quinta-feira, 28 de novembro de 2013

VENEZUELA - A NECESSIDADE DE UMA REVOLUÇÃO NA REVOLUÇÃO.



Marcelo Colussi
Adital

Quando se quer fazer uma mudança social, deve ter claro que modelo utilizará;
porque é impossível administrar o modelo capitalista somente com espírito patriótico
e com honestidade. O modelo capitalista acaba te engolindo. É como o diabo.
Não se pode rezar missa nas cavernas do diabo, porque ele te engole.
Nicolás Maduro, 2005.
Segundo as Contas Nacionais, explicitadas pelo Banco Central da Venezuela (BCV),
o PIB privado (porcentagem da atividade econômica do país em mãos diretas do empresariado)
corresponde a 71% do total (em 2010). Em 1999, o PIB privado era de 68%.
Isto é, apesar das nacionalizações, o PIB continua sendo majoritariamente privado,
e, comparado com países que nada têm a ver com o comunismo –como a Suécia, a França e a Itália,
onde o PIB é majoritariamente público (estatal)-, o Estado venezuelano não tem em suas mãos
(salvo o petróleo) nenhum item significativo da economia.
Manuel Sutherland, 2013.
Eu não sou um libertador. Os libertadores não existem. Os povos libertam-se sozinhos.
Ernesto Che Guevara
Tradução: ADITAL
Anos atrás, em meio à maré neoliberal que se expandia triunfante por todo o mundo, festejando a extinção do campo socialista europeu, apareceu a figura de Hugo Chávez. Com todas as limitações do caso e os reparos que podem ser feitos a partir da esquerda, isso significou uma enorme quota de esperança. Após a longa noite representada pelas ditaduras sangrentas, que cobriram toda a América Latina de luto e os planos do capitalismo selvagem que vieram a seguir, o aparecimento desse militar nacionalista, confusamente anti-imperialista, com um discurso anticorrupção e com o oferecimento de um novo socialismo, prometia muito.


