terça-feira, 19 de agosto de 2014

EUA NÃO DESISTE DO GOLPE !


Organizações latino-americanas repudiam plano para desestabilizar política de Cuba


Adital
A Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América - Tratado de Comércio dos Povos (ALBA-TCP) afirmou repudiar o novo plano dos Estados Unidos contra Cuba, que se utilizaria de jovens latino-americanos para semear desestabilização política no país socialista. Em comunicado publicado, a entidade reclama o fim das ações subversivas, