sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

GOLPES DA CIA - MALDITO IMPÉRIO !

Modelão dos golpes da CIA, da Guerra Fria, de volta à cena

Strategic Culture
Adital

Wayne Madsen, Strategic Culture
A maior quantidade de entusiastas do status quo pode ser encontrada na sede da Agência Central de Inteligência dos EUA [tão secreta que o nome jamais é traduzido], a conhecida CIA, em Langley, Virginia. Com muitas nações em todo o mundo tentando livrar-se das garras políticas, militares e financeiras de Washington, a CIA está voltando a recorrer ao velho manual, para lidar com governo recalcitrantes.
Depois de ter ajudado a fomentar uma rebelião na Ucrânia, contra o governo democraticamente eleito do presidente Viktor Yanukovych, o aparelho de propaganda de Washington – centralizado na organização National Endowment for Democracy (NED), na Agency for International Development (USAID) e no Instituto Sociedade Aberta [Open Society, OSI] de George Soros – está focado na Venezuela.
A Venezuela identificou três funcionários da embaixada dos EUA em Caracas, que estavam em contato com manifestantes da oposição e ajudando a planejar tumultos antigoverno por todo o país. Os três "funcionários consulares” dos EUA – Breann Marie McCusker, Jeffrey Gordon Elsen e Kristopher Lee Clark – foram expulsos do país, pelo governo da Venezuela. Em outubro passado, o país expulsou outros três diplomatas dos EUA –chargés d’affairesKelly Keiderling, David Moo e Elizabeth Hoffman – também por estarem ajudando a promover agitação interna no país. Os seis supostos diplomatas trabalhavam em atividades frequentemente associadas aos agentes da CIA, como "serviço clandestino oficial”.
Exatamente como no caso do embaixador dos EUA em Kiev, Geoffrey Pyatt, e da secretária de Estado assistente para Assuntos Europeus e notória visitante boca-suja Victoria Nuland, que se encontraram com líderes da oposição ucraniana para ajudar a planejar os protestos antigoverno, os diplomatas norte-americanos em Caracas foram acusados de estar trabalhando ao lado do grupo de oposição reunido em torno de Leopoldo Lopez, o agente de interesses de empresas norte-americanas treinado em Harvard. O governo venezuelano descobriu que Lopez, como outro líder da oposição venezuelana, Henrique Capriles Radonski, recebem apoio financeiro clandestino da CIA, que lhes chega através de NED e USAID, para planejar protestos e ações de sabotagem contra o governo eleito da Venezuela.
Já se conhecem os laços que unem o partido Voluntad Popular de López e organizações associadas ao ex-presidente da Colômbia Alvaro Uribe, da direita pró-Israel, com pegadas óbvias da CIA e de narcoterroristas; nesse caso, o dinheiro chega ao partido de Lopez por ONGs colombianas mantidas por George Soros e Uribe, como a Fundación Centro de Pensamiento Primero Colombia [Fundação Centro de Pensamento Primeiro Colômbia] e Fundación Internacionalismo Democratico [Fundação Internacionalismo Democrático].
A embaixada dos EUA em Caracas, como no caso de Kiev e Moscou, sempre serviu como espaço virtual para planejamento de protestos pela oposição financiada pelos EUA na Venezuela. A única coisa que os cabeças da oposição ucraniana Arseniy Yatsenyuk, Vitali Klitschko e Oleh Tyahnybok; da oposição russa Alexei Navalny e Garry Kasparov; e da oposição venezuelana Lopez, Capriles e Maria Corina Machado têm em comum é passe livre para entrar nas embaixadas dos EUA em suas respectivas capitais quando bem entendam, e sair, levando a maior quantidade de dinheiro que consigam transportar.
Traço que une as campanhas de desestabilização organizadas e promovidas pela CIA na Ucrânia e na Venezuela é, nos dois casos, a arregimentação de fascistas locais, para as forças antigoverno. Na Venezuela, apoiadores reacionários de antigos regimes oligárquicos fascistas são aliados espontâneos dos EUA; e na Ucrânia, os fascistas reunidos em torno de Tyahnybok garantem a conexão continuada entre a oposição ucraniana e EUA-Israel.
Um relatório da CIA recentemente tornado público, datado de 4/4/1973, anotava que já durante o tempo da República Socialista Soviética Ucraniana o Partido Comunista recomendava "vigilância estrita sobre o nacionalismo e o sionismo na Ucrânia” – apresentados como ameaças gêmeas já então, na Ucrânia. Como se vê hoje, pouca coisa mudou na natureza e na orientação da oposição ucraniana.
Além de abastecer os cabeças da oposição venezuelana com dólares, os EUA e seus banqueiros nunca cessaram de atacar a economia e a moeda venezuelanas, usando a imprensa-empresa privada para espalhar notícias falsas sobre ‘desabastecimento’ e carência de produtos básicos (itens sempre citados são papel higiênico, sal e açúcar) na Venezuela. Esse é um velho truque da CIA, que sempre o usou contra o governo de Cuba e de outras nações cujos governos opõem-se ao imperialismo norte-americano.
A mesma tática de usar a imprensa-empresa privada para disseminar ‘notícias’ sobre carência de produtos está sendo usada pela CIA contra o governo da primeira-ministra Yingluck Shinawatra apoiada pelos Camisas Vermelhas na Tailândia; lá o que estaria faltando nas prateleiras seria arroz; e a carência estaria acontecendo por que a primeira-ministra insiste em vender arroz à China.
A campanha conduzida pela CIA contra Yingluck resultou em denúncias já formalizadas contra o primeiro-ministro por uma das ONGs da "sociedade civil” típicas do modelo que Soros promove, a Comissão Nacional Contra a Corrupção – criação dileta dos monarquistas Camisas Amarelas e falsos "reformadores” constitucionais, como o octogenário Amorn Chantarasomboon.
Exatamente como a CIA já fizera antes, quando tentou golpe fracassado contra o presidente Hugo Chávez em abril de 2002, a Agência e seus prepostos locais lançaram ataques de propaganda contra a PDVSA – a empresa estatal venezuelana de petróleo – proprietária da CITGO nos EUA. Os veículos de propaganda da CIA estão divulgando o meme de que a PDVSA seria tão corrompida e moribunda, que a Venezuela já estaria sendo forçada a importar gasolina dos EUA. É história absolutamente falsa, mas a imprensa-empresa privada, inclusive os veículos e ‘fontes’ que constituem a rede global de propagandistas mantida por Soros, dedicam-se a repetir incansavelmente sempre a mesma mentira, como se fosse fato.
A imprensa-empresa privada, principalmente The Miami Herald, porta-voz das perversões e fantasias dos oligarcas venezuelanos exilados no sul da Florida, exatamente como faz também com os cubanos de direita e com os sionistas nacionalistas que vivem em comunidades fechadas de leitores, também não se cansa de repetir que a Venezuela está sofrendo massiva onda de crimes, porque o presidente Nicolas Maduro é incapaz de prover segurança aos cidadãos. Esse é outro dos velhos truques da CIA, sempre usado para minar governos estáveis em todo o mundo, Iraque, Paquistão e Afeganistão, por exemplo: oferecer ajuda e meios a terroristas e ao crime organizado locais, para que ataquem a população civil.
A CIA já usou esse mesmo jogo para fazer sabotagem econômica contra o governo socialista do presidente Salvador Allende no Chile. Na Venezuela, a CIA ataca a indústria do petróleo. No Chile, a CIA usou ataques contra a indústria do cobre, para sabotar a base da economia chilena, antes de lançar o sangrento ataque do dia 11/9/1973, quando o presidente Allende foi assassinado, e começou o massacre de seus apoiadores, por esquadrões da morte treinados pelos EUA.
Outros países latino-americanos estão atentos aos ataques clandestinos dos EUA contra a Venezuela. Os EUA suspenderam formalmente a ajuda econômica que davam à Bolívia, depois que o governo de Evo Morales expulsou do país os representantes da USAID, acusados de fomentar a rebelião no país. O presidente do Equador Rafael Correa anunciou formalmente que seu país está-se retirando do Tratado Interamericano de Mútua Assistência – fachada inventada pelo Pentágono para ‘legalizar’ a implantação de bases militares dos EUA em países latino-americanos.
Mas, para a CIA, a difícil situação que os EUA enfrentam na América Latina ainda pode ser revertida. Derrubar o governo da Venezuela, por golpe da direita, é ação que, segundo a Agência, pode conter e fazer reverter as tendências de esquerda em outros países.
Memorando de Inteligência da CIA, datado de 29/12/1975, intitulado "Relações Externas em mutação na América Latina” [orig. Latin America’s Changing Foreign Relations], registra a esperança de que o sangrento golpe contra Allende em 1973 tenha tido resultados benéficos para os EUAI. Para a CIA, o fim do governo de Allende e de seu "Terceiro Mundismo” ajudaria a pôr fim à "demagogia” do presidente Luis Echeverria do México, e às políticas para o petróleo de líderes do Equador e Venezuela na OPEC. A CIA errou, como sempre, em sua avaliação da América Latina.
Não só o México, Equador e Venezuela resistiram à pressão norte-americana (os dois últimos foram punidos com a exclusão do Tratado de 1974 de redução de tarifas, sob a lei de Reforma do Comércio dos EUA), mas o Chile votou na Assembleia Geral da ONU contra os EUA e a favor de uma resolução que definiu o sionismo como racismo.
Dado que pressões sutis pela CIA em meados dos anos 1970s não levaram ao resultado esperado na América Latina, a CIA está agora recorrendo a velhos métodos bem testados, para calar seus opositores na América Latina. Os assassinatos do panamenho Omar Torrijos e de Jaime Roldos presidente do Equador – ambos conhecidos por suas políticas anti-EUA, mostraram ao mundo que os EUA não pensam duas vezes ante nenhum tipo de crime.
Hoje, o presidente Obama já mostrou que nada mudou: Obama autoriza semanalmente os "assassinatos premeditados” – operações clandestinas para eliminar pessoas (também civis) que se oponham à dominação norte-americana.
http://www.strategic-culture.org/news/2014/02/19/cold-war-cia-coup-templates-back-in-business-around-world.html

LIÇÕES DA HISTÓRIA...

O QUE PODE APRENDER O PT COM OS COMUNISTAS ITALIANOS?



Breno Altman

Corria o ano de 1976. O Partido Comunista Italiano alcança 36% dos votos nas eleições parlamentares (quase o dobro do PT em disputas pela Câmara dos Deputados). O secretário-geral do partido, Enrico Berlinguer, anuncia a política de solidariedade nacional. Apesar de não integrar o governo hegemonizado pela Democracia Cristã, passaria a apoia-lo no parlamento. O objetivo era dar estabilidade política ao país, que vivia longa situação de empate entre esquerda e direita, abrindo hipoteticamente caminho junto ao eleitorado mais conservador.

Esta política provoca muita tensão em setores do partido. Não há dissidências expressivas, mas o diálogo com a juventude estudantil e operária, cujo ápice de mobilização tinha ocorrido nos anos anteriores, é bastante afetado. Organizações extra-parlamentares ganham espaço para liderar parcelas da esquerda, em um rumo oposto ao pregado pelos comunistas.

Nesse caldo de cultura – que combina o quadro internacional com a podridão da DC e a guinada do PCI -, emerge a luta armada na Itália, até então circunscrita a ações de propaganda. As Brigadas Vermelhas, fundadas em 1970, conquistam certo apoio e se lançam na chamada “estratégia da tensão”, declarando guerra aberta ao Estado burguês. Sua principal ação: o sequestro e assassinato, em 1978, do ex-primeiro ministro Aldo Moro, um dos chefes máximos da Democracia Cristã.

A direita pressiona por mudanças legais e constitucionais. Aspira por leis de exceção que permitissem a radicalização da repressão não apenas contra as Brigadas e outras organizações combatentes, mas contra o chamado “movimento” – os numerosos grupos sociais que davam suporte, direto ou indireto, à luta armada.

O PCI vive, então, um impasse. Romper com a política de solidariedade nacional, defendendo a Constituição e recompondo sua influência à esquerda. Ou manter seu compromisso com a DC, abraçando as políticas repressivas. Prevalece a segunda hipótese. A Itália passa a ter juízes sem rosto, suspensão de garantias constitucionais, aceitação de culpa por presunção, repressão massiva sem ordem judicial. Com o aval comunista.

Após alguns anos, as Brigadas estavam derrotadas. Quem havia se fortalecido era a direita mais dura, no seio da DC. O PCI tinha perdido influência e vê sua votação decair fortemente. Berlinguer se dá conta do erro cometido desde 1976 e comanda a virada da política no início dos anos 80, voltando à estratégia de confrontação contra as classes dominantes e o conservadorismo.

O partido recupera um pouco de sua força. Com a morte súbita do secretário-geral, em 1984, chega aos 33% dos votos nas eleições européias e é, pela primeira vez, o partido mais votado da Itália. O “efeito Berlinguer”, no entanto, dura pouco. A decadência eleitoral e social se impõe nos anos seguintes. Uma forte corrente revisionista, forjada durante a política de solidariedade nacional, impede que se consume a guinada proposta pelo líder comunista antes de sua morte.

Final dos anos 80. Crise do socialismo. Colapso da União Soviética. A queda de influência se combina com o caos político-ideológico. A ala de direita assume o comando e liquida o PCI, que passa a se chamar Democratas de Esquerda, depois apenas Democratas e finalmente Partido Democrata. Rompe com o marxismo e o socialismo. Vira um trapo político, cuja ascensão eventual na política italiana depende de sua aliança com os antigos democratas-cristãos e seus satélites. Apóia o neoliberalismo, a política norte-americana e as posições mais conservadoras.

Os setores que discordaram dessa revisão ficam isolados e entram em processo de divisão. A esquerda italiana, a mais potente e vigorosa de todo o mundo ocidental, passa a viver sua longa crise terminal.

Obviamente as situações são distintas. Mas não é o caso da esquerda brasileira e do PT aprenderem algumas lições com essa experiência? Não seria útil refletir o que acontece quando um partido de matiz socialista passa a defender os instrumentos de repressão de um Estado que segue sob hegemonia burguesa? Não seria importante pensar quais as consequências quando a esquerda abandona o papel de campeã radical da democracia para ser o partido de uma ordem que não é a sua?


Breno Altman é diretor editorial do site Opera Mundi

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

O QUE HOUVE NA UCRÂNIA ?

O que houve na Ucrânia?

Fascistas, nós?! 
Flávio Aguiar 

Na Ucrânia houve de tudo, menos uma revolução popular.

Tudo começou com uma série de manifestação empilhadas umas sobre as outras: uma juventude ansiosa por se identificar com a União Europeia, uma classe média cansada pelas sucessivas vagas de corrupção dos sucessivos governos, uma insatisfação com o autoritarismo e o fechamento do governo de Viktor Yanukovitch, o desejo de maior ascendência de grupos do oeste do país em detrimento de grupos do leste do país.

A repressão que o governo desencadeou abriu caminho para uma intensificação do descontentamento, açulado pelos partidos de oposição representados no Parlamento e pelo  encorajamento internacional – da União Europeia a políticos norte-americanos, republicanos e democratas.  De todos os mais animado foi o senador republicano John McCain, em dezembro, gritando na praça da Independência (Maidan), foco e espaço das concentrações: “O mundo livre está com vocês! A América está com vocês!” Melhor lembrança da Guerra Fria e do dito “A América para os [norte-]americanos” seriam impossível. Como nos velhos “bons” tempos, o alvo continua sendo a Rússia.

No pano de fundo destas confrontações estão as desigualdades do país. O leste e o sul – junto à Rússia e ao Mar Negro são mais desenvolvidos e industrializados do que o oeste, mais pobre. O leste, de um modo geral, tem seu foco econômico voltado para a vizinha Rússia, de que depende o abastecimento de gás do país, vital para a indústria e para o aquecimento durante o rigoroso inverno. Se a Rússia endurecer a questão do fornecimento de gás, cortando-o ou simplesmente cobrando o preço de mercado, a Ucrânia literalmente congela – em todos os sentidos. Entretanto para o oeste, mais  próximo da União Europeia, a aproximação com esta significaria em tese uma maior autonomia em relação ao governo central e às demais regiões do país, além de mais oportunidades de colher investimentos. Pelo menos em tese.

Há também a questão do histórico repúdio aos russos, maior no oeste, um repúdio cujas últimas e trágicas edições foram uma relação ambígua – para dizer o mínimo – de movimentos nacionalistas ucranianos com o regime nazista da Alemanha, e um conflito sangrento e frequentemente descrito como “inútil” com o regime soviético. No leste há também um fator étnico: o número de habitantes russos é muito grande, o que mexe com os brios dos movimentos nacionalistas. E é bom lembrar que na Europa, ao contrário da América Latina, nacionalismo é sempre coisa de direita.