Desde sua chegada ao poder na Venezuela, em 1998, muito água correu debaixo da ponte. Talvez é prematuro fazer um balanço do significado histórico de sua atuação política de uma década e meia: para a direita –vernácula e internacional- foi um demônio, um "castro-comunista”, que voltou a atiçar a por ela anatematizada e pretensamente desaparecida luta de classes. Para a esquerda, sua obra nunca passou de uma prática reformista e populista, alimentada mais do que generosamente por um capitalismo rentista baseado na monoprodução petrolífera, sem perspectiva de transformação revolucionária.
O certo é que o cenário político venezuelano, mas também o latino-americano e, inclusive, o internacional, viram-se tocados pela influência desse carismático líder e pelo sempre impreciso –porém, ao mesmo tempo, promissor e carregado de esperança- "socialismo do século XXI”.
No início de 2013, Hugo Chávez morreu na glória. Sua imagem em boa medida já passou a ser mítica; uma verdadeira lenda. Injuriado pela direita; amado e endeusado por uma ampla maioria do povo venezuelano; visto com simpatia pela esquerda, sempre esperando sua radicalização; não chegou a sofrer o desgaste do exercício do poder. Sua morte, um verdadeiro fenômeno midiático de alcance mundial, o colocou na posição de comandante heroico; e sua ausência agiganta sua figura mais do que sua presença.
Sem dúvida, os quase 15 anos em que esteve à frente desse singular processo por ele denominado Revolução Bolivariana (uma experiência de "socialismo rentista”, cheio de contradições, mas, também, de esperanças) não são fáceis de analisar. Qual o resultado de tudo isso? Luzes e sombras. Não foi uma revolução socialista, pelo menos como, historicamente foi concebida. Claramente, foi um processo que não extrapolou os marcos capitalistas; porém, ao mesmo tempo, gerou uma série de mudanças na distribuição da riqueza nacional que nenhum governo anterior –todos capitalistas- havia conseguido realizar. A situação geral das classes populares venezuelanas –por certo a maioria da população- melhorou substancialmente.
Vendo-se em perspectiva política, o processo tinha limites muito precisos: não se apresentou como uma transformação radical das condições estruturais, da propriedade dos meios de produção; não podia passar de uma proposta capitalista com rosto humano. Em tempos de capitalismo sem piedade, que correm desde a queda do Muro de Berlim, essa proposta tem sabor de avanço social. Visto com objetividade, não passou de reformismo. Porém, as promessas de socialismo, ainda mais em meio à onda neoliberal que varreu o mundo, despertaram esperanças genuínas.
O tempo foi passando, com um Chávez cuja enorme habilidade política podia tentar reunir posições antitéticas com base em seu carisma monumental; porém, a revolução socialista, o preconizado novo "socialismo do século XXI” nunca foi aprofundado. Ou, se tentou fazê-lo (controle operário de algumas fábricas recuperadas; organização popular a partir da base), os marcos do Estado capitalista que continuaram primando não permitiram sua radicalização. Os planos redistributivos implementados pela administração bolivariana significaram um avanço, pois os índices básicos de atenção à população melhoraram. Não restam dúvidas de que a renda petrolífera chegou a muito mais gente do que com qualquer governo anterior. E isso representa um passo importante. Porém, só isso não caracteriza o socialismo.
Não se pode deixar de reconhecer que, após anos de capitalismo selvagem, que trouxe retrocesso às conquistas sociais históricas (as 8 horas de trabalho, a sindicalização, as leis de proteção ao trabalhador, um Estado de Bem Estar para as grandes maiorias), o fato de apresentar-se com talante popular a partir da administração pública já pode ter um sabor "socializador”. É claro que para a direita representou uma moléstia (talvez não representou um perigo) o fato de ter um presidente díscolo que falava novamente de "anti-imperialismo” e de "socialismo”, termos que haviam saído de circulação após a extinção do campo socialista e com o final da Guerra Fria. Com Chávez, houve tentativas de caminhar rumo ao socialismo; houve avanços interessantes. De todo modo, nem a grande propriedade foi tocada e nem a esperança de poder popular efetivo se ,materializaram. Foi mais barulho do que fatos.
Porém, houve mudanças. E muitas! Por isso, a direita protesta tanto. É certo que os últimos recursos do sistema; porém, em um mundo neoliberal pensar que os historicamente excluídos possam ter melhorias já é um sacrilégio para o pensamento conservador. E na Venezuela bolivariana, com Chávez à cabeça, houve melhorias significativas. De fato, o nível geral de pobreza foi reduzido ostensivamente de 70,8%, em 1996, para 20%, em 2012; foi a maior redução na América Latina depois do Equador e uma das maiores no mundo, segundo reconheceu a Cepal. Os avanços sociais da Revolução Bolivariana estão à vista.(...)
O processo bolivariano está empantanado há tempos. É certo que com o desaparecimento do comandante, a continuidade da revolução em curso tornou-se mais difícil. Isso não é culpa do atual mandatário, Nicolás Maduro. Pensar que os problemas sofridos atualmente no rico e esperançador processo aberto anos atrás deve-se à debilidade ou imperícia do novo presidente seria um grande desatino. Ou melhor, seria perigosíssimo! Pois isso reduziria uma revolução socialista a uma administração política, ao carisma de quem está sentado na cadeira presidencial. E a revolução socialista é infinitamente mais do que isso. Ou seja, não é isso! Porém, justamente os problemas atuais sofridos pelo "chavismo” devem levar a uma profunda, necessária, imprescindível autocrítica. Por que "chavismo”? Por que esse culto à personalidade? E o verdadeiro poder popular? Que socialismo está sendo construído?
Com as últimas eleições presidenciais, de abril 2013, após a morte de Hugo Chávez, abriram-se três possíveis cenários: 1) triunfo da direita visceral, com Henrique Capriles Radonski (com um presumível retrocesso de todos os avanços da revolução); 2) triunfo do PSUV, com Maduro à cabeça e aprofundamento da construção do socialismo (ansiado pela esquerda; porém, sem dúvidas, o mais difícil de se materializar); e 3) triunfo do "herdeiro” de Chávez, com crescente controle do processo político pela direita bolivariana, a chamada "boliburguesia” enquistada no aparelho estatal (burocratas novos ricos que falam com uma linguagem chavista, mas com clara ideologia conservadora). Lamentavelmente para a causa popular, o terceiro cenário parece ser o que vai se dando.
Há poucos anos atrás, Nicolás Maduro, sendo presidente da Assembleia Nacional, dizia: "O que nós denominamos ‘parlamentarismo social na rua’ é a liderança social do que agora se vive na Venezuela. É converter a Assembleia Nacional –que é o órgão parlamentar do país- em um verdadeiro poder popular. Ou seja: que não seja simplesmente um Congresso de elites, onde estas decidem pelo povo, onde substituem a vontade popular, pensam e decidem pelo povo; porém, acabam articulando-se com as elites do poder econômico –nacional e internacional- para continuar mantendo o status quoem matéria das leis fundamentais que regem a economia e a vida social da nação. (...) O parlamentarismo de rua é um salto revolucionário em relação ao parlamentarismo tradicional burguês baseado na democracia representativa. (...) O que pode substituir a velha democracia colonial representativa e desgastada dos partidos políticos que existe no continente? A democracia popular, uma democracia revolucionária, participativa e protagônica, onde o povo, o cidadão seja o principal ator”.
É claro que escutar isso abre enormes esperanças para o setor popular, para a possibilidade de uma mudança revolucionária real. O que aconteceu em seguida, o que está acontecendo, que sinistro personagem como José Sánchez Montiel, mais conhecido como Mazuco, assume como deputado nessa mesma Assembleia Nacional ante o olhar atônito do povo, após uma óbvia decisão não consultada e com arranjos por ‘debaixo dos panos’ com a direita recalcitrante? Mazuco, é bom não esquecer, foi ao Estado Zulia –a terra do agora prófugo Manuel Rosales, ultradireitista apoiado pela CIA-, o melhor aluno de Henry López Sisco no crime e no delito, o maior policial assassino que já viveu na Venezuela, que se gabava de ter assassinado pessoalmente mais de 200 revolucionários e lutadores populares nos anos que a Disip foi ativada. Mazuco, não esquecer nunca: um convicto criminoso acusado das piores violações ao sindicato como homicida, ladrão e narcotraficante: como é que agora passa a ser deputado? E o poder popular, companheiros? E o "parlamento de rua”?
E como entender a detenção do nacionalista vasco Asier Guridi Zaloña, que vivia há anos no país, no passado 1º se setembro, pelas mãos do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin), com a colaboração da Polícia espanhola e da Polícia Judicial francesa, que operaram no território nacional com o beneplácito do governo, violando a soberania venezuelana? Era necessária essa jogada política para congraçar-se com alguém? Qual a contribuição de tudo isso à construção do socialismo?
Nessa ordem de ideias que nos devem levar à imprescindível e crucial autocrítica: como entender o enorme perigo eleitoral que se realizará no dia 8 de dezembro, nas futuras eleições municipais, onde muitos pré-candidatos bolivarianos a prefeito decidiram lançar-se por sua conta depois que foram omitidas as eleições internas e os candidatos foram decididos de maneira arbitrária pela hierarquia do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV)? Que socialismo novo está sendo construído? Que modelo de socialismo está em jogo?
Poderíamos dizer que esses são aspectos pontuais, não relevantes, não definidores de um processo mais amplo que é a Revolução Bolivariana em seu conjunto. Porém, não se deve esquecer que na última eleição presidencial, com toda a maquinaria eleitoral do PSUV e a apelação monotemática à figura do extinto comandante, o candidato bolivariano venceu com diferença mínima. É certo que a direita atua, e muito, para conspirar contra o processo em curso. Porém, sem a autocrítica mínima e indispensável, não pode haver socialismo. Como disse Maduro algum tempo atrás, sem "uma democracia popular, uma democracia revolucionária, participativa e protagônica, onde o povo, o cidadão seja o ator principal”, inexoravelmente, não pode haver socialismo. É por isso que aparecem esses três epígrafes abrindo a presente reflexão: não se pode estar com deus e com o diabo ao mesmo tempo. Ou se é socialista ou capitalista. Mesmo que seja lapidar e possa passar por esquemático, é isso mesmo. Capitalismo com rosto humano não deixa de ser, antes de tudo, capitalismo. Se existe um processo real de transformação, não se pode entronizar a figura de ninguém. Não devemos esquecer disso, pois está mais próximo da religião do que do ideal socialista. Sem negar a importância dos grandes condutores da história –e Chávez, sem dúvidas, o foi- é hora de abrir-se a saudáveis autocríticas (cf. a citação do Che Guevara acima).
É verdade que a direita arremete ferozmente contra o processo bolivariano. Porém, cuidado! Essa mesma direita tradicional está fazendo seu grande festim econômico e o governo revolucionário deixa passar. Ou é cúmplice? Como entender o crescimento sem barreiras da especulação parasitária e do capital financeiro?
Não cabem dúvidas que muitas das dificuldades econômicas atuais foram desencadeadas por processos de desestabilização arteiramente concebidos. O desabastecimento crônico de produtos de primeira necessidade (papel higiênico como símbolo infame dessa situação), um dólar paralelo 6 ou 7 vezes mais caro do que o dólar oficial, ou um processo inflacionário que não para, fazem com que o panorama atual se complique. Porém, não se deve deixar de levar em consideração que muitas medidas do governo não contribuem para a consolidação de mudanças revolucionárias: as impopulares desvalorizações (que sempre, no fundamental, são pagas pelos pobres); a sempre onipresente dependência do petróleo (pode-se falar seriamente de um "socialismo petroleiro-rentista”, ou isso é um perigoso desatino?); o escasso desenvolvimento industrial nacional que força a importar cerca de 50% dos alimentos, ao qual se soma, não como males menores, mas, talvez, com maior força na percepção das grandes massas populares, como uma generalizada e pesada corrupção de muitos quadros bolivarianos: são um caminho ao socialismo? Quais são os antídotos usados contra tudo isso?
Decretar um "Natal antecipado” a partir de 1º de novembro (fomento do desenfreado consumismo natalino?; festejo religioso em um governo que deveria ser, no mínimo, laico?), ou o lançamento de um questionável Vice-Ministro da Suprema Felicidade (que serviu para burla por parte da direita); propiciar a entrada de um piloto venezuelano na Fórmula I Internacional, são medidas socialistas? Isso nos faz recordar a proposta, alguns anos atrás, de uma governadora chavista que idealizou uma Missão específica para dotar de implantes de silicone às mulheres de recursos escassos, moção que não prosperou, mas que deixa ver o talante em jogo: vamos rumo ao socialismo com pilotos de corrida, peitos siliconados e festejos de Natal?
Ninguém disse que construir um novo modelo de sociedade fosse fácil. Tomar o poder –se quisermos: tomar a casa presidencial- é extremamente difícil; porém, bem ou mal (mesmo com uma escassa margem de votos), isso aconteceu na Venezuela. Porém, ter a estrutura do Estado capitalista não é, nem de perto, ter o poder. Pois bem, aqui começam os problemas. Mudar uma sociedade, transformar para fazer surgir algo novo é infinitamente mais do que administrar uma casa de governo. Em grande medida, é revolucionar as cabeças, os modos de pensar, as atitudes seculares. "É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito”, disse Einstein, com muita razão.
O que está acontecendo na Venezuela, mesmo com todos os erros e os problemas próprios do processo em marcha, continua sendo uma esperança aberta. Por isso, mesmo os que continuamos apostando nas transformações reais e não baixamos a cabeça, com ou sem Chávez na direção, continuamos vendo nisso uma janela de oportunidades. E, justamente por isso, porque vemos que se esse processo cada vez mais está sequestrado por um pensamento reformista, socialdemocrata e burocrático, é que nos alarmamos.
Felizmente, há setores significativos dentro do aparelho do Estado, dentro do PSUV, entre os cidadãos, na rua, nas comunidades, na militância comprometida, que veem esses perigos. Esse texto, feito por um não venezuelano e de fora do país, talvez fique no esquecimento, sem nenhuma consequência prática real. Porém, não existe pior luta do que aquela que não se trava. É por isso que apoio, chamo e me somo às propostas de aprofundamento real da Revolução Bolivariana. Isso implica em ir frontalmente contra a direita endógena que se apropriou do processo; denunciá-la; isolá-la; devolver a vitalidade perdida à revolução; chamar à mobilização genuína das massas venezuelanas; recuperar a vitalidade transformadora que foi sendo abafada por medidas populistas e reformistas. "Suprema felicidade”, ou "Natal antecipado”, talvez não, por ambíguas, que, talvez, causam o riso ou são questionáveis. Mas, modestamente: poder popular; controle operário e camponês da produção; defesa real da revolução com milícias populares. Essa é a única maneira de manter viva a esperança. O restante tem seus dias contados.

