países sobre os quais "o Conselho de Segurança resiste aprovar alguma proposta ou que recusa abordá-la em um prazo razoável".

O de Evans vem de longe. O personagem já apareceu em meu filme de 1994, Death of a Nation, que revelou a magnitude do genocídio no Timor Leste. O risonho homem de Canberra alça sua taça de champanhe para brindar por seu homólogo indonésio enquanto sobrevoam o Timor Leste em um avião australiano depois de haver firmado um tratado para piratear o petróleo e gás do devastado país em que o tirano Suharto assassinou ou matou de fome um terço da população.

Durante o mandato do "débil" Obama o militarismo cresceu talvez como nunca antes. Ainda que não haja nenhum tanque no gramado da Casa Branca, em Washington se produziu um golpe de Estado militar. Em 2008, enquanto seus devotos liberais enxugavam as lágrimas, Obama aceitou em sua totalidade o Pentágono que lhe legava seu predecessor George Bush, completo com todas suas guerras e crimes de guerra. Enquanto a Constituição vai sendo substituída por um incipiente Estado policial, os mesmos que destruíram o Iraque a base de comoção e pavor, que converteram o Afeganistão em uma pilha de escombros e que reduziram a Líbia a um pesadelo hobbesiano, esses mesmos são os que estão ascendendo na administração estadunidense. Por trás de sua amedalhada fachada, são mais os antigos soldados estadunidenses que estão se suicidando que os que morrem nos campos de batalha. No ano passado 6.500 veteranos tiraram suas vidas. A colocar mais bandeiras.

O historiador Norman Pollack chama isso de "liberal-fascismo": "Em lugar de soldados marchando temos a aparentemente mais inofensiva militarização total da cultura. E em lugar do líder grandiloquente temos um reformista falido que trabalha alegremente no planejamento e execução de assassinatos sem deixar de sorrir um instante". Todas as terças-feiras, o "humanitário" Obama supervisiona pessoalmente uma rede terrorista mundial de aviões não tripulados que reduz a mingau as pessoas, seus resgatadores e seus doentes. Nas zonas de conforto do Ocidente, o primeiro líder negro no país da escravidão ainda se sente bem, como se sua mera existência supusesse um avanço social, independentemente do rasto de sangue que vai deixando. Essa obediência a um símbolo destruiu praticamente o movimento estadunidense contra a guerra. Essa é a particular façanha de Obama.

Na Grã Bretanha as distrações derivadas da falsificação da imagem e da identidade políticas não triunfaram completamente. A agitação já começou, mas as pessoas de consciência deveriam apressar-se. Os juízes de Nuremberg foram sucintos: "Os cidadãos particulares têm a obrigação de violar as leis nacionais para impedir que se perpetrem crimes contra a paz e a humanidade". As pessoas normais da Síria, e muito mais gente, como nossa própria autoestima, não se merecem menos nestes momentos.

(*) Jornalista do The Guardian. Grã Bretanha. Em “Bitácora” do Uruguai.