Se este é o pano de fundo , deve-se levar em conta o que acontece nos bastidores e também no palco da política ucraniana. Nos bastidores pairam as sombras dos grupos econômicos – assim como na Rússia liderados pelos chamados “oligarcas” – que se formaram depois do desmanche da ex-União Soviética, dos processos de privatização de tudo, feitos a toque de caixa, e da independência. Estes grupos de oligarquias é que dão as cartas – o poder do dinheiro – para os que estão no palco, os políticos e seus partidos.

Entretanto na Ucrânia não houve, pelo menos até o momento, um Vladimir Putin que, na Rússia, digamos, “botou a casa em ordem”, oferecendo aos oligarcas a manutenção de suas fortunas recém feitas (sobretudo durante o governo de Boris Yeltsin) desde que não se metessem em política. Enfiando os principais desobedientes na cadeia ou mandando-os para o exílio – confortável, na verdade – Putin e seu neoczarismo disfarçado de república impuseram uma espécie de “pax romana” em seu território. Na Ucrânia não houve este Putin, mas uma guerra de grupos ora antangônicos, ora aliados, pelas benesses dos oligarcas e pelos espaços de poder, o que conduziu todos a uma política onde alianças ocasionais são apenas passos para uma ideal tomada total do poder, no melhor estilo do “para mim e os meus tudo, para os demais os rigores da lei”. Este foi o conflito que se estabeleceu entre o atualmente já ex-presidente  Viktor Yanukovitch e sua maior rival, Yulia Tymoschenko, que já fora primeira-ministra por duas vezes, líder do partido chamado de União de Toda a Ucrânia – Pátria Mãe, diríamos em português, embora em ucraniano seja “Pátria Pai”.

Yanukovitch, chegando à presidência em 2010, ensaiou e pôs em prática uma reforma consitucional para aumentar a concentração de poderes em torno da presidência, alijando os demais partidos – inclusive o do Tymoschenko – até mesmo das suas franjas. E através de denúncias de corrupção e de um julgamento carregado de suspeitas botou Yulia na cadeia. Aqui pode-se ter uma ideia das complicações da política ucraniana. Yanukovitch é visto em geral como próximo da Rússia e Tymoschenko como aliada da União Europeia. Pois o primeiro processo aberto contra ela acusava a ex-primeira ministra de abuso de poder e super-faturamento no contrato de fornecimento de gás para Gazprom, a principal empresa russa do setor e uma das maiores do mundo que, como a Petrobrás, reúne capitais privados mas tem seu controle acionário e de fundos nas mãos do Estado.

Entrementes, o pró-Rússia Yanukovitch se aproximava da União Europeia e aprestava-se a assinar um acordo de livre-comercio com ela. Nesta altura, Moscou acendeu a luz vermelha. Para se entender isto precisamos sair do teatro da política ucraniana e olhar o terreno em volta onde ele está localizado. Três grandes jogadores estão assentados neste terreno, como os bispos de um jogo de xadrez, mais um cavalo que joga com dois deles, contra o terceiro. Os jogadores são a Rússia, a União Europeia e os Estados Unidos, e o cavalo é a OTAN, a aliança militar que teve como principal inimiga a antiga União Soviética e que agora, além de policiar o norte da África  e áreas próximas, continua, nem que seja por força do hábito, a cercar seu adversário  histórico, atraindo para si os ex-satélites deste.

Os interesses dos Estados Unidos e da UE não são coincidentes na região, pois na atual conjuntura interna de Washington não interessa atiçar o confronto – a não ser na retórica – com a Rússia, devido às necessidades de acertos na Síria, no Irã, etc. Já a UE tem interesse em desembarcar seus avatares dentro do teatro ucraniano, ampliando sua área de influência econômica, seu mercado e suas ‘reformas de austeridade’. Outro fator que complica este movimento é o temor histórico dos EUA de que, mesmo com rivalidades marcantes, a proximidade entre Alemanha e Rússia termine por forjar  uma aliança estável  e poderosa que desenvolva um outro núcleo regional de poder. Na base de um movimento destes estaria novamente o gás russo, de que a Alemanha já depende e vai depender mais quando – e se – cumprir a promessa de desativar suas usinas nucleares.

De um modo ou de outro, o fato é que a Rússia colocou um sinal de “Pare!” nos movimentos de Yanukovitch: prometeu 15 bilhões de euros em empréstimos quase a fundo perdido – coisa que a UE, às voltas com suas próprias quebradeiras, não tem condições de oferecer à quebrada Ucrânia – baixou ainda mais o preço do gás e pôs à disposição um acordo de livre-comércio consigo mesma, mais outros países da região, ex-repúblicas, como a Ucrânia, da antiga URSS. Yanukovitch, que já estava com a caneta na mão e embarcando para Bruxelas, tampou aquela e desceu do avião. Junto aos projetos de novos capitalistas e da classe média do oeste ucraniano (onde o desemprego também é grande entre os jovens), que já sentiam o doce odor dos euros ao alcance da mão, este recuo foi a gota d’água.

Voltando ao cenário político, a gota d’água acabou se transformando num mar de sangue. É verdade que as manifestações foram reprimidas duramente pela polícia. Mas rapidamente sua linha de frente e também seu espaço foram ocupados por movimentos de extrema-direita, nacionalistas xenófobos, antirrussos, anti-direitos humanos, anti-imigrantes, antissemitas, anti-etc., tradicionais na Ucrânia. São grupos de combate, armados, que fizeram frente a uma polícia que progressivamente foi se tornando caótica e desorganizada. Estes grupos são ligados, mas não necessariamente subordinados, ao Partido Svoboda, de extrema-direita, que tem representação no Parlamento. Na última semana os confrontos chegaram ao paroxismo.

Na frente de negociação assentaram-se à mesa três ministros de Relações da União Europeia (Alemanha, França e Polônia), Yanukovitch, três partidos de oposição e mais um representante da Rússia. Enquanto isto, na praça em frente, o conflito de agudizou, com armas de fogo de parte a parte, e franco-atiradores que provavelmente eram de ambos os lados, embora a polícia tivesse ainda maior poder de fogo. O resultado foi de centenas de feridos e muitas dezenas de mortos; as cifras destes últimos variavam entre cerca de 50 a mais de 70, com pelo menos 11 policiais. A certa altura o noticiário chegou a informar que 70 policiais tinham sido “sequestrados” pelos “manifestantes”.

Coloquei “manifestantes” agora, logo acima, entre aspas, porque houve um movimento constante por parte da mídia do Ocidente de idealizar o que ocorria na praça principal de Kiev, apresentando os acontecimentos como um confronto desproporcional entre a brutal repressão do governo e os “amantes da liberdade”.

Apesar desta cortina de fumaça, logo começaram a vazar as informações de que estes últimos eram na maioria e na verdadeira verdadeiras gangues neo-fascistas que não aceitavam nenhuma negociação nem nada , a não ser a queda de Yanukovitch e o afastamento da arqui-inimiga Rússia.

Na mesa de negociação chegou-se a um acordo, envolvendo um recuo nas reformas constitucionais promovidas pelo presidente, eleições em dezembro deste ano e a formação de um governo provisório de coalizão. Mas na praça a força policial vinha recuando cada vez mais diante dos “manifestantes”, a tal ponto que estes ampliaram os espaço sob seu controle, chegando inclusive a tomar as entradas do palácio presidencial. Sentindo-se sem condições de segurança, Yanukovitch deixou a capital em direção ao nordeste do país.

Seguiu-se nesta altura um verdadeiro golpe de estado no novo estilo “legalizado” corrente em várias ocasiões neste século XXI (Honduras, Paraguai, Grécia, Itália...): o Parlamento declarou que Yanukovitch “abandonara o cargo” e destituiu-o da presidência, com vários ex-membros de seu partido bandeando-se para o lado da oposição, antecipando as eleições para maio e libertando Tymoschenko, que já declarou-se candidata.

Que acontecerá no futuro? É uma boa pergunta. Antes de conjeturar, um parêntese: e as Forças Armadas da Ucrânia? Trata-se mesmo de um parêntese. Depois da independência em relação à ex-União Soviética, as FFAA abriram mão do arsenal nuclear que estava acantonado em seu território, passando-o à nova Rússia emergente, e diminuíram seu contingente de quase 800 mil para pouco mais de 300 mil homens. Estão entre a cruz e a caldeirinha, realizando manobras tanto com a Rússia quanto com a OTAN, que já se declarou de braços abertos para receber este novo aliado quando ele quiser aderir. O namoro está no ar, e só não se concretizou por causa da vigilância do chá-de-pera Rússia. Até o momento, pelo menos, as FFAA ucranianas parecem estar olhando para o lado – pois nem mesmo a segurança do presidente foram capazes de garantir.