GOLPE EM HONDURAS - FRAUDE !

A revolta contra a fraude em Honduras

Facebook de Xiomara
Por Leonardo Severo, de Honduras

Deposto por um golpe militar patrocinado pelos EUA em 2009, Zelaya enfatizou que “as urnas falaram em defesa de uma mudança profunda” e denunciou que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) age em função dos interesses da oligarquia vende-pátria, representada pelo candidato Juan Orlando Hernández, do Partido (Anti) Nacional.



“O Tribunal não está contabilizando 1.900 atas, cerca de 400 mil votos, de zonas em que na sua grande maioria o Partido Livre ganhou amplamente. Estamos prontos para comparar as atas que temos com as que chegaram do TSE. Que eles demonstrem o contrário, que perdemos. Nunca poderiam fazê-lo”, acrescentou Zelaya, aplaudido de pé.
Segundo Zelaya, a disposição do Partido Livre não é a de “conclamar a sublevação, mas de garantir direitos, que não se negociam”. “Por que o Tribunal aparta 20% das urnas em seu resultado? Basta ter um mínimo de inteligência para explicar”, condenou o ex-presidente, com a militância respondendo em coro: “vamos às ruas!”.
A presidenta eleita, Xiomara Castro, dedicou a vitória aos “homens e mulheres que entregaram sua vida por esta causa, aos jovens que doaram seu sangue pela liberdade da Pátria e de todo o povo hondurenho”. “Os dados que recebemos de todo o país com a contagem das atas eleitorais confirmam que sou a presidenta da Honduras. Não vou decepcionar, cumpriremos da primeira a última palavra empenhada”, agradeceu.
Rechaço à fraude
O candidato do Partido Anti-Corrupção (PAC), Salvador Nasralla, também rechaçou a fraude: “Os resultados estão dramaticamente violentados e não correspondem à realidade”. Nasralla, um apresentador de televisão, asseverou que o partido governista utilizou dois call centers para produzir e escanear atas falsas. Elas seriam enviadas ao centro de apuração, adulterando os resultados. “Tenho todas as provas e já apresentei uma denúncia à fiscalização. Além disso, o partido do governo comprou muitos dos representantes de mesa do meu partido, para que se retirassem do centro de votação e não defendessem nossos votos”, disse.
Reforçando esta denúncia, a TV Globo de Honduras divulgou entrevistas com inúmeros fiscais que comercializaram suas credenciais partidárias para o Partido Nacional. A reflexão é elementar: pela legislação eleitoral as mais de 16 mil urnas necessitariam de, pelo menos 32 mil pessoas de cada partido, entre fiscais e suplentes. Tais agremiações deveriam ter, portanto, pelo menos esses dois votos. Abertas as urnas, os partidos que atuaram como legenda de aluguel, todos juntos, não somaram sequer 1% dos votos. Formados para isolar o Partido Livre, seus “representantes” atuaram para controlar as mesas eleitorais e armar a fraude.
“Graves evidências de fraude”

Foi o que viu a delegação de observadores da Confederação Sindical Internacional (CSI), que apontou a existência de “graves evidências de uma fraude eleitoral”. “Durante todo o dia recebemos denúncias de diversas formas de manipulação e compra de votos, ameaças e outros atos de violência contra os fiscais e os eleitores do Livre”, informou a CSI, ressaltando que “alguns deles foram testemunhados pelos representantes da missão, assim como pelas várias organizações internacionais aqui vindas para observar as eleições”.
Também nesta segunda-feira à tarde, no Comitê de Familiares de Detidos e Desaparecidos de Honduras (Cofadeh), a canadense Laura Carter, dirigente do Industrial Global Union, apontou a existência de “uma série de irregularidades, que podem ter impacto determinante nos números divulgados pelo TSE". Laura informou que na zona de São Miguel, na região metropolitana de Tegucigalpa, que conta com 50 mil votantes, força expressiva de Xiomara, nada menos do que 400 eleitores apareceram como "mortos" - sendo retirados da lista, sem poder votar - e outros mil simplesmente "desapareceram do registro".
Marcelina Samaniego, representante da Internacional dos Trabalhadores da Construção e da Madeira (ICM), denunciou “a sonegação de informações e o não envio das planilhas de votação”. Como na região de San Pedro Sula, Xiomara liderava, esclareceu Marcelina, o jovem que manejava o computador e centralizava o processo lhe disse ter "orientações claras" para atrasar o envio de urnas desfavoráveis. "Nós não podíamos ter acesso e a Força Pública e a Militar estavam ali para respaldar o que eles dissessem", acrescentou. 

Denis Roberto Aguilar Gomez, fiscal do Partido Livre na Escola Tomas Alvarez na mesa 9357, no bairro Nova Esperança, na região metropolitana de Tegucigalpa, foi agredido por 20 fascistas do Partido Nacional. Quando foi denunciar aos policiais militares acabou sendo detido ilegalmente e agredido, por ser de oposição. "Me torturaram dentro da escola", relatou, mostrando as marcas da agressão.
Perseguição e intimidação

Às vésperas das eleições de domingo (24), o governo hondurenho utilizou policiais militares e da migração para perseguir e intimidar observadores internacionais, identificados como simpatizantes de Xiomara. Personalidades como Rigoberta Menchú, prêmio Nobel da Paz, foram impedidas até de entrar no país. Ao mesmo tempo, os golpistas convidaram 23 organizações de extrema direita para acompanhar o pleito.
Na cidade de El Progreso, próxima a San Pedro Sula, um dos principais polos da resistência ao golpe contra Zelaya, cinco soldados da Migração, fortemente armados, entraram no centro de capacitação da Igreja em busca de “salvadorenhos”. Terceira principal cidade do país, El Progreso é o berço de Roberto Micheletti, ditador alçado ao poder em 2009.
Na capital, Tegucigalpa, prefeitos e parlamentares da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN), que governa El Salvador, também foram abordados e constrangidos por policiais a poucos metros do Honduras Maya, hotel em que estamos hospedados.
Nesta segunda, soldados fortemente armados voltaram a cercar o hotel, tentando impedir um protesto pacífico contra a fraude eleitoral, condenada em coro como um novo golpe. “Mídia vendida, conta-nos bem, não somos um, não somos cem”, alertaram os manifestantes, repudiando a manipulação dos grandes conglomerados de comunicação em favor dos golpistas.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

EVANGELIZAR É PRECISO...

A guerra santa na TV brasileira

Bruno Marinoni, noObservatório do Direito à Comunicação:

Nas últimas semanas, uma disputa entre grupos religiosos por espaço na TV aberta tem nos mostrado o capitalismo com as calças na mão. Igreja Universal do Reino de Deus e, sua dissidência, Igreja Mundial do Poder de Deus se engalfinham por espaço na grade de programação das emissoras do grupo Bandeirantes. Quem levou melhor foi o bispo Edir Macedo, que desbancou na segunda semana de novembro o apóstolo Valdemiro Santiago na Band e na Rede 21 (do mesmo grupo), o que fez com que este fosse buscar refúgio na RedeTV!.

Embaladas por cânticos e sermões, as cifras em jogo giram em torno das centenas de milhões de reais. Trabalhadores são obrigados a cumprir jornadas extenuantes (fala-se de quinze horas) na produção de dezenas de horas diárias de programação. Os grupos concorrentes desbancam os mais fracos e concentram dinheiro, programação e fiéis. Tudo isso se utilizando de uma prática no mínimo questionável de arrendar tempo de veiculação em concessões públicas de televisão.