Tradução: Liborio Júnior

terça-feira, 24 de setembro de 2013

HEROICO POVO VIETNAMITA

Lembranças inesquecíveis da heroica resistência do povo vietnamita

por DIALOGOS 
Fidel Castro Ruz
Fidel Castro e Pham Van Dong
Fidel Castro e Pham Van Dong
“Parabéns, presidente Obama, pelo Prêmio Nobel da Paz; agora, por favor, ganhe-o.” Michael Moore 
Há apenas três dias (7/9/2913) nos visitou um alto dirigente do Partido Comunista do Vietnã. Antes de partir me transmitiu a vontade de que eu elaborasse algumas lembranças de minha visita ao território libertado do Vietnã em sua heroica luta contra as tropas ianques no sul desse país.
Na verdade não é muito o tempo de que disponho quando grande parte do mundo se empenha em procurar uma resposta às notícias de que uma guerra, com o emprego de mortíferas armas, está a ponto de estourar em um canto crítico do nosso globalizado planeta.
Contudo, lembrar os antecedentes e os monstruosos crimes cometidos contra os países com menos desenvolvimento econômico e científico, ajudará a todos os povos a lutar por sua própria sobrevivência.
No dia 12 de setembro se completam 40 anos da visita de uma delegação oficial de Cuba ao Vietnã.
Numa Reflexão que escrevi em 14 de fevereiro de 2008, publiquei dados sobre o candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos da América, John McCain, humilhantemente derrotado em sua candidatura por Barack Obama. Este último, pelo menos, podia falar em termos parecidos aos de Martin Luther King, assassinado vilmente pelos racistas brancos.
Obama, inclusive, se propôs imitar a viagem de trem do austero Abraham Lincoln, embora não tivesse sido nunca capaz de pronunciar o discurso de Gettysburg. Michael Moore lhe espetou: “Parabéns, presidente Obama, pelo Prêmio Nobel da Paz; agora, por favor, ganhe-o.”
McCain perdeu a Presidência dos Estados Unidos, mas diligenciou para voltar ao Senado, de onde exerce enormes pressões sobre o governo desse país.
Agora é feliz, movimentando suas forças para que Obama descarregue o maior número de certeiros mísseis com capacidade de bater com precisão as forças vivas das tropas sírias.
Tão mortal é o gás Sarin como as radiações atômicas. Nove países já dispõem de armas nucleares que são muito mais mortíferas do que o gás Sarin. Dados publicados desde 2012 informam que Rússia possui aproximadamente 16 000 ogivas nucleares ativas e os Estados Unidos por volta de 8 000.
A necessidade de fazê-las explodir em questão de minutos sobre os alvos adversários, impõe os procedimentos para o uso das mesmas.
Uma terceira potência, China, a mais sólida economicamente, já dispõe da capacidade para a Destruição Mútua Assegurada com os Estados Unidos.
Israel, por sua vez, supera França e Grã-Bretanha em tecnologia nuclear, mas não admite que seja pronunciada uma palavra sobre os fabulosos fundos que recebe dos Estados Unidos e sua colaboração com este país nesse âmbito. Há poucos dias enviou dois mísseis para testar a capacidade de resposta dos destroieres norte-americanos no Mediterrâneo que apontam contra Síria.
Qual é então o poder de tão pequeno, mas avançado, grupo de países?
Para tirar a enorme energia derivada de um núcleo de hidrogênio é preciso criar um plasma de gás de mais de 200 milhões de graus centígrados, o calor necessário para forçar os átomos de deutério e trítio a se fusionarem e liberar energia, segundo explica uma notícia da BBC, que soe estar bem informada na matéria. Isso já é uma descoberta da ciência, mas quanto será preciso investir para tornar realidade tais objetivos.
Nossa sofrida humanidade espera. Não somos “quatro gatos-pingados”; somamos já mais de sete biliões de seres humanos, a maioria esmagadora crianças, adolescentes e jovens.
Voltando às lembranças de minha visita ao Vietnã, que motivaram estas linhas, não tive o privilégio de conhecer Ho Chi Minh, o lendário criador da República Socialista do Vietnã, o país dos anamitas, o povo do qual tão elogiosamente falou nosso Herói Nacional José Martí no ano 1889 em sua revista infantil “A Idade de Ouro”.
No primeiro dia fiquei alojado na antiga residência do Governador francês no território da Indochina quando visitei esse país irmão em 1973, ao qual cheguei no dia 12 de setembro após o acordo entre os Estados Unidos e o Vietnã. Lá fui alojado por Pham Van Dong, na altura Primeiro Ministro. Aquele poderoso combatente, ao ficar sozinho comigo no velho casarão construído pela metrópole francesa, começou a chorar. Desculpe, me disse, mas penso nos milhões de jovens que morreram nesta luta. Nesse instante percebi em sua plena dimensão quão dura tinha sido aquela contenda. Também se queixava dos enganos que os Estados Unidos da América tinham utilizado contra eles.