A este caldo complicado junta-se a ameaça do país rachar em dois (pelo menos): a Criméia já manifestou desejos de se separar do restante do país e pedir sua reintegração à Rússia. E no oeste também há manifestações de separatismo e aproximação com a UE, à revelia das outras regiões.

O que vai acontecer vai depender das mensagens que estarão neste momento sendo trocadas entre Moscou, Washington, Bruxelas, Berlim, Paris e em menor grau outras capitais europeias, como Londres e Varsóvia. Qual será o novo arranjo entre os partidos políticos ucranianos? É uma boa pergunta. Tymoschenko vai mesmo recuperar seu antigo espaço na oposição  que liderava, hoje ocupado por Vitali Klitschko, do Partido Democrático Aliança pela Reforma? O Svoboda vai aumentar seu poder de fogo? O que fará Yanukovitch? Os movimentos de trabalhadores, sobretudo no leste, ainda se mantinham a seu favor, embora no momento, com seu enfraquecimento,  isto não tenha significado muito no tabuleiro enxadrístico ucraniano. E o que farão os grupos neofascistas que mantém Kiev sob seu controle?

O que estes farão ainda não se sabe. Mas já se sabe o que estão fazendo. No domingo pela manhã (23), enquanto eu redigia estas notas, corria a notícia – em tom discreto, ao lado da retumbância triunfal dada ao discurso de Yulia Tymoschenko na praça da Independência – de que a Embaixada de Israel na Ucrânia emitira um comunicado pedindo que todos os judeus se abstivessem de sair às ruas de Kiev ou até mesmo deixassem a capital, se pudessem, diante dos ataques contra eles que vem se sucedendo e intensificando nas ruas, com espancamentos, perseguições e outras coisas deste tipo.

Como em velhos mas nada bons tempos, brinca-se com fogo por aqui.

(*) Publicado originalmente no Blog do Velho Mundo, na Rede Brasil Atual.

MÉDICOS DE VERDADE

Revolução cubana nos postos de saúde

Zero Hora 
Itamar Melo, Júlia Otero e Larissa Roso

Pouco depois das 7h, seis mulheres saem de uma casa no centro de Guaíba para trabalhar. Vestem-se com simplicidade e carregam a marmita do almoço. Uma delas segue a pé. As outras ficam na parada de ônibus, com o vale-transporte à mão, rumo a cinco bairros distintos, em viagens de até 40 minutos. A rotina é idêntica à de milhões de trabalhadores, mas tem um aspecto surpreendente. As seis mulheres são médicas.

As seis profissionais do amado e odiado programa Mais Médicos representam um personagem novo, surgido no fim do ano passado em muitos rincões do país: o "doutor" cubano que vive modestamente, faz a faxina da casa e ganha um salário apertado, assim como muitos de seus pacientes no Sistema Único de Saúde (SUS).

O mapa de Cuba no RS

As novidades são sentidas no consultório. Os pacientes costumam se supreender ao entrar na sala de Marlyn Paneca Gómez, 47 anos, na unidade de saúde do centro de Guaíba. Encontram a médica do outro lado da mesa, mas não acham uma cadeira diante do móvel, para sentar. Como outros médicos cubanos, Marlyn gosta de colocar a cadeira do paciente colada à sua.

— A mesa é uma barreira na relação médico-paciente. Explico que preciso estar perto, tocar. Mas os brasileiros não entendem. Não estão acostumados. Vão arrastando a cadeira. Depois de um tempo, ela já está do outro lado da mesa — diz.

Marlyn é um dos 285 cubanos em ação no Estado, aos quais vão se somar mais 138 em março. No Brasil, eles são 5,4 mil, o equivalente a 80% dos estrangeiros ou formados no Exterior que participam do Mais Médicos. Ela fazia um curso preparatório no Espírito Santo, em outubro, quando foi comunicada de que iria para Guaíba:

— Vi (na Internet) que era uma cidade pequena, com um lago lindo. Gostei. Tem muitas coisas bonitas. Já trabalhei na Venezuela e em Honduras, em lugares bem mais complicados, com muita pobreza.

Em 1º de fevereiro, Marlyn e as outras cinco compatriotas foram instaladas na casa do centro de Guaíba, um imóvel mobiliado de 198 metros quadrados. As médicas aprovaram. A casa tem três quartos (todos eles com split), três banheiros (incluindo banheira), uma biblioteca (forrada de enciclopédias), um salão de festas recém-concluído (com churrasqueira), uma cozinha ampla e todos os utensílios e equipamentos necessários (desde louça até freezer e TV). A prefeitura alugou a casa por R$ 5,5 mil e banca água, luz e internet.

— A casa é muito boa. E ainda tem a vantagem de morarmos todas juntas, como uma família — elogia Maritza Cañada Castillo, 41 anos, que já trabalhou no Paquistão, na Bolívia e na Venezuela.

A casa pertence a Carmen Tejada e seu marido, Telmo, que viviam no imóvel até a chegada das cubanas e mantêm uma oficina mecânica na parte da frente do terreno. Para aproveitar a oportunidade de alugar a casa, mudaram-se em caráter provisório para a residência de uma parente. Acabaram virando amigos das médicas.

— São seis pessoas novas na família. Já combinei de levá-las a jantares e festas da paróquia. Também estou organizando a inscrição delas em uma academia. Quando elas vieram conhecer a casa, eu disse o que tinha ao redor: mercado, farmácia. Quando mencionei a academia, ficaram animadas e disseram que queriam — conta Carmen.

Médicas levam marmitas para fazer a refeição no trabalho

A rotina das médicas começa às 6h, quando uma delas levanta mais cedo para preparar o café. O toque cubano no cardápio são as tortillas de ovo. Às 6h30min, as demais saem da cama e vão para a mesa. Todas começam a trabalhar às 8h. Ao meio-dia, pegam a marmita, aquecem a comida no micro-ondas e fazem a refeição no próprio posto, com outros funcionários. O expediente termina às 17h.

Elas se reencontram por volta das 18h. É a hora de contar as experiências do dia, de bater papo, de estudar e de mexer no tablet fornecido pelo governo federal.

— Elas não gostam de TV. São mais ligadas na internet — conta Carmen.

A única que sai todas as noites é Marlyn. Às 19h, ela ganha a rua e caminha por uma hora e 20 minutos pela beira do Guaíba. Perdeu 10 quilos desde a chegada:

— Estou fazendo a preparação cardiovascular para quando começar a academia.

Cada noite, uma das médicas faz o jantar, que será também o almoço, levado na vianda. Nos fins de semana, elas arrumam a casa e passeiam. Costumam pegar o catamarã até o centro de Porto Alegre, onde combinam encontros com cubanos de outras cidades, olham lojas de Guaíba ou arrumam o cabelo em algum salão. Amigos já as levaram à Serra e ao Litoral.

— Elas adoraram Gramado. Acharam lindo. Encantam-se por coisas que para nós são simples, como a facilidade de encontrar produtos de higiene — diz a diretora de saúde de Guaíba, Fabiani Malanga.

A vida social gira em torno de amigos brasileiros, como os donos do hotel onde ficaram antes de alugar a casa. Lá, foram protagonistas da festa de Ano-Novo.

— Tivemos uma noite cubana. Elas trouxeram colegas de Eldorado do Sul e de Porto Alegre, prepararam pratos típicos e colocaram música de Cuba. Dançaram até as 3h. São pessoas animadas — diz Katia Sperotto, 46 anos, proprietária do hotel.

Uma das principais vitrines eleitorais da presidente Dilma Rousseff, o Mais Médicos nasceu, no ano passado, debaixo de ataques de entidades médicas. Para essas agremiações, não faltam profissionais no Brasil. Além disso, o fato de os participantes do programa terem sido liberados de revalidar seus diplomas no país representaria um risco à qualidade do atendimento.

— É um projeto demagógico e eleitoreiro. São profissionais que vêm ocupar espaço dos brasileiros. Eles são oferecidos como um milagre, como se o governo tivesse uma varinha de condão para tirar o atendimento médico de uma cartola. Já temos 400 mil médicos no Brasil e mais 17 mil são formados ao ano — critica Maria Rita de Assis Brasil, vice-presidente do Sindicato Médico (Simers).

Quando ficou claro que os médicos trazidos do Exterior seriam basicamente cubanos, o tom das críticas se elevou e foi reforçado por grupos políticos que viam no Mais Médicos uma forma encontrada pelo governo de fazer populismo eleitoral e financiar a ditadura dos irmãos Castro.