Com uma dívida de R$ 21 milhões e inadimplente, a Mundial foi preterida, em nome de uma melhor oferta da Universal. Agora ela quer uma indenização de R$ 200 milhões. Especula-se que o grupo Bandeirantes fature até R$ 150 milhões na venda de espaço para cultos eletrônicos.

Com a concentração de espaço por meio do poder econômico, o oligopólio evangélico vai crescendo avassaladoramente sobre a TV aberta. O gênero religioso é hoje o que mais ocupa espaço na televisão. Em 2012, deteve 13,55% do tempo de programação. Em alguns canais, o problema é mais grave, como na Bandeirantes (17%), CNT (37%), Record (23%), Rede TV (38%) e Gazeta (15%).

Como o capitalismo é um sistema misericordioso, é provável que a Mundial volte à Band em janeiro, para substituir o Claquete, um programa de menor retorno financeiro.

OS VIRA-LATAS EM TEERÃ

Os vira-latas em Teerã

AFP / Wikipedia / RT
Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:

O caráter colonizado de grande parte de nossos observadores diplomáticos teve poucos momentos tão vergonhosos como em maio de 2010. Naquele momento, Brasil, Turquia e Irã assinaram um acordo nuclear que, em seus traços essenciais, era um rascunho bem feito do acerto fechado ontem, em Genebra, com apoio de Estados Unidos, China, Reino Unido, França e Alemanha.

Após três anos e seis meses de tensão e novas ameaças de confronto, o óbvio ficou um pouco mais ululante.

Desmentindo o discurso imperial que em 2010 tentava apresentar uma intervenção militar como inevitável diante da “intransigência” iraniana para defender seu programa nuclear, o novo acordo confirma que era possível avançar numa solução pacífica, respeitando a vontade soberana daquele país. Apesar disso, quem não sofreu uma perda seletiva de memoria irá lembrar-se do que ocorreu há três anos.

Com apoio inicial da Casa Branca, que voltaria atrás sob pressão de lobistas a serviço da extrema direita de Israel, Lula tomou a iniciativa de atrair o Irã e a Turquia para as conversas. Foi uma ideia do presidente brasileiro, a partir de conversas prévias com o então presidente do Ira, Mahmoud Ahmadinejad, em Nova York. Informado, Barack Obama aderiu a ideia, ainda que relutante. O chanceler Celso Amorim atuou nos bastidores entre os envolvidos.

Quarenta e oito horas depois, enquanto os Estados Unidos propunham uma nova rodada de sanções contra o Irã, inviabilizando um pacto que bastante razoável, Lula tornou-se alvo de um massacre externo e, especialmente, interno. Fez-se o possível para ridicularizar sua atuação, como se fosse um caso patológico de caipirismo diplomático. Refletindo o tom geral, um comentarista chegou a mandar os pêsames para o presidente brasileiro. Como explicar essa postura?

Um ponto, claro, era eleitoral. Cinco meses depois da viagem de Lula a Teerã, a população brasileira iria às urnas e era importante impedir qualquer vitória de seu governo, que poderia ajudar a eleição do ainda poste Dilma.

Outro aspecto é o complexo de vira-latas, que não consegue enxergar oportunidades que a conjuntura internacional pode oferecer ao país. Não se perdoou a indisciplina de Lula em relação a Washington. Já que Obama havia mudado de ideia, como é que o governo brasileiro se atrevia a teimar com seu projeto?

Como escreveu o professor José Luiz Fiori, em 2010, “o que provocou surpresa e irritação em alguns setores, não foram as negociações, nem os termos do acordo final, que já eram conhecidos. Foi o sucesso do presidente brasileiro que todos consideravam impossível ou muito improvável. Sua mediação (...) criou uma nova realidade que já escapou ao controle dos Estados Unidos e seus aliados. “

O ponto principal envolve o caráter provinciano do pensamento diplomático estabelecido no país. Incapaz de enxergar novos horizontes quando a situação internacional permite – como estava claro em 2010 – nossos professores de fim de semana procuram sabotar uma diplomacia que, vê-se agora toda clareza, abria oportunidades.

Chato, né?

HONDURAS - GOLPISMO E FRAUDE !

Fraudes nas eleições de Honduras

http://xiomara.hn
Por Giorgio Trucchi, de Tegucigalpa, no sítio Opera Mundi:

 Ainda não há um vencedor oficial da eleição presidencial de Honduras. Enquanto o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) não finaliza a apuração dos votos, tanto o candidato governista Juan Orlando Hernández, do PN (Partido Nacional), quanto a principal opositora, Xiomara Castro, do Partido Libre (Liberdade e Refundação), se declaram presidentes. O Libre também declarou não reconhecer os resultados apresentados pelo tribunal.


O ex-presidente Manuel Zelaya, esposo de Xiomara, rechaçou os resultados preliminares e convocou toda a dirigência do partido a uma reunião de emergência para esta segunda-feira (25/11). Com 54,47% das urnas apuradas, Juan Orlando Hernández estava à frente, com 34,14% dos votos. Em seguida aparecia Xiomara Castro, com 28,43%.

Em terceiro lugar vinha o candidato Mauricio Villeda, do Partido Liberal, com 21,03%, seguido por Salvador Nasralla, do Partido Anticorrupção (PAC), com 15,73%. O restante dos votos foi computado para os outros quatro candidatos à Presidência. Ao divulgar a última parcial, o TSE admitiu ter havido “inconsistência nas informações de pelo menos 20% das atas recebidas”.

Poucos minutos após o primeiro boletim do TSE, o candidato governosta se declarou ganhador e assegurou que convocaria todos os setores da sociedade e da política hondurenha para buscar em conjunto uma saída à gravde crise que afeta o país. Sua vitória foi reconhecida quase de imediato pelos presidente do Panamá, Ricardo Martinelli, e da Colômbia, Juan Manuel Santos. Também o felicitaram o ex-presidente salvadorenho Elías Antonio Saca e o presidente guatemalteco, Otto Pérez.

De acordo com a denúncia apresentada aos meios de comunicação por Zelaya, as autoridades eleitorais não haviam computado entre 19 e 20% das urnas por supostas anormalidades e inconscistências -- um total de quase 400 mil votos que podem alterar os resultados. “Nós não aceitamos esse resultado, protestamos contra esse resultado e o rechaçamos, porque nossas pesquisas de boca de urna e nossa contagem de atas confirmam que Xiomara ganhou a Presidência da República com mais de 3%", afirmou Zelaya.

Rixi Moncada, representante do Libre no Conselho Consultivo do TSE, disse existir uma manipulação dos dados reais e uma fraude descarada para favorecer um dos candidatos. "Há mais de 1.900 atas de departamentos (estados) onde o Libre ganha contundentemente que não foram incorporadas ao sistema de contagem, mas transferidas a um denominado procedimento de escrutínio especial”, contou. Moncada garantiu ter informes fidedignos que provam que foram introduzidos ao sistema de contagem "atas via escanner de lugares onde o escrutínio ainda não tinha sido concluído".

Tanto Moncada como o candidato à vice-presidência, Enrique Reyna, disseram que o que aconteceu neste domingo foi "uma clara fraude frente à vontade popular, que, sem dúvidas, está sendo alterada através da transmissão irregular de resultados”. Reyna afirmou também que representantes das MER (Mesa Eleitoral Receptora) tinham atrasado o envio de atas onde ganha o Libre, para assim atrasar o aumento da vantagem. Além disso, ele acusou o TSE de “não contabilizar atas onde ganhamos e que estranhamente foram escanneadas com a ponta dobrada, para ocultar o número. Essas são as que foram enviadas para auditoria", falou.

Juan Barahona, primeiro candidato à vice-presidência e subcoordenador da FNRP (Frente Nacional de Resistência Popular) fez um emotivo chamado aos representantes do Libre nas MER para que "não abandonem as urnas e cuidem dos votos”. Ao mesmo tempo, pediu aos militantes e simpatizantes do partido “estar atentos e atentas a qualquer chamado feito pelo Libre”.