Em uma síntese apertada utilizarei as palavras exatas do que escrevi na referida Reflexão de 14 de fevereiro de 2008, logo que tive a possibilidade de fazê-lo:
“As pontes, sem exceção, ao longo do trajeto, visíveis desde o ar entre Hanói e o Sul, estavam, com efeito, destruídas; as aldeias, arrasadas, e todos os dias as granadas das bombas de racemo lançadas com esse fim, explodiam nos campos de arroz onde crianças, mulheres e inclusive idosos, trabalhavam na produção de alimentos.
“Um grande número de crateras se observavam em cada uma das entradas das pontes. Não existiam então as bombas guiadas por laser, muito mais precisas. Tive que insistir para fazer aquele percurso. Os vietnamitas temiam que eu fosse vítima de alguma aventura ianque se conhecessem de minha presença naquela zona. Pham Van Dong me acompanhou o tempo todo.
“Sobrevoamos a província de Nghe-An, onde nasceu Ho Chi Minh. Nessa província e na de Ha Tinh morreram de fome em 1945, o último ano da Segunda Guerra Mundial, dois milhões de vietnamitas. Aterramos em Dong Hoi. Sobre a província onde radica essa cidade destruída lançaram um milhão de bombas. Cruzamos de balsa o Nhat Le. Visitamos um posto de assistência aos feridos de Quang Tri. Vimos numerosos tanques M-48 capturados. Percorremos caminhos de madeira na que um dia foi a Rota Nacional destroçada pelas bombas. Reunimo-nos com jovens soldados vietnamitas que se encheram de glória na batalha de Quang Tri. Serenos, resolutos, curtidos pelo sol e pela guerra, um ligeiro tique reflexo na pálpebra do capitão do batalhão. Não se sabe como conseguiram resistir tantas bombas. Eram dignos de admiração. Nessa mesma tarde de 15 de setembro, regressando por uma rota diferente, pegamos três crianças feridas, duas delas muito graves; uma menina de 14 anos estava em estado de choque com um fragmento de metal no abdómen. As crianças trabalhavam a terra quando uma enxada fez contato casual com a granada. Os médicos cubanos que acompanhavam a delegação deram-lhes uma atenção direta durante horas e salvaram suas vidas. Fui testemunha, senhor McCain, das proezas dos bombardeamentos ao Vietnã do Norte, dos quais você se orgulha.
“Por aqueles dias de setembro, Allende tinha sido derrocado; o Palácio de Governo foi atacado e muitos chilenos torturados e assassinados. O golpe foi promovido e organizado desde Washington.”
Lino Luben Pérez, jornalista da AIN, consignou em um artigo que publicou a 1 de dezembro de 2010, uma frase que pronunciei no dia dois de janeiro de 1966 no comício pelo sétimo aniversário da Revolução: ao Vietnã “estamos dispostos a dar-lhe não só o nosso açúcar, mas nosso sangue, que vale mais do que o açúcar!”.
Noutra parte do referido artigo, o jornalista da AIN escreveu:
“Durante anos, milhares de jovens vietnamitas estudaram em Cuba várias especialidades, incluídos os idiomas espanhol e inglês, ao passo que outro número considerável de cubanos aprendeu lá sua língua.
“Ao porto de Haiphong, no norte bombardeado pelos ianques, aportaram navios cubanos carregados de açúcar, e centenas de técnicos trabalharam durante a guerra nesse território como construtores.
“Outros compatriotas fomentaram aviários para a produção de carne e ovos.”
“Constituiu um acontecimento transcendental o primeiro navio mercante dessa nação que entrou em porto cubano. Hoje, a colaboração econômica estatal ou empresarial e o entendimento político entre os dois partidos e suas relações de amizade se mantêm e multiplicam.”
Peço me desculpem o modesto esforço de escrever estes parágrafos em nome de nossa tradicional amizade com o Vietnã.
Na manhã de hoje, o risco de que o conflito estoure com suas funestas consequências parece ter diminuído graças à inteligente iniciativa russa, que se manteve firme diante da insólita pretensão do governo dos Estados Unidos, ameaçando com lançar um ataque demolidor contra as defesas sírias que podia custar milhares de vidas ao povo desse país e desatar um conflito de consequências imprevisíveis.
O chanceler russo, Serguéi Lavrov, falou em nome do governo desse valente país e talvez contribua a evitar, no imediato, uma catástrofe mundial.
O povo norte-americano, por sua vez, se opõe fortemente a uma aventura política que afetaria não só seu próprio país, mas toda a humanidade.