Enquanto os médicos de outras nacionalidades participantes do programa recebem uma bolsa mensal de R$ 10 mil, os cubanos ganham cerca de R$ 1 mil. O grosso do dinheiro vai para o governo de seu país. Os mais exaltados definem o acerto como trabalho escravo. No início do mês, a cubana Ramona Matos Rodríguez virou notícia ao abandonar o programa, com apoio do deputado ruralista Ronaldo Caiado (DEM). Ela disse que vai acionar o governo brasileiro na Justiça do Trabalho.

A atitude de Ramona é quase isolada até o momento. De 89 profissionais que abandonaram o Mais Médicos sem justificativa, só quatro vieram de Cuba — em um universo de mais de 5 mil. As médicas de Guaíba, por exemplo, garantem que a participação no programa é interessante do ponto de vista financeiro. Para começar, dizem, o salário que recebiam em Cuba continua a ser pago a suas famílias. Elas reconhecem que a remuneração de R$ 1 mil por mês é baixa, mas lembram que não é só isso que recebem. Do valor entregue pelo governo brasileiro, outros US$ 600 são depositados em uma conta bancária, que pode ser acessada quando voltarem ao seu país. Para os críticos, trata-se de uma forma de Cuba manter os médicos como reféns, obrigando-os a retornar para ter acesso ao dinheiro. Para os profissionais, acaba sendo um belo pé de meia.

Os benefícios recebidos incluem moradia, transporte e, no caso das cubanas de Guaíba, um auxílio mensal individual de R$ 500 para alimentação — a soma ultrapassa os R$ 3 mil mensais.

— Os preços aqui são altos, mas como existem vários auxílios fica vantajoso. Mas o mais importante é o lado humanitário e o dinheiro que vai para Cuba, o que ajuda na economia e na saúde, que é gratuita — defende Marlene Muñoz Sánchez, 43 anos.

Esse tipo de discurso, sincero ou ensaiado, é característico dos cubanos. Eles se dizem agradecidos por ter podido estudar Medicina gratuitamente em seu país e afirmam que não o fizeram para ganhar dinheiro, e sim para ajudar. Diante da afirmação de que estão sendo explorados e vivendo na pobreza, reagem. Para eles, o estranho não é os médicos terem um padrão de vida simples, mas terem um padrão de vida superior ao das outras pessoas.

— No Brasil a gente nota uma grande distância social dos médicos para os pacientes — diz Diurbys Díaz Utria, 34 anos.

Contato por e-mail e pelo Facebock com familiares

A relação com os médicos brasileiros, aliás, não é tranquila. Os cubanos sentem-se incomodados com os ataques.

— Com os funcionários dos postos, a relação é muito boa, mas com parte dos médicos, não. Alguns nos receberam bem, mas outros não falam conosco nem nos olham — diz Diurbys.

Essa hostilidade, somada à deserção de Ramona, motivou muitos dos cubanos a evitar a imprensa. Dos 30 médicos de Porto Alegre e dos 10 de Canoas, por exemplo, nenhum topou falar com ZH.

— Eles estão fugindo de entrevista de tudo que é jeito. Não topam nada. No início, teve uma exposição muito grande, e eles resolveram se preservar — diz Marcelo Bósio, secretário da Saúde de Canoas.

À dificuldade vivida nos postos de saúde, com os colegas brasileiros, soma-se uma maior, de caráter pessoal: a distância da família. As seis cubanas de Guaíba têm filhos, alguns deles pequenos, que ficaram com parentes. O contato é por Facebook e e-mail. Para chamadas por vídeo, é preciso que o familiar em Cuba vá até um centro de comunicação, o que não custa barato.

— É a parte mais difícil. Mas não tenho tristeza. Toda manhã, quando acordo, abro o e-mail e tem um "bom dia" do meu marido ou dos meus filhos — conta Marlyn.

A saudade é aliviada, dizem as cubanas, pela recepção oferecida por pacientes e amigos brasileiros. Fabiani Malanga, a diretora de saúde da cidade, afirma que é comum a prefeitura receber reclamações sobre médicos locais. É raro alguém elogiar. Mas isso tem acontecido em relação às cubanas. Há alguns dias, Marlyn voltou faceira para casa, com um creme e um livro presenteados por um paciente.

EQUADOR

Partido de Correia vence em nove províncias, mas perde na capital


Adital
As eleições de ontem (23) foram uma disputa intensa e seus resultados importantes para os rumos políticos do Equador. O Aliança País (AP), partido do presidente Rafael Correa, conseguiu um total de nove províncias, três a mais do que nas últimas eleições, no entanto, foi derrotado em locais importantes como a capital Quito, Cuenca e Guayaquil, cidade mais populosa do país.
Quase 12 milhões de votantes entre 18 e 65 anos escolheram 23 prefeitos provinciais (o equivalente a um governador eleito por voto direto, pois dividem tarefas importantes na província com outra autoridade a que chamam de governador e é indicado pelo presidente da república), 221 prefeitos municipais ou de cantões, 1.305 conselheiros provinciais (equivalente a um congresso nacional com deputados provinciais eleitos diretamente e outros indicados pela Assembleia Paroquial) e 4.079 representantes de juntas paroquiais rurais (equivalentes a vereadores que compõem a Assembleia Paroquial). O sistema de organização política do Equador difere da maioria dos países da América Latina, mas é como se a câmara de vereadores fosse também única para todo o país.
Após a apuração de mais de 50% das urnas os resultados começaram a ficar claros. Aliança País ganhou as prefeituras de Tungurahua Pichincha, Napo, Los Ríos, Cañar, Esmeraldas, Guayas, Manabí e Chimborazo. No entanto, a oposição se sobressaiu nas três cidades principais: Quito, Guayaquil e Cuenca.
Em Guayaquil, o atual alcalde Jaime Nebot, da aliança Madera de Guerrero - PSC, foi reeleito, tendo vencido a aliancista Viviana Bonilla, com mais de 57% dos votos. Já em Cuenca o cargo foi ocupado por Marcelo Cabrera Palacios da Aliança Participa com Igualdade 62-82, que retirou do poder o atual prefeito, Paul Granda.
Em Quito, Mauricio Rodas, da coalizão Suma Vive, venceu o candidato governista Augusto Barrera. Esta era a derrota mais temida pelo Governo. Durante a corrida eleitoral, Correia, que se licenciou de seu cargo no Executivo para atuar ativamente na campanha de Barrera, chegou a dizer que o resultado na capital define o rumo de seu projeto, pois uma derrota em Quito poderia constituir a linha de frente da direita, dada a dimensão política desta prefeitura e o peso político de um prefeito na disputa ideológica.
"Entendamos que o que está em jogo não é o serviço à cidade, é a ponta de lança para parar a Revolução Cidadã”, disse. Correa também tem alertou para uma possível desaceleração no processo de integração regional.
A fala do presidente remete à situação que está acontecendo na Venezuela, onde milhares de pessoas estão se mobilizando nas ruas contra o Governo do presidente Nicolás Maduro, sob liderança da direita, encabeçada por Leopoldo Lopéz.
Apesar deste revés, após a divulgação dos resultados preliminares Rafael Correa manifestou, na sede do Aliança País: "Uma coisa é a lógica local, outra a lógica nacional, o Governo Nacional tem um imenso apoio” e acrescentou que "a tendência esquerda e centro-esquerda no país supera toda a direita junta”.
Mauricio Rodas, que ficou em 4° lugar nas eleições presidenciais em fevereiro do ano passado, é visto como um personagem que reúne os requisitos necessários para sustentar uma luta contra a Revolução Cidadã, como é chamado o projeto político e social de Rafael Correa. O político, considerado representante da "nova direita” no Equador, é o fundador de uma ONG que recebe recursos e apoio da Fundação Nacional para a Democracia (NED, na sigla em inglês), parceira da CIA.
As eleições deste domingo foram consideradas um indicador para medir o desgaste sofrido pelo governo equatoriano e servirá para que o líder da Revolução Cidadã comece a planejar a campanha que será orquestrada pela para as eleições presidenciais de 2017, quando se encerram as funções de Rafael Correa. 

NÍVEL INTERMEDIÁRIO DE GOVERNO
Nível de GovernoExecutivoLegislativo
Províncias (23)Regime dependente: Governo nas províncias.
Autoridade: Governador.
Eleição: Designado.