Por sua vez, o candidato do PAC, Salvador Nasralla, não somente respaldou indiretamente a denúncia do Libre, mas foi além e falou de "fraude descarada" e "instalação de uma ditadura" em Honduras. Ele desconheceu o resultado e assegurou que não vai acatar os dados difundidos pelo TSE.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

GOLPISTAS DERROTADOS EM HONDURAS !

En alocución pública Xiomara Castro se declara vencedora en elecciones de Honduras


xiomara-castro-de-zelayaLa candidata del Partido Libertad y Refundación (Libre), Xiomara Castro, se declaró ganadora de las elecciones generales celebradas este domingo, en base a los resultados de una encuesta a boca de urna.
En conferencia de prensa efectuada esta noche, Castro, junto al expresidente Manuel Zelaya y sus más cercanos colaboradores, aseguró que es “la primera presidenta de Honduras”. “En los datos que hemos recibido, de acuerdo a las encuestas de boca de urna que ha recibido de todo el país y también al recuento de la información y de las actas que estamos recibiendo, hoy claramente puedo decirles que soy la presidenta de Honduras”.
La aspirante presidencial leyó posteriormente los resultados del sondeo, realizado por un medio de comunicación afín a Libre. De acuerdo a la encuesta, los resultados son favorables a Castro por 4.5% de diferencia. De acuerdo a la información proporcionada por la esposa del exmandatario, Libre obtiene el 29%, el Partido Nacional, el 26%; el Partido Liberal, el 20%; el Partido Anticorrupción, 17%. “De estos datos preliminares que tenemos en este momento, nos están dando al Partido Libertad y Refundación el triunfo contundente en estas elecciones”, sostuvo.
En su discurso, agradeció “al pueblo hondureño por la alturay el don de democracia que ha demostrado el día de hoy, a hacerse presente en las urnas, con esa altura que el pueblo hondureño ha demostrado, salir masivamente a ejercer el sufragio”, así como “aquellos que han derramado su sangre y al Frente Nacional de Resistencia Popular”. Agradeció a “aquellos a los que han derramado su sangre y al Frente Nacional de Resistencia Popular”.
Una encuesta divulgada por la televisora local Televicentro y la radio HRN, ubican al candidatos del oficialista Partido Nacional, Juan Orlando Hernández, ganador de los comicios. No obstante, el Tribunal Supremo Electoral (TSE) aún no ha declarado un ganador y se limitó a proporcionar los resultados preliminares correspondientes a poco más del 20% de las actas transmitidas desde los centros de votación a nivel nacional.
En los datos más recientes que maneja el TSE, se proyecta como ganador al candidato nacionalista Juan Orlando Hernández con 249, 600 votos válidos que representa el 34.77 %; mientras que Xiomara Castro de Libertad y Refundación obtuvó 202,501 votos, que representan el 28.36%. El TSE dio el anunció pasadas las 8:00 PM, al tener el 24% de las actas escrutadas, provenientes de todo Honduras.
(Información de Telesur y Noticia al día)

MAIS MÉDICOS PARA O BRASIL !

Pacientes se assustam com visita de médico cubano em casa

Tipo de casa que médicos brasileiros visitam
Em Belo Horizonte

Acostumada a frequentar consultórios por causa da bronquite e da sinusite que apresenta desde criança, a dona de casa Telma Ferreira, de 28 anos, teve na última sexta-feira (18), o primeiro contato com um profissional do programa Mais Médicos. Numa crise de bronquite, procurou o Posto de Saúde Vilas Reunidas, no bairro General Carneiro, uma das áreas mais carentes de Sabará, na grande Belo Horizonte.

Telma foi atendida pelo cubano Jorge Alberto Gil de Monte Santana e gostou do serviço. "Ele foi muito atencioso, me passou um remédio na hora e melhorei", diz ela. Diariamente, de 300 a 400 pacientes procuram por um dos cinco médicos do posto, de acordo com a gerente da unidade, Fabrícia Víncola. Mas nem a alta procura impressionou Santana, que tem 32 anos de idade e sete de profissão.

Além do atendimento no posto, ele atua no Programa de Saúde da Família (PSF) e fez duas visitas a residências da comunidade. "Assustaram um pouco porque as pessoas não estão acostumadas com um médico ir à casa delas", disse. Santana ficou surpreso com a falta de informação dos pacientes. "Tive de mostrar onde devem pôr o lixo, explicar que devem beber água fervida e que devem evitar contato com água de esgoto", afirmou.

POBRE PARAGUAY...

Direitos Humanos
Comunidades paraguaias vivem em estado de exceção


Adital
A Missão de Observação Internacional que visitou quatro departamentos paraguaios com o objetivo de verificar a situação dos direitos humanos de camponeses e indígenas constatou o cometimento de graves violações, principalmente por parte do Estado. No marco da implementação da Lei nº 1337 de Defesa Nacional e Segurança Interna, a Missão, composta por 43 representantes de organizações, redes e instituições da Suécia, Estados Unidos, Colômbia, Chile, Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, denuncia a precariedade e irregularidade das instituições estatais em matéria de direitos humanos. Foram visitados os departamentos de Presidente Hayes, Concepción, San Pedro e Canindeyú.
Um dos exemplos destacados é o da Defensoria Pública, cujo titular permanece no cargo ainda que seu mandato tenha vencido em 2008 e é questionado por parte de organizações de vítimas da ditadura e de direitos humanos. Além disso, o Estado paraguaio tem aumentado suas práticas repressivas com a outorga às forças militares de funções de segurança interna, a ampliação territorial dos procedimentos repressivos, o uso crescente de violência física e simbólica, e a aprovação de normas legais que diminuem garantias. "Observamos que, longe de levar segurança aos departamentos militarizados, o que se produz é a desarticulação do tecido social, a debilidade dos vínculos comunitários e das próprias organizações sociais, através do amedrontamento constante”, assinala a Missão.
Foi constatado também que há uma concentração de terra massiva para a implementação do modelo de produção de soja, cujos agrotóxicos afetam a saúde das pessoas e do meio ambiente. Apesar disso, o Estado estaria associando as reivindicações por acesso à terra e por um meio ambiente saudável a uma problemática de segurança interna que legitima abusos de autoridade e a instalação de um estado de exceção permanente. "Como resultado, famílias inteiras se encontram sem condições mínimas para desenvolver uma vida digna. O despojo que sofrem transcende o aspecto territorial e se traduz na vulnerabilidade integral de seus direitos, sua cultura e formas de vida”.
A Missão observou altos níveis de pobreza e indigência na região visitada. Grande parte da população não tem acesso a direitos básicos, como moradia, trabalho, saúde, saneamento, água potável. As pessoas entrevistadas reclamam a presença estatal na garantia de seus direitos econômicos, sociais e culturais, no entanto o Estado se faz presente mediante a militarização que, longe de proporcionar segurança, é fonte de repressão e medo. Os observadores verificaram ainda uma altíssima vulnerabilidade dos direitos dos povos indígenas, particularmente o direito à terra. Adicionalmente, são discriminados/as e poucos recebem atendimento em saúde e educação.
A Missão recebeu relatos sobre a presença de grupos paramilitares constituídos para a defesa dos interesses do setor agroexportador, bem como outros vinculados ao narcotráfico. Esses grupos, que seriam responsáveis por assassinatos de campesinos e indígenas, operariam criminosamente em conivência com membros da força pública. Os testemunhos recebidos apontam para uma Justiça inoperante, que deixa impunes as violações e opera como um instrumento de agressão a defensores e defensoras de direitos humanos, líderes campesinos, educadores, comunicadores, profissionais de saúde, que são processados sem fundamento.
Por fim, entre outros pontos, a Missão demanda do Poder Executivo que reconheça a importância do trabalho realizado pelas organizações sociais, campesinas e de direitos humano; aos Ministérios do Interior e da Defesa que implementem mecanismos eficientes para seus agentes de segurança atuem com base das normas legais nacionais e internacional de proteção aos direitos humanos; e cumprir com as medidas de assistência em saúde e educação à comunidade indígena Sawhoyamaxa, previstas na sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos, de 2006.
Também são feitas solicitações aos Poderes Legislativo e Judiciário para que assegurem a proteção de direitos nos quatro departamentos.

domingo, 24 de novembro de 2013

PARAGUAY - ETERNO MASSACRE ! SÓ O POVO EM ARMAS PODE SALVAR O PAÍS!