QUESTÃO SÍRIA


O que não se fala sobre a Síria


Vicenç Navarro
Adital

Aconteça o que acontecer, se inicia uma nova etapa nos EUA em que a população, e muito em particular as classes populares, estão fartas das guerras e intervenções do governo norte-americano para defender o que Martin Luther King chamava o "rol imperial” da Corporate Class, que está perdendo muito rapidamente seu apoio popular. Por Vicenç Navarro
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Para entender o que está acontecendo na Síria temos que entender o que está acontecendo nos EUA, o que não é fácil na Espanha devido à insuficiente e/ou parcial cobertura por parte dos meios de informação espanhóis (com algumas exceções) da realidade daquele país. Hoje os EUA estão vivendo um momento de grandes conflitos cuja resolução marcará o país por muitos anos. Por um lado, estamos vendo a aplicação de algumas políticas de cortes de gasto público sem precedentes, cortes que estão se justificando pela suposta necessidade de reduzir o que se considera um excessivo nível de déficit público. A fim de alcançar a diminuição desse déficit, estão cortando de uma maneira radical serviços do escassamente financiado Estado de Bem-estar estadunidense, afetando especialmente os serviços e transferências públicas às populações mais vulneráveis, tais como o programa Food Stamps (vale alimentos) que os Estados provém em bases discricionais e assistenciais à população pobre que não tem fundos para comprar alimentos e que o próprio governo federal (seu Departamento de Agricultura) define como "food insecure”, que quer dizer, como afirma em linguagem mais acessível o The New York Times, "pessoas que têm fome” ("On the Edge of Poverty; at the Center of a Debate” 05.09.13. p. A3), e que são 49 milhões de cidadãos e residentes estadunidenses que representam nada menos que 16,4% da população dos EUA (ver o relatório Food Insecurity Survey. Department of Agriculture. US Federal Government. 2012).
Por outro lado, o Presidente Obama está pedindo a aprovação do Congresso dos EUA para levar a cabo um ato de intervenção militar contra o governo da Síria, aduzindo que dito governo cometeu um ato (a utilização de armas químicas em um conflito armado) que deveria ser penalizado. Não sancioná-lo implicaria - segundo o Presidente Obama - uma perda de credibilidade, não apenas dos EUA, mas da comunidade internacional, pois tanto o governo dos EUA como a comunidade internacional haviam se comprometido em vários tratados internacionais a não autorizar tais armas nas frentes de batalha. Na recente reunião do G-20, o Presidente Obama afirmou que "gasear gente inocente com armas químicas, inclusive contra crianças, é algo que nós não fazemos e que não devemos permitir” (Financial Times, 7 de setembro de 2013, p. 4)
Que credibilidade têm os argumentos pró-bombardeio?
Tais argumentos aduzidos pela Administração Obama, entretanto, têm escassa credibilidade. Na verdade, o governo federal dos EUA foi um dos governos que utilizou com mais frequência armamento químico (e biológico) nas frentes de batalha. O caso mais notório foi a utilização, por parte das Forças Armadas dos EUA no Vietnã, Laos e Camboja, de 45 milhões de litros do Agente Laranja (uma dioxina altamente tóxica), afetando mais de meio milhão de pessoas (matando-as ou ferindo-as e deformando-as) entre as populações bombardeadas no Vietnã, Camboja e Laos. Ainda hoje, e como sequela daqueles bombardeios, existe um grande número de nascimentos de crianças com enormes deformidades entre as populações daqueles países expostas a tal arma química, que continua no solo de mais de quatro milhões de acres desses territórios.