Regime seccional autônomo: Formado pelos Conselhos provinciais, municípios, juntas paroquiais.
Autoridade: Prefeito Provincial.
Eleição: Voto popular, por 4 anos.
Autoridade: Conselhos Provinciais
A metade mais um dos conselheiros são eleitos popularmente, o resto é designado pelos Conselhos Municipais.
Eleição: Voto popular, por 4 anos.
NÍVEL LOCAL DE GOVERNO
Nível de GovernoExecutivoLegislativo
Cantões (215)
Por cada cantão há um município
Autoridade: Alcalde - Municipalidade.
Eleição: Eleito entre os conselheiros, por 4 anos, pode ser reeleito indefinadamente.
Autoridade: Conselhos Municipais.
Eleição: Voto popular, por 4 anos, podem ser reeleitos indefinadamente.
ParóquiasAutoridade: Juntas Paroquiais e Presidente da Junta (remunerado)
Membros (remunerados).
Eleição: Voto popular, por 4 anos
Autoridade: Assembleia Paroquial.
Eleição: Vocais por voto popular (sem remuneração ou subsídios).

Fonte: Revisão Constitucional e legal realizada prlo Programa Colombia do Centro de Estudos Latinoamericanos da Universidade de Georgetown, outubro 2002.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

MÁFIA DE BRANCO

Máfia de branco escarnece do povo brasileiro

Com mais R$ 50,00 se aluga um black bloc
O nome disso é escárnio
O sultanato de jaleco branco trata a saúde como um mercado de camelos; alia-se ao conservadorismo retrógrado e tem na embaixada dos EUA um corredor de fuga.


Algo outrora inescapável  do epíteto de um escárnio contra o povo brasileiro  está em curso nos dias que correm.

O ruído que provoca -- tanto das fileiras do governo, quanto nas de segmentos que se avocam à esquerda dele--  é incompreensivelmente desproporcional a sua gravidade.

Que as sininhos não badalem  e, igualmente, seus carrilhões silenciem, é ilustrativo do fosso existente entre o inflamável alarido anti- Copa bimbalhada nas ruas e a real preocupação com o futuro do país e  a sorte da população.   

A Associação Médica Brasileira, em sintonia com a embaixada dos EUA e aliada à coalizão  demotucana, tendo respaldo e torcida da mídia, opera abertamente para destruir um programa de saúde pública emergencial voltado  às regiões e contingentes mais vulneráveis do país.

Não há resguardo das intenções, nem pudor na propaganda da ação.

A entidade que se proclama representante da corporação médica brasileira acolhe e viabiliza deserções de profissionais cubanos fisgados  pelo redil conservador em diferentes regiões e municípios.

O Estado brasileiro  investirá este ano R$ 1,9 bi em recursos públicos nesse programa operação, para agregar  43 milhões de atendimentos/ano ao SUS a partir de abril, quando o Mais Médicos atingirá seu efetivo pleno, com mais de 13 mil profissionais em ação, sendo seis mil cubanos.

A embaixada dos EUA  no Brasil  --em sintonia com a Associação Médica e lideranças dos partidos conservadores--opera abertamente para que não seja assim.

O  tripé orienta e encaminha pedidos de vistos especiais, a toque de caixa,  para que o maior número de desistentes possa rumar a  Miami, onde os espera a estrutura da ‘Solidariedade Sem Fronteiras’.

A ONG de fachada humanitária  tem como principal negócio –financiado por recursos orçamentários que a bancada cubana assegura no Congresso--   promover e operar deserções em  convênios de saúde firmados entre Havana e 66 países  nesse momento.

São mais de 43 mil  médicos cubanos em ação na América Latina, Ásia e África. Devem atingir  atingir um recorde de 50 mil em dois meses, quando o convênio brasileiro estiver plenamente implantado.

Um aspecto da remuneração desses profissionais deliberadamente pouco divulgado  é que nem todos os convênios internacionais de Havana são pagos.

Na verdade, dos 66 países assistidos nesse momento apenas 26 se enquadram  no que se poderia chamar de prestação de serviços pagos.

Outros  40 países recebem contingentes médicos gratuitamente.

O mesmo ocorre com missões de educação ou esporte.

A ‘exportação’ de serviços rende a Havana, segundo a chancelaria cubana, cerca de US$ 6 bi/ano (três vezes mais que a segunda fonte de divisas do país,  representada pelo turismo).

A exportação de serviços  pagos - principalmente na área de saúde –  financia  as missões solidárias destinadas a países de extrema precariedade econômica e material ou focadas em situações de calamidade devastadora.

É assim desde 1960,  quando Cuba enviou  sua primeira missão de solidariedade ao Chile, vítima de um terremoto.

Eis é a principal razão para a diferença entre o salário efetivamente recebido pelo profissional de uma missão e aquilo que o governo cubano arrecada pelo serviço prestado.

Uma parte do  saldo  financia as missões gratuitas que, repita-se,  são a maioria.

Outra sustenta a Escola Latino-americana de Medicina, que possuía em 2013 cerca de  14 mil alunos estrangeiros,  gratuitamente cursando ou com subsídio quase integral.

Com pouco mais de 11 milhões de habitantes, Cuba investe pesado em pesquisa na área de saúde e formação de médicos:  são quase 83 mil (1/138 habitantes).

O investimento tem duplo objetivo: zelar pela população que tem a menor taxa de mortalidade infantil do mundo, e gerar receita numa economia asfixiada  há 50 anos pelo embargo comercial norte-americano.

Também isso se financia através das missões remuneradas.

A ideia de que a doutora Ramona Rodriguez possa ter  desembarcado no Brasil desinformada dessas particularidades acerca de seu salario, subestima a conhecida determinação de Havana, de ressaltar interna e externamente aquela que é a marca inegável de sua ação internacional: a solidariedade.

A mesma alegação de ignorância tampouco se pode conceder –neste aspecto--  ao colunismo isento, que cuida de  festejar as deserções - por  ora pontuais -  como se fossem o preâmbulo de uma diáspora libertária, em marcha épica rumo a Miami.

A participação  da embaixada norte-americana no jogo de aliciamento e hipocrisia  é ainda mais grave.

Trata-se de uma tentativa de sabotagem de um programa soberano de saúde pública emergencial, cujo desmonte poderá agregar novas vítimas e mais sofrimento num universo de milhões de brasileiros desassistidos.

Se a intrusão é desconcertante, não se pode dizer que surpreenda.

Quando o governo Lula decidiu quebrar a patente de anti-virais , em 2007, a embaixada norte-americana operou para sabotar a medida.

Agiu em contato direto com as múltis do setor farmacêutico, o Departamento de Estado do governo Bush  e ‘amigos’ locais -- não se sabe se os mesmos que hoje cerram fileiras com o duplo interesse de  implodir o ‘Mais Médicos’ e sangrar Havana.

Telegramas  secretos da época, obtidos pela organização  Knowledge Ecology International (KEI),  revelam ameaças de represália enviadas então a Brasília:

“(...) uma licença compulsória pode fazer com que fabricantes de produtos farmacêuticos evitem introduzir novos remédios no mercado e seria mais difícil para o Brasil atrair os investimentos que tanto necessita", relatava um deles sobre o teor de reuniões com autoridades e políticos locais.

Lula oficializaria em maio de 2007 o licenciamento compulsório do anti-retroviral  Efavirenz, usado por 75 mil pacientes de Aids atendidos pelo SUS. Um genérico importado da Índia passou a ser usado ao preço de  US$ 0,45, contra US$ 1,59 cobrado pela  multinacional norte-americanas.  Uma  economia de US$ 30 milhões até 2012.

Volte-se um pouco mais no tempo, até as vésperas do golpe de 64,  e lá estarão, de novo,  os mesmos protagonistas, com idênticos propósitos.

O embaixador dos EUA, Lincoln Gordon, fileiras udenistas e lacerdistas, múltis do setor farmacêutico e sabujos da mídia, a ganir a pauta da estação.

Eram tempos de inflação galopante e dinheiro curto: a saúde corria risco.

O então ministro da Saúde, Souto Maior, lutava para obter uma redução de 50% sobre os preços de 70 medicamentos mais usados pela população.

Laboratórios das multinacionais abriram guerra contra o tabelamento.

Às favas a saúde: primeiro, os interesses das corporações.

Lembra algo do comportamento atual da embaixada que se orienta pelos mesmos valores e da Associação Médica Brasileira que tanto quanto os abraça?

No famoso comício da Central do Brasil, sexta-feira, 13 de março de 1964, João Goulart decretou a expropriação de terras para fins de reforma agrária, encampou refinarias e anunciou a criação de estudos para fabricação estatal de medicamentos no país.

O conjunto era fiel aos preceitos do ‘sanitarismo-desenvolvimentista,’ abraçado  então pelas fileiras progressistas da medicina brasileira.

Médicos como Samuel Pessoa, Mário Magalhães,  Gentile de Melo e Josué de Castro –autor do clássico ‘Geografia da Fome ‘ e primeiro secretário- geral da FAO, que faleceu no exílio , cassado pela ditadura e impedido de retornar ao Brasil mesmo para morrer – eram alguns de seus  expoentes.