Direitos Humanos
Comunidades paraguaias vivem em estado de exceção


Adital
A Missão de Observação Internacional que visitou quatro departamentos paraguaios com o objetivo de verificar a situação dos direitos humanos de camponeses e indígenas constatou o cometimento de graves violações, principalmente por parte do Estado. No marco da implementação da Lei nº 1337 de Defesa Nacional e Segurança Interna, a Missão, composta por 43 representantes de organizações, redes e instituições da Suécia, Estados Unidos, Colômbia, Chile, Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, denuncia a precariedade e irregularidade das instituições estatais em matéria de direitos humanos. Foram visitados os departamentos de Presidente Hayes, Concepción, San Pedro e Canindeyú.
Um dos exemplos destacados é o da Defensoria Pública, cujo titular permanece no cargo ainda que seu mandato tenha vencido em 2008 e é questionado por parte de organizações de vítimas da ditadura e de direitos humanos. Além disso, o Estado paraguaio tem aumentado suas práticas repressivas com a outorga às forças militares de funções de segurança interna, a ampliação territorial dos procedimentos repressivos, o uso crescente de violência física e simbólica, e a aprovação de normas legais que diminuem garantias. "Observamos que, longe de levar segurança aos departamentos militarizados, o que se produz é a desarticulação do tecido social, a debilidade dos vínculos comunitários e das próprias organizações sociais, através do amedrontamento constante”, assinala a Missão.
Foi constatado também que há uma concentração de terra massiva para a implementação do modelo de produção de soja, cujos agrotóxicos afetam a saúde das pessoas e do meio ambiente. Apesar disso, o Estado estaria associando as reivindicações por acesso à terra e por um meio ambiente saudável a uma problemática de segurança interna que legitima abusos de autoridade e a instalação de um estado de exceção permanente. "Como resultado, famílias inteiras se encontram sem condições mínimas para desenvolver uma vida digna. O despojo que sofrem transcende o aspecto territorial e se traduz na vulnerabilidade integral de seus direitos, sua cultura e formas de vida”.
A Missão observou altos níveis de pobreza e indigência na região visitada. Grande parte da população não tem acesso a direitos básicos, como moradia, trabalho, saúde, saneamento, água potável. As pessoas entrevistadas reclamam a presença estatal na garantia de seus direitos econômicos, sociais e culturais, no entanto o Estado se faz presente mediante a militarização que, longe de proporcionar segurança, é fonte de repressão e medo. Os observadores verificaram ainda uma altíssima vulnerabilidade dos direitos dos povos indígenas, particularmente o direito à terra. Adicionalmente, são discriminados/as e poucos recebem atendimento em saúde e educação.
A Missão recebeu relatos sobre a presença de grupos paramilitares constituídos para a defesa dos interesses do setor agroexportador, bem como outros vinculados ao narcotráfico. Esses grupos, que seriam responsáveis por assassinatos de campesinos e indígenas, operariam criminosamente em conivência com membros da força pública. Os testemunhos recebidos apontam para uma Justiça inoperante, que deixa impunes as violações e opera como um instrumento de agressão a defensores e defensoras de direitos humanos, líderes campesinos, educadores, comunicadores, profissionais de saúde, que são processados sem fundamento.
Por fim, entre outros pontos, a Missão demanda do Poder Executivo que reconheça a importância do trabalho realizado pelas organizações sociais, campesinas e de direitos humano; aos Ministérios do Interior e da Defesa que implementem mecanismos eficientes para seus agentes de segurança atuem com base das normas legais nacionais e internacional de proteção aos direitos humanos; e cumprir com as medidas de assistência em saúde e educação à comunidade indígena Sawhoyamaxa, previstas na sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos, de 2006.
Também são feitas solicitações aos Poderes Legislativo e Judiciário para que assegurem a proteção de direitos nos quatro departamentos.

INCONSCIÊNCIA BRANCA


Dia da Inconsciência Branca


Frei Betto
Adital

Por ser data de comemoração de Zumbi dos Palmares (1655-1695), último líder heroico do mais importante quilombo brasileiro, 20 de novembro é dedicada à Consciência Negra. É também Dia da Inconsciência Branca. Foram as armas que deram aos colonizadores europeus o poder opressor sobre as nações da África negra. Em nome de Deus e de um projeto civilizatório, invadiram o continente africano e submeteram o seu povo ao jugo da escravidão.

Foto: Reprodução
Obrigado a aceitar o batismo cristão, a marca do sacramento era gravada nas peles negras a ferro e fogo. O propósito, livrá-los, após esta vida, das chamas eternas do Inferno, por culpa de suas crenças animistas e rituais eróticos. Destinava-os, porém, nesta Terra, ao suplício do trabalho árduo, das sevícias, das chibatas, das torturas e da morte atroz.
De tal arrogância se nutria a inconsciência branca que, ao qualificar de raça a mera diferença de coloração epidérmica, elevou-a à categoria de pretensa ciência. Buscou-se na Bíblia a caricatura de um deus maldito que, após o Dilúvio Universal, teria criado a descendência negra da Cam (Cão), um dos filhos de Noé.
No Brasil, o preconceito à negritude deita raízes na mais longa história de escravidão das três Américas: 350 anos! Ainda que, hoje, nossas leis condenem a discriminação, sabem os negros que, aqui, eles são duplamente discriminados: por serem negros e pobres. Ao escravo liberto se negou o acesso à terra, que ele tão bem sabia cultivar.
Impediu-se ainda o acesso à carreira eclesiástica, aos quartéis (exceto como soldado e bucha de canhão na guerra do Brasil contra o Paraguai), às escolas particulares.
Na década de 1950, no Colégio Dom Silvério, em Belo Horizonte, ouvi irmão Caetano Maria, procedente de Angola, apregoar na sala de aula que negros eram inaptos à matemática e às ciências abstratas, vocacionados à música e aos trabalhos manuais...
A inconsciência branca viceja, ainda hoje, na promoção turística da mulata carnavalesca, ela sim liberada, por leis e censores, a exibir em público seu corpo nu.
É a inconsciência branca que protesta contra o direito de cotas para negros nas universidades; encara com suspeita o negro encontrado em espaços predominantemente ocupados por brancos; induz a polícia a expor garras ferozes ao revistar jovens negros.
O profetismo heroico de Zumbi, Mandela, Luther King e tantos outros, ainda não logrou descontaminar nossa cultura do ranço do preconceito e da discriminação. Quantos executivos negros ocupam cargos de direção em nossas empresas? Apenas 5,3%. Quantos garçons e chefs de cozinha? Quantos apresentadores de TV e animadores de auditório?
A violência com que médicos brasileiros, todos brancos, submeteram, em Fortaleza, "ao corredor polonês da xenofobia” – na expressão do ministro Padilha, da Saúde - o médico cubano Juan Delgado, um negro, a quem a presidente Dilma pediu desculpas em nome do povo brasileiro, bem comprova a inconsciência branca.
Esta inconsciência também adota o preconceito às avessas. Festejou-se a eleição de Obama, o primeiro negro na Casa Branca, como uma pá de piche (cal é branco...) na política terrorista do presidente Bush.
Esqueceu-se que Obama, antes de ser negro, é estadunidense, convencido do direito (divino?) de supremacia dos EUA sobre as demais nações do mundo.
Por que haveria ele de pedir desculpas por espionar a presidente Dilma se não está disposto a abdicar dessa violação? Obama é tão guerreiro e cínico quanto Bush.
Com frequência vemos o preconceito às avessas expressar-se na negação da negritude, como se ela fosse um estigma, através de eufemismos como afrodescendente. Sou branco, embora traga nas veias sangue indígena e negro, e nunca me chamaram de iberodescendente ou eurodescendente.
A data de 20 de novembro deveria ser comemorada nas escolas com lições históricas sobre o preconceito e discriminação, e depoimentos de negros. De nossa população carcerária, hoje beirando 500 mil detentos, 74% são negros. Nos EUA, de cada 11 presos, apenas 1 é branco.
Só a Consciência Negra é capaz de combater a inconsciência branca e despertá-la, tornando hediondos todos os crimes de preconceito e discriminação.
[Frei Betto é escritor, autor de "Aquário Negro” (Agir), entre outros livros. http://www.freibetto.org

HONDURAS - ESTAMOS COM XIOMARA !