O governo federal dos EUA utilizou também, além de armas químicas, armas bacteriológicas (também proibidas nos tratados internacionais) contra vários países na América Latina (incluindo Cuba, causa da epidemia de dengue em 1981, que matou 188 pessoas, incluindo 88 crianças). E inclusive, mais recentemente, o caso mais notório de utilização massiva de armas químicas foi o que levou a cabo o governo iraquiano (liderado então por Saddam Hussein) contra o Irã, utilização com pleno conhecimento e apoio do governo federal dos EUA, que apoiava ao ditador iraquiano naquele conflito (ver Jeffrey St. Clair "Germ War: The U.S. Record”, CounterPunch. 03.09.13). E o mesmo governo federal dos EUA tem, entre seus aliados, alguns dos maiores violadores de direitos humanos hoje no mundo, tais como a Arábia Saudita, que tem um enorme arsenal de armas químicas que, segundo várias cadeias de informação, foram fornecidas aos extremistas islâmicos, na oposição ao ditador sírio (ver Eric Draitser "Debunking Obama’s Chemical Weapons Case Against the Syrian Government” CounterPunch Sept.02, 2013), os quais possuem esse tipo de armas como indicou também Carla del Ponte, membro da Comissão Internacional de Investigação das Nações Unidas para investigar casos anteriores de utilização de armas químicas na Síria, que afirmou que existiu a posse e utilização de tais armas no passado pelos rebeldes (ver David Lindorff "While House Document Proving Syria’s Guilt does not pass Small text” CounterPunch, Sep.3, 2013). Na verdade, ditas armas foram utilizadas pelos dois lados do conflito na Síria.
Nem precisa dizer que a utilização de tais armas deve ser denunciada e condenada, sem ser seletivos e discriminatórios em tal denúncia, como é o caso notório de Bernard Henri Levi, o filósofo francês que adquiriu grande notoriedade por seu oportunismo e seletiva denúncia da utilização dessas armas, sem nunca haver feito a denúncia de sua utilização por parte dos estados estadunidense ou europeus, incluindo o estado francês (tal como afirma Diana Johnstone em seu artigo "France’s Philosopher Bombardier: No War for Bernard Henri Levi”, Counter Punch, Sept. 3. 2013).
Por que agora e não antes?
Que tem que penalizar a utilização desse armamento em qualquer parte do mundo e por qualquer estado é um ponto sobre o qual existe bastante acordo internacional. Mas, por que agora e não antes? E por que os EUA e não outros países? E, por que não fazê-lo através de outros meios não militares ou inclusive, em caso de que fossem militares por que o governo federal dos EUA e não outros? Para responder essas perguntas, tem que entender, como disse antes, a situação dos EUA e dos momentos históricos que este país está vivendo, o que raramente se faz nos meios de comunicação. Vejamos os dados.
Hoje os EUA estão em um momento de profunda crise, tendo acentuado ainda mais a deslegitimação do establishment financeiro, econômico, e político daquele país a partir do período de imposição de medidas sumamente impopulares sem nenhum mandato popular. A enorme influência do establishment financeiro e econômico (o que nos EUA se chama Corporate Class) na vida política e midiática do país e o impacto sumamente impopular das políticas públicas realizadas pelas instituições chamadas representativas criaram um repúdio generalizado à esses establishments. Hoje, desde a Seguridade Social (o sistema de pensões públicas) até os serviços públicos do Estado do Bem-estar estão em perigo. Nunca antes o Estado do Bem-estar estadunidense havia estado tão ameaçado como agora (uma situação que também ocorre na União Europeia e que alcança dimensões extremas na Espanha). Os cortes nas áreas sociais são enormes e, tal como indiquei anteriormente, o Congresso acaba de aprovar um corte de 40 bilhões de dólares ao programa Food Stamps, que alimenta quase uma de cada três crianças nos EUA (20 milhões de crianças assistidas). Esses cortes vão acompanhados de intervenções públicas que beneficiam enormemente a Corporate Class e as rendas superiores do país, tendo alcançado níveis de desigualdade sem precedentes desde princípios do século XX, no início da Grande Depressão. Hoje, uma pessoa do decil superior de renda nos EUA vive quinze anos a mais que uma pessoa do decil inferior (na Espanha são dez anos e na média da União Europeia dos Quinze são sete anos).
A Corporate Class e seu complexo militar industrial