Profissionais que hoje seriam olhados com suspeita, enxergavam a luta pela saúde como indissociável da luta pela desenvolvimento econômico e humano do país.

Em setembro de 1963, Jango, com apoio deles,  restringiu a remessa de lucros da indústria farmacêutica. Mister Lincoln Gordon foi à luta:  a USAID retaliou no lombo da pobreza cortando a ajuda no combate à malária – que se destacava como uma das principais doenças tropicais na época.

A ofensiva gringa  apenas fortalecia as convicções dos sanitaristas-desenvolvimentistas.

Embora heterogêneos nas filiações ideológicas, seus  representantes  entendiam que doença e pobreza  caminhavam juntas. Como tal deveriam ser enfrentadas  em ações soberanas, abrangentes e desassombradas, que rompessem a fragmentária  estrutura de uma sociedade retalhado por interesses que não eram os de seu povo. 

Compare-se isso com o sultanato de jaleco branco.

Esse que  hoje trata a saúde como um entreposto de camelos; alia-se ao conservadorismo mais retrógrado  e tem na embaixada dos EUA um corredor de fuga em prontidão obsequiosa.

Bajulado pela mídia, o conjunto quer implodir o ‘Mais Médicos’ e sangrar Havana.  

O nome disso é escárnio. E Brasília deveria dizê-lo  claramente ao embaixador gringo, ao chamá-lo a prestar esclarecimentos sobre ingerência e sabotagem em assuntos internos.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

NÃO AO GOLPISMO !

Não ao golpismo na Venezuela

REUTERS Carlos Garcia Rawlins
Por Adilson Araújo, no sítio da CTB:

Ventos golpistas voltaram a soprar forte na Venezuela ao longo desta semana. Manifestações radicais pela destituição imediata do presidente Nicolás Maduro, estimuladas pelos EUA, resultaram em três pessoas mortas, 66 feridas e 69 presas na última quarta-feira, 12. Os atos foram convocados por uma ala da oposição neoliberal, liderada por Leopoldo López, que teve a prisão decretada pela Justiça.

Por suas características, a iniciativa golpista vem sendo comparada aos acontecimentos de 2002 contra o ex-presidente Hugo Chávez, que chegou a ser sequestrado e deposto no dia 11 de abril, mas retornou ao poder 48 horas depois pelas mãos do povo e das Forças Armadas. Os acontecimentos refletem o desespero da direita, que recentemente amargou nova derrota eleitoral e aproveita os dramas econômicos e sociais do país (inflação e violência) para espalhar o caos e desestabilizar o governo bolivariano.

A estratégia não é nova. Até agora não obteve sucesso na Venezuela, na Bolívia ou no Equador, onde foi testada, mas provocou queda de presidentes e mudanças reacionárias em Honduras e no Paraguai. O pano de fundo desses movimentos protagonizados pela direita neoliberal e pelo imperialismo, que nunca deixou de se intrometer na política interna dos países latino-americanos e caribenhos, é a progressiva mudança do cenário geopolítico da região, que se afasta dos EUA e busca um caminho próprio de desenvolvimento soberano, democrático e pacífico. Não é demais lembrar o protagonismo de Hugo Chávez na luta pela integração.

A última reunião de cúpula da Celac, celebrada recentemente em Havana, deu mais um passo nesta direção e foi também mais uma prova da determinação e do compromisso dos governantes da comunidade de trilhar um novo caminho. A instituição, que reúne 33 países (incluindo Cuba e excluindo EUA e Canadá) definiu a América Latina e o Caribe como uma “zona de paz, desnuclearizada” e aposta seu futuro numa parceria estratégica com a China.

É contra essas mudanças que as forças conservadoras, alinhadas com Washington, voltam suas baterias golpistas. A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) alerta a classe trabalhadora e as forças progressistas para os riscos de retrocesso antidemocrático na Venezuela e em toda Nossa América, ao mesmo tempo em que reitera seu total repúdio aos golpistas e sua ativa solidariedade e apoio à revolução bolivariana em curso na Venezuela, à integração soberana e democrática dos povos latino-americanos e caribenhos, à democracia e ao socialismo.

* Adílson Araújo é presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil)

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

VENEZUELA - GOLPE EM CURSO !

O novo golpe em curso na Venezuela

http://aporrea.org/
Por Luciana Taddeo, no sítioOpera Mundi:

Em um segundo discurso realizado na noite desta quarta-feira (12/02), após as mortes registradas hoje em Caracas, o presidente Nicolás Maduro afirmou que há “um golpe de Estado em desenvolvimento na Venezuela”. O chefe de Estado venezuelano pediu a união do povo e das Forças Armadas do país, além da solidariedade dos países da América Latina e do Caribe.

“Hoje temos o coração ferido, porque por responsabilidade de um grupo de fascistas correu sangue de homens, de jovens venezuelanos. Mas aqui estamos, chamo toda a Venezuela a se unir para repudiar a violência, os fascistas, os que queiram nos impor a intolerância e o ódio”, disse Maduro, após um desfile em comemoração do bicentenário de uma efeméride do processo independentista do país.

O presidente venezuelano mencionou um áudio difundido na noite desta terça (11/02) em um programa da emissora estatal VTV, cujas vozes são atribuídas ao ex-embaixador na Colômbia e no Brasil, Fernando Gerbasi, e ao ex-chefe da Casa Militar de Carlos Andrés Pérez, Iván Carratú Molina. Segundo Maduro, a Promotoria Geral da República emitiu uma ordem de captura contra os dois.

“Como eles sabiam que ia ter mortos hoje na Venezuela?”, questionou o mandatário sobre o áudio, no qual a voz atribuída ao ex-diplomata afirma que lhe informam “que é algo muito similar ao 11 de abril [de 2002]”, quando um golpe tirou o falecido Hugo Chávez do poder por cerca de 48 horas, após mortes em marchas.

“Me deram a mesma recomendação que me deram na outra vez, não fique na primeira fila, se mantenha pelos lados”, diz a voz, afirmando que a informação vem da mesma fonte. Segundo o apresentador do programa, o áudio teria sido mandado por pessoas ligadas ao setores opositores “que já estão cansados da incitação à violência”.

Gerbasi afirmou, por meio de seu perfil no Twitter, que o áudio é falso. "Estou bem. Essa conversa com Ivan Carratu é falsa, nunca falei com ele. Querem criar matriz de opinião".

Maduro se referiu à coletiva de imprensa concedida há pouco por líderes opositores. “Um dos fascistas acaba de declarar que vão pra rua e não vão sair até que derrubem o governo de Nicolás Maduro”, expressou, falando em “insolência”. O presidente disse que haverá justiça pelas três mortes registradas nesta quarta.

Oposição
O dirigente opositor Leopoldo López, foi um dos que escreveu em seu perfil no Twitter que houve ações contra os manifestantes ao fim da jornada e “há feridos”. A maior parte da marcha, no entanto, transcorreu em tranquilidade. Aos cantos de “vai cair, vai cair”, os manifestantes rechaçavam a prisão de estudantes após um protesto com distúrbios no estado venezuelano de Táchira e rechaçavam a administração de Maduro.

Mais tarde, ele culpou diretamente Maduro pelos assassinatos. “Os autores da violência, dos mortos, feridos, são aqueles que estão governando e responsabilizamos Maduro”. Em coletiva de imprensa dada ao lado de outros líderes opositores, López disse: “Poderão prender todos nós, mas essa onda está crescendo. Saiba, senhor Maduro, seguirá crescendo até atingir seu objetivo”.

ULTRA DIREITA PREPARA O GOLPE

Adital
Os venezuelanos se reuniram nesta quarta-feira, 12 de fevereiro, em diferentes locais de Caracas para comemorar os 200 anos da "Batalha da Vitória”, fato histórico que marca a guerra de independência do país. Nesse mesmo dia também é comemorado o Dia da Juventude, em homenagem aos jovens que morreram durante o conflito. No entanto, a celebração virou protesto por parte de venezuelanos acusados de serem partidários da direita e que são contra o governo do presidente Nicolás Maduro.
Os protestos foram violentos e deixaram pelo menos três mortos, além de dezenas de feridos. O presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, informou que o protesto ocasionou a morte de Juancho, um líder revolucionário do movimento "Del 23 de enero”. Segundo a agência Aporrea, Cabello declarou após os protestos: "Facistas, assassinos, e depois falam de dialógo (...). Lamentamos que um fato como esse nos deixe de luto na celebração dos 200 anos (...). O assassino do camarada Juancho não vai ficar impune”.
O parlamentar disse ainda que Leopoldo López e Maria Machado [líderes da extrema direita] seriam os responsáveis pelo ocorrido, o povo da Venezuela não deixará que eles governem o país (...). O peso da lei deve cair sobre os responsáveis, eles só têm um objetivo: tomar todo o país (...). A unidade civil-militar garante a revolução bolivariana, o povo está na rua organizado, sem anarquia".
A agência Yvke informou que o presidente Nicolás Maduro discursou ao chegar ao ponto final da caminhada em comemoração ao Dia da juventude, aproveitando par alertar que "grupos fascistas da direita” teriam sido os responsáveis pelos ataques à residência do governador Vielma [José Gregorio Vielma Mora, governador do Estado de Táchira], e que os mesmos pretendiam "manchar o brilho da comemoração com violência e mortes”. Maduro sustentou suas denúncias contra os supostos grupos fascistas e afirmou que setores políticos que querem expressar suas opiniões podem fazê-lo, porém de forma pacífica e com respeito ao povo.
O alerta de Maduro ocorreu pouco tempo depois de fatos violentos terem eclodido nos estados de Táchira e Merídia, onde, segundo o governo venezuelano, a influência do militante da ultra direita conhecido pela violência em suas ações, Leopoldo Lopéz, é intensa.
Ainda de acordo com as agência Yvke, a procuradora geral Luiza Ortega Diaz anunciou a morte de duas pessoas, além dos danos causados a seis patrulhas da Cicpc e 28 feridos, entre eles vários funcionários públicos.
Os mortos foram identificados como Juan Montoya, membro do movimento 23 del Enero, e o estudante da Universidade Humboldt, Badil Da Acosta. Uma terceira morte ocorreu em Chacon. Segundo relatos os assassinos estavam em uma moto preta sem identificação e desferiram tiros, um dos tiros atingiu José Roberto Rodman Orozc na cabeça.
A Coordenação Latino-Americana de Movimentos Territoriais Urbanos, em nota pública, afirmam que a Venezuela nunca se submeterá à oposição fascista e que prezam pela continuação digna do legado de Hugo Chávez, além de defender a luta a favor do socialismo.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

MEDICINA MERCANTIL

O desespero da medicina mercantil


Pedro Porfírio
Adital

Do Blog do Pedro Porfírio
Sentindo-se ameaçado pelo desempenho dos cubanos no Brasil, CFM oferece empregos "administrativos" para cooptá-los
No mesmo momento em que os funcionários dos hospitais federais entram em greve no Rio de Janeiro contra o controle de suas frequências através do ponto eletrônico, o Conselho de Medicina assume sem qualquer constrangimento uma estranha cruzada para oferecer "vagas administrativas" aos cubanos que desertarem do programa Mais Médicos, que está levando saúde a lugares do país que jamais viram um jaleco.
Isso seria surpreendente se essa entidade que congrega compulsoriamente 400 mil profissionais formados em universidades públicas e faculdades privadas não tivesse deturpado suas funções para acrescentar, ainda que informalmente, mais um "M" em sua sigla, de forma a identificar-se com as congêneres na sustentação da saúde de mercado, independente do médico das universidades oficiais ter custado mais de R$ 1 milhão a todos os contribuintes, visto por quase todos eles como fregueses em potencial.
Essa nova agressão à sociedade do Conselho Federal de Medicina (de Mercado) está em sintonia com o Cuban Medical Profesional Parole, um milionário programa do Departamento de Estado norte-americano de caça e cooptação dos médicos cubanos que trabalham hoje em mais de 60 países, numa missão que teria merecido o Prêmio Nobel da Paz, se os titulares desta badalada comenda também não sofressem influência da máquina mortífera global, ao ponto de distinguirem o presidente Barack Obama no início de um mandato em que triplicou suas tropas no Afeganistão.
Numa sociedade inercial, em que suas proeminências em todos os campos degeneraram por completo, a elite mercantilista que disputa a saúde dos brasileiros com a mesma cobiça e a mesma volúpia dos vendedores de eletrônicos parece em palpos de aranha com a possibilidade da mudança de foco pela rápida alteração dos índices nas distantes cidades atendidas pelos vocacionados médicos formados com outra cabeça, longe dos caça-níqueis do sistema mercantil.
Como é do conhecimento de todo o mundo, inclusive das publicações científicas dos Estados Unidos e da Grã Bretanha, apesar do covarde bloqueio econômico de quase meio século, da pressão perversa que obriga toda uma população a uma vida franciscana, é exatamente naquela ilha que a saúde desponta com índices de vida admiráveis, desde a natalidade à velhice, em razão de que Cuba oferece ao mundo o oposto dessas potências ensandecidas:
"enquanto estas vendem armas para a morte, o pequeno país socialista salva milhares de vida em todos os quadrantes diariamente, isto pela aplicação de um princípio elementar, de que fogem os mercantilistas do CFM (M) como o diabo foge da cruz - a ação preventiva exercida pelo médico de família consciente.”
Essa escandalosa e suspeita posição da cúpula médica brasileira é por si uma agressão ao código de ética profissional, o primeiro e originalmente o único item da norma constante do decreto do general Eurico Dutra que criou a autarquia médica.
Como uma entidade médica pode oferecer serviços administrativos a colegas que têm graduação de alto nível? Das duas uma: ou está acenando com uma licença amiga na prova de revalidação do diploma ou está querendo mesmo desqualificar aqueles que estão indo para onde os nossos "doutores" se recusaram a ir e já estão conquistando os corações e mentes daquela gente sofrida, ao ponto do programa Mais Médicos se converter na peça que vai acabar com o reino do tucanato em São Paulo e dar embasamento e gordura para facilitar a reeleição da presidenta Dilma.
Nesses últimos 4 anos, o assédio canalha do governo norte-americano já custou os tubos para seduzir os missionários da saúde de Cuba. No entanto, apesar do envolvimento de bandidos e mercenários sem escrúpulos, de um total de 83 mil médicos e enfermeiros espalhados principalmente pelas regiões mais pobres de países sem condição de cuidar da saúde de quem não tem dinheiro, nesse período só foi possível subornar 1574 profissionais, ou seja, 1,89% dos cubanos dedicados de corpo e alma à mais sagrada das missões.
O Conselho Federal de Medicina (de Mercado) se animou a se expor nessa empreitada deprimente depois que a Associação Médica Brasileira (farinha do mesmo saco) ofereceu emprego à médica cubana Ramona Rodrigues, de 51 anos, que se deu mal na primeira tentativa de entrar no programa norte-americano de cooptação, porque, na verdade, tudo o que ela queria era ir ao encontro de um namorado em Miami, conforme reportagem da FOLHA DE SÃO PAULO, o que transformou numa grande palhaçada a acolhida do ultra-latifundiário Ronaldo Caiado, que a hospedou com todas as pompas na liderança do moribundo DEM.
Isso tudo não deixa de fazer parte de uma ação orquestrada no desespero total e absoluto de uma oposição tão medíocre e tão comprometida com o que há de pior que, pela exposição de suas vísceras apodrecidas, vai garantir a vitória no primeiro turno da presidenta Dilma Rousseff, que cresce a cada babaquice explícita e recorrente dos seus adversários.
É claro que rola muito dinheiro nesse esforço concentrado para desestabilizar o programa Mais Médicos, indiferente à sorte das populações pobres atendidas,e tanta grana a alguns outros cubanos pode seduzir.
Mas essa oferta aberta de qualquer coisa para comprarem médicos que sabem que estão fazendo o bem em toda a sua latitude, enquanto contribuem para a formação dos futuros colegas e retribuindo em parte o investimento que o sacrificado Estado cubano fez para formá-los, é uma ignomínia que desmascara a verdadeira natureza da oposição a esse programa já vitorioso.
Essa mesma súcia mercantilista está vibrando com a greve dos médicos dos hospitais federais do Rio de Janeiro, que querem conciliar a baixa remuneração com a carga horária, como sempre aconteceu na prática, o que será difícil agora, com a determinação do Tribunal de Contas da União da instalação do ponto eletrônico para uma jornada de 40 horas prevista em contrato.
Por que para a hidra privada da saúde o sucateamento da rede pública é mamão com açúcar. Já passam de 40 milhões os que pagam os planos e estes precisam de mais fregueses para sustentar seus lucros fabulosos, mesmo vendendo serviços tão precários como os do SUS - Sistema Único de Saúde. Mesmo contando com o carinho e afeto das elites mercantilistas que submetem a classe aos seus ditames mais mesquinhos.