Da crise da hegemonia neocolonial norte-americana ao surgimento de um povo que conquista sua autonomia

Ricardo Zúniga García
Adital
Fronteira estratégica na América Central
Tradução: ADITAL



Honduras, como a maioria dos países da América Central, tem uma natureza invejável, excelentes solos para a agricultura e reflorestamento, praias e belas ilhas no mar Caribe, excelente posição geopolítica, uma população predominantemente jovem... bom potencial para um desenvolvimento que permita um nível de vida digno para todos os seus filhos/as; uma herança de dignidade inspirada em seu prócer nacional, Francisco Morazán; porém, também o lastro de uma herança colonial e neocolonial que, por muito tempo, foi hegemônico no país e ainda hoje o impede de avançar em sua afirmação como nação. Porém, há ventos de mudança: setores populares se organizam cada vez mais, manifestando gradual, mas massivamente, a possibilidade de organizar a sociedade com uma lógica diferente a que tem imperado por quase 200 anos, gerando opressão e iniquidade.
Em rápidas pinceladas históricas, basta ressaltar que no país houve uma dinâmica econômica exógena a serviço das potências coloniais, explorando matérias primas agrícolas e minerais. Tem gerado excelentes rendimentos para a exploração florestal e mineira, para a agroexportação e seus lucros são concentrados por uma reduzida elite nacional a serviço dos interesses coloniais.
De certo modo, Honduras é um país símbolo na América Latina; aí aconteceu o golpe militar de junho de 2009, que estimulou um despertar popular. Porém, ao mesmo tempo, produziu o mais forte movimento repressivo na América Latina nos últimos cinco anos.
Esse golpe de Estado contra o governo legítimo e constitucional de Manuel Zelaya foi dado com a cumplicidade da administração norte-americana porque Zelaya estava implementando reformas para redistribuir a riqueza de maneira menos injusta, lutando por melhores preços para os produtos hondurenhos e buscando, no contexto da subido do preço do petróleo, um abastecimento energético mais econômico para seu país. Nesse esforço, encontrou a mão solidária do governo da Venezuela, liderado pelo presidente Chávez.
Seguindo essa dinâmica, Honduras ingressa ao Petrocaribe e, posteriormente, em agosto de 2008, ingressa a Alba (Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América). Essas simples medidas nacionalistas, no marco do sistema capitalista, foram inaceitáveis por parte da oligarquia hondurenha, que decidiu dar o golpe de Estado e, posteriormente, desatar a maior repressão contra o povo organizado, de 2009 até hoje.
É claro que com sua entrada a Alba, Honduras estava mudando a geopolítica da América Central, ao passar de ser o peão tradicional da política guerreirista dos Estados Unidos a um novo espaço de recuperação de direitos sociais e da integração bolivariana da América Latina.
Sem ser exaustivos na apresentação da violência, destacamos mais de 60 camponeses assassinados por reclamar o direito à terra e ao trabalho; 29 jornalistas; dezenas de professores e dirigentes sindicais. Tudo isso no lapso dos últimos três anos.
Além da violência mais diretamente exercida pela repressão política, está a violência de gênero. Em 2012, houve uma média de 51 mulheres assassinadas a cada mês, o que é chocante, em um país onde a mulher tem uma grande participação na economia de base e vai alcançando maior participação política. Por outro lado, o índice geral de homicídios é muito elevado: 86 homicídios para cada 100 mil habitantes.
Os meios de comunicação, superficialmente, costumam destacar que Honduras é o país mais violento do mundo. Porém, não assinalam as causas e nem os atores da violência. É importante perguntar-se como é possível tal número de homicídios. É absurda a qualificação de povo violento para o hospitaleiro e receptivo povo hondurenho. Quem conhece Honduras, sobretudo na área rural, pode confirmar isso.
A verdade tem que ser dita com todas as letras: essa violência é filha direta da cobiça das oligarquias, que exploram o povo hondurenho; é filha direta da secular intervenção militar e política dos grupos hegemônicos dos Estados Unidos que por mais de cem anos espolia e violenta ao povo hondurenho. O povo hondurenho não é violento; a violência lhe tem sido imposta por um sistema injusto que, arbitrariamente, o condena à fome e ao desemprego.
Porém, como a história é dialética, nem tudo tem sido negativo a partir do golpe de Estado de 2009, pela convergência do rechaço interno e externo ao golpe de Estado e a incapacidade das oligarquias dominantes para buscar uma saída negociada, o povo hondurenho vem reivindicando seus direitos, mobilizando-se..., manifestando claramente uma maior consciência política.
Ante o aumento da repressão, os diários assassinatos de seus líderes, o povo organizado no movimento de Resistência ao Golpe de Estado analisa frequentemente a conjuntura; identifica e denuncia os crimes das forças oligárquicas respaldadas pelo governo, mostrando o injusto funcionamento do sistema que distribui os ingressos de maneira evidentemente injusta. Ante a repressão militar e as propostas de maior entrega do país aos interesses do grande capital, como acontece com o projeto de ‘cidades-modelo’, a Frente de Resistência ao Golpe chamou à mobilização e à resistência permanente. Apesar de ter sido aprovada como lei, a proposta de ‘cidades-modelo’, que entrega a soberania do país a grandes corporações, cria um enclave onde as leis nacionais não têm plena vigência. O movimento conseguiu gerar um nível de protesto de tal monto que tem desestimulado aos grandes capitalistas a investir em dito projeto.
Politicamente, o processo de organização popular tem sido estimulado pela brutal repressão desencadeada pelo golpe de Estado. Durante todo esse período, houve uma forte mobilização popular na terra de Morazán. Em determinadas épocas, as marchas têm sido quase diárias. E os protestos têm abarcado quase todos os aspectos dos direitos básicos populares: terra, educação, saúde, liberdade de organização comunitária e sindical, democracia participativa.
Por seu lado, o governo golpista e seu sucessor eleito sob a "legalidade” golpista, vêm sofrendo um processo de deterioro. São incapazes de resolver os problemas básicos do povo hondurenho; ao contrário, estão mais complicados.
O III relatório de Análise Política Prospectiva, publicado em 2012 pela Oxfam, observa o seguinte acerca de tal gestão:
"O governo que assumiu no dia 27 de janeiro de 2010, encabeçado por Porfirio Lobo, candidato do Partido Nacional, partido cúmplice no golpe de Estado e cuja bancada aplaudiu formalmente o derrocamento do presidente Manuel Zelaya Rosales, tem sido um governo que teve que registrar uma das maiores ondas de violência, homicídio, massacres às classes populares nunca vistos em Honduras. Basta mencionar a cifra de 20 assassinatos por dia para entender a terrível dimensão em que vive o povo hondurenho. Ou ver o empobrecimento do povo, onde 46% vivem na miséria com apenas um dólar por dia para sobreviver, ou 66,7% da população considerados pobres”.
E mais adiante continua, ressaltando tendências que, efetivamente, se aprofundaram em 2013:
"As tendências mais relevantes da situação hondurenha são as seguintes: i) Redução do crescimento da economia hondurenha e deterioro das condições sociais em um contexto econômico internacional adverso; ii) Decomposição da institucionalidade estatal e remilitarização do Estado; iii)Priorização na agenda governamental do tema da seguridade e maior presença do governo estadunidense nas decisões internas; iv) Impugnação cidadã à democracia realmente praticada; v) Redução do respaldo cidadão ao bipartidarismo tradicional e emergência de novas forças políticas; vi) Reconfiguração de orientações políticas dentro do bipartidarismo tradicional; vii) Conservação da influência dos meios de comunicação tradicionais; viii) Consolidação da liderança de Manuel Zelaya como ator político; ix) Reativação das lutas sociais; x) Avanço rumo à polarização política eleitoral e um esperado não usual debate sobre o futuro do país”.
Ou seja, por um lado, o deterioro e a incapacidade de governar por parte da oligarquia que tem que recorrer com mais frequência e diretamente à força bruta para conseguir impor-se. E, por outro lado, há um processo de maior consciência, articulação e projeção das forças populares.
Observando a partir das experiências históricas de luta, há um ingrediente que podemos observar na prolongada luta política do povo nicaraguense contra a ditadura de Somoza, na Nicarágua, país vizinho e irmão de Honduras. Quando a ditadura entrou em crise de legitimidade, sua corrupção e crimes foram cada vez mais evidentes, o povo se mobilizou cotidianamente por suas reivindicações. Cada vez com mais amplitude e massividade, e há um momento em que, como sujeito coletivo, perde o temor à repressão e continuando na luta, chega a perder até o medo à morte. A partir desse momento, se fortalecem as convicções. Os líderes, individualmente, sabem que são vulneráveis; porém, como coletivo, como povo organizado, sentem-se invencíveis e sabem que cedo ou tarde vencerão; e suas concretas e grandes causas avançarão.
Isso aconteceu na Nicarágua, por um conjunto de fatores, após o assassinato de muitos militantes populares; porém, teve seu momento de eclosão com o assassinato do valente jornalista Pedro Joaquín Chamorro. Observando algumas marchas populares noticiadas pela mídia desse país irmão, tenho a impressão de que o povo organizado hondurenho também chegou a esse umbral de perda do medo à repressão e à morte (é claramente o caso do movimento camponês de Bajo Aguán).
É claro que a situação hoje é mais complexa; porém, apesar de toda a sofisticação da repressão, as organizações populares também podem gerar recursos para sofisticar sua luta.
A Frente de Resistência Popular contra o Golpe de Estado, guarda chuva que reúne um amplo leque de forças políticas que lutam contra a repressão, incapacidade e o caráter oligárquico do grupo hegemônico que governa Honduras, conseguiu articular-se melhor, resolver suas contradições secundárias, apresentar um projeto político de refundação nacional e concorre às eleições presidenciais e parlamentares desse próximo domingo, 24 de novembro.
Apesar de que o bloco hegemônico controla todos os grandes meios de imprensa, o poder eleitoral e todo o aparelho do Estado, é possível que o Partido Livre e sua candidata possam resultar vencedores na contenda eleitoral desse domingo, abrindo uma nova etapa na história de Honduras, que lhes poderia permitir refundar o país. As últimas pesquisas publicadas davam um empate técnico entre o candidato do Partido Nacional (governante) e a candidata do Partido Livre.
No entanto, apesar de que manobras fraudulentas possam impor-se e impedir a vitória de Xiomara Castro de Zelaya (esposa do ex-presidente Manuel Zelaya), não há dúvidas de que essa frente política alcançará uma melhor correlação de forças para empenhar-se desde as mobilizações populares, organizações comunitárias e desde os espaços institucionais obtidos nas eleições para continuar na luta, em melhores condições que nas atuais.
De fato, em pouco tempo de funcionamento (uns três anos) já conseguiu vencer o antigo bipartidarismo, propondo mais claramente a contradição da exploração das grandes corporações sobre as maiorias trabalhadoras cada dia mais empobrecidas.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