Um eixo central da Corporate Class, que é enormemente poderoso (tal como já alertou em seu dia o General Eisenhower, mais tarde Presidente do país), é o complexo militar industrial. A voz mais crítica desse complexo foi Martin Luther King, que o havia denunciado como o grande defensor da Corporate Class dos EUA e que, para realizar sua missão, consumia enormes recursos a custa de empobrecer o escassamente financiado estado de bem-estar do país. Consumiu 20% do orçamento federal (718 bilhões de dólares), dos quais 159 bilhões foram gastos nas guerras do Iraque e Afeganistão (esta cifra não inclui os benefícios sociais dos veteranos das guerras e outros serviços militares, cifra que alcança outros 127 bilhões). O governo federal dos EUA gasta mais em suas Forças Armadas que a soma em gastos militares dos 13 países que lhe seguem depois, por nível de gasto militar. É um investimento enorme, que se deve ao poder da indústria armamentista. Mais de 350 bilhões de dólares foram a contratos por equipamento e manutenção de material militar consumido no Iraque e no Afeganistão (estes dados procedem de Brad Plumer, "America’s staggering Defense Budget in Charts”, The Washingto n Post January 7, 2013). É um gasto público enorme que configura a economia dos EUA e grande parte de suas políticas públicas. Na verdade (segundo os cálculos de Dean Baker e David Rosnick, do Center for Economic and Policy Research de Washington), mais de 26% do déficit público do estado federal se deve ao gasto nas intervenções militares do Afeganistão e Iraque, assim como o pagamento de outras intervenções que estiveram acontecendo a uma frequência de um conflito a cada três anos nos últimos trinta anos.
E esse grande poder deriva de sua função que é a de defender global e mundialmente os interesses primordiais da Corporate Class daquele país. Todo esse gasto público se realiza as custas de um enorme sacrifício do bem-estar das próprias classes populares dos EUA (como denunciou Martin Luther King, tal como indico em meu artigo "Lo que no se dijo sobre Martin Luther King”, Público, 3 de setembro de 2013). Não existe plena consciência fora dos EUA de que as classes populares deste país são as primeiras vítimas de tal "sistema imperial”, tal e como o definiu Martin Luther King. Hoje, ao mesmo tempo em que se estão reduzindo os fundos alimentares para a população pobre, se estão fazendo preparativos militares que custarão mais de 1 bilhão de dólares.
A enorme crise de legitimidade do sistema político estadunidense
O enorme descrédito da Corporate Class, de suas instituições representativas (a maioria de fundos que os políticos gastam em suas campanhas, procedem de membros de tal classe social, situação legalizada pela Corte Suprema dos EUA), acentuado pela grande crise atual, onde o padrão de vida das famílias estadunidenses vem diminuindo nos últimos trinta anos (e muito marcadamente nestes anos de crises), explica a crescente insatisfação da população com as instituições políticas. Já antes de que aparecesse a Síria no horizonte, o Stimson Center publicou, em maio, uma pesquisa na qual se pedia a opinião dos cidadãos sobre sua percepção e desejos sobre o gasto militar. A grande maioria dos cidadãos queria uma redução radical do gasto militar muito mais acentuada que qualquer proposta feita no Congresso ou pela Casa Branca. Na verdade, já em resposta a este enfado generalizado e saturação de guerras, a Administração Obama havia feito propostas (consideradas muito insuficientes pela maioria da população) de baixar tal gasto, havendo-o reduzido nos últimos anos.
O bombardeio da Síria, entretanto, custará, segundo cálculos iniciais, mais de 1 bilhão de dólares (o qual incrementou imediatamente, tal como informou o Boston Herald de 31 Agosto 2013), o valor das ações – que estavam baixando – das empresas produtoras de material militar tais como General Dynamics, Boeing, BAE Systems, Raytheon e muitas outras). Enquanto isso, como indiquei no parágrafo anterior, o próprio governo federal está cortando fundos para alimentar crianças que passam fome.
A chamada à intervenção militar na Síria
O argumento utilizado pela Administração Obama para bombardear a Síria – a penalização ao governo Asaad pelo emprego de armas químicas - carece, como disse antes, de credibilidade, pois tais armas foram utilizadas anteriormente no conflito sírio por ambas as partes, tal como documentou a Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas em sua investigação da situação na Síria assim como em muitos outros conflitos levados a cabo pelos EUA (como no Vietnã), ou por seus aliados, como Israel em 2009, em sua repressão da população palestina de Gaza (tal como denunciou a Anistia Internacional e afirmou Chris Hedges, chefe do escritório do Middle East do The New York Times (ver a entrevista em meu blog www.vnavarro.org)), ou, como afirmei anteriormente, pelos aliados dos EUA, como o então aliado Saddam Hussein em sua luta contra o Irã em 1988. Na verdade, a história dos EUA está cheia de casos de utilização de armas biológicas e químicas, tanto por seu governo como por seus aliados.