HONDURAS - COM XIOMARA !

Honduras vai às urnas neste domingo com cenário ainda indefinido


À meia-noite desta segunda-feira (18) começa o silêncio eleitoral em Honduras, que vai eleger seu novo presidente ou presidenta neste domingo (24). Oito candidatos disputam o cargo, dois com chances reais de vencer: a socialista Xiomara Castro e o ultraconservador Juan Orlando Hernández.


A socialista Xiomara Castro é ligeira favorita na disputa eleitoral | Foto: Divulgação da campanha

As pesquisas recentes de intenção de votos apontam empate técnico, com 27% das intenções de voto para Xiomara e 28% para Hernández, mas a socialista desponta como ligeira favorita na campanha.


A favor de Xiomara estão o caos social e econômico em que o atual governo deixou o país, que tem a pior taxa de homicídios no mundo (86 assassinatos por cada 100 mil habitantes) e o apoio do ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva.

Além disso, é herdeira política de seu marido, o ex-presidente Manuel Zelaya que, há quatro anos, foi vítima de um golpe por ter se aproximado do ex-presidente venezuelano Hugo Chávez e querer implantar programas sociais no país. Se eleita, Xiomara promete refundar o país e aprovar uma nova Constituição.

Seu programa se baseia em uma nova estrutura estatal e um novo marco jurídico e institucional. O partido da presidenciável Libertad e Refundación (Libre) propõe o conceito de socialismo democrático e seu programa conta com três eixos transversais: o dos Direitos Humanos, da Igualdade e Equidade de Gênero e da Descentralização do Estado.

Lei eleitoral


De acordo com a lei eleitoral do país, os partidos políticos só podem promover seus planos de governo através dos meios de comunicação se não mencionarem o cargo para o qual se postularam ou solicitar votos em seu favor. Também não há segundo turno nas eleições do país.

Cerca de 5,3 milhões de hondurenhos estão aptos a votar em um país em que 70% de seus oito milhões de habitantes vivem na pobreza.

Da Redação do Portal Vermelho,
com agências

COLÔMBIA - COM AIDA ABELLA

União Patriótica apresenta candidata à Presidência da Colômbia


Aida Abella, sobrevivente do episódio conhecido como genocídio da União Patriótica (UP) da Colômbia, anunciou sua postulação como candidata presidencial nas eleições de 2014, durante o 5º Congresso da UP, celebrado neste domingo (17).


El Tiempo
União Patriótica apresenta sua candidata à presidência
Aida Abella, sobrevivente do episódio conhecido como genocídio da União Patriótica (UP) da Colômbia.
Diante de mais de 2 mil pessoas presentes no auditório, a candidatura de Aida foi recebida com ânimo. "Aceito a candidatura à presidência da Colômbia e solicito garantias para o exercício da oposição", disse.

A União Patriótica recebeu de volta a sua personalidade jurídica em 9 de julho deste ano, abrindo a possibilidade das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) participarem da vida política e eleitoral do país. O fato foi considerado um passo adiante para a obtenção da paz e da normalidade democrática na Colômbia.

A União Patriótica é uma organização que surgiu no começo da década de 80, fruto dos acordos de paz entre as Farc e o governo conservador de Belizário Bettancourt. O partido obteve quase 400 mil votos e elegeu um número significativo de prefeitos, representantes na Câmara dos Deputados, senadores etc, mas foi atacada militarmente pela oligarquia a tal ponto que cerca de 2,5 mil militantes foram assassinados entre 1984 e 1995, incluindo a cúpula desse movimento.

Por isso, Aida esteve exilada por 17 anos, mas afirmou: "nunca fui embora, sempre levei a pátria dentro de mim".

"Aida é símbolo de esperança e carregarei para ela a mala de toda a Colômbia, se quer ser candidata", expressou a porta-voz da Marcha Patriótica, Piedad Córdoba, minutos depois que a candidata anunciou sua decisão.

"Esta candidatura é um símbolo de dignidade e uma certeza de que a paz se esta construindo, um passo na unidade da esquerda" comentou um dos assistentes ao Congresso, segundo informações da Prensa Latina. "Sentimos que estamos reconstruindo o partido da vida e da esperança, o partido que propôs o ideário que acumulou muitíssimos votos e foi submetido a um genocídio político", completou.

O parlamentar comentou também o reparo político da UP em entrevista ao diário colombiano El Tiempo: "tínhamos 14 parlamentares, ainda precisam nos devolver 14 escanos, essa é uma das fórmulas de consertar aquilo que foi feito". O parlamentar insistiu que a restituição da legalidade é apenas a fase inicial do que deve ser uma verdadeira reparação política.

Théa Rodrigues, da redação do Vermelho,
Com informações da Prensa Latina