Qual é, então, o motivo real para iniciar tal bombardeio da Síria? Há vários motivos, todos eles relacionados com a situação nos EUA. A perda de legitimidade do establishment daquele país é enorme e se encontra em uma situação muito defensiva, encurralada. Sente que tem que fazer algo, tanto no interior como no exterior do país. O Oriente Médio (de enorme importância estratégica para o establishment estadunidense e europeu) está em uma situação vulcânica, na qual os EUA está perdendo o controle. Hoje essa zona do mundo é um vulcão que está explodindo.
Para aquele establishment dos EUA e europeu, Irã é o centro do mal, que quer dizer que pode afetar mais negativamente seus interesses. A aliança Síria-Irã, apoiada pela Rússia, representa uma ameaça à hegemonia dos EUA naquela zona. E ultimamente pareceria que o ditador Asaad, em sua luta contra os rebeldes, poderia prevalecer e ganhar naquele conflito. Daí que se tente agora aproveitar o incidente das armas químicas para atacar e debilitar tal governo. Esse é o objetivo da intervenção: tentar recuperar a hegemonia que o governo federal dos EUA (e da Europa) está perdendo, tanto no exterior como no interior.
E uma das primeiras mobilizações contra essa recuperação do domínio procede precisamente das classes populares dos EUA. Para o Presidente Obama, tal decisão de bombardear a Síria significará um enorme custo político. Como muito bem afirmou aquele que foi Ministro de Trabalho do governo Clinton, Robert Reich (ver Robert Reich "Obama’s Political Capital And the Slippery Stone of Syria”), tal intervenção, que lhe cairia muito bem ao establishment estadunidense para desviar a atenção do país ao exterior, (em um momento de grandes tensões dentro do país), lhe debilitará enormemente, independentemente de que seja ou não aprovada pelo Congresso dos EUA (uma instituição que só goza de 15% de apoio popular, precisamente por perceber-se, por parte da população, estar instrumentalizada pela Corporate America).
É provável que a Câmara Baixa do Congresso (a menos afastada da população) vote contra devido ao enorme enfado que a população tem mostrado à maioria de congressistas em seus distritos. Tem sido precisamente as bases do Partido Democrata (o movimento sindical, o movimento de direitos civis, o movimento feminista e o ecológico progressista) as que vêm se opondo mais a tal bombardeio. E hoje, a mobilização popular contra tal intervenção (que está bombardeando o Congresso com chamadas e mensagens contra a intervenção militar) está generalizada. Mas o establishment estadunidense está mobilizando-se através dos meios de informação para que o Congresso autorize tal intervenção. Hoje, a população recebe constantemente mensagens que a credibilidade do país está em jogo, indicando que o repúdio se lerá como uma negação por parte do povo estadunidense a continuar liderando as forças que representam a democracia e a liberdade, uma mensagem que se repetiu continuamente para defender ditaduras e regimes feudais (e que vão da Arábia Saudita e Qatar à Honduras e antes Haiti) que estiveram oprimindo precisamente a liberdade e a democracia.
Aconteça o que acontecer, se inicia uma nova etapa nos EUA (inclusive em caso de que a Câmara Baixa apoiasse a intervenção), em que a população, e muito em particular as classes populares, estão fartas das guerras e intervenções do governo dos EUA para defender o que Martin Luther King chamava o "rol imperial” da Corporate Class, que está perdendo muito rapidamente seu apoio popular. E esse é o ponto chave que marcará claramente uma mudança importante na história dos EUA (e acho que também do mundo).
[Tradução: Liborio Júnior / Carta Maior
Fonte: Original em Coluna "Pensamiento Crítico” no jornal PÚBLICO, 10 de setembro de 2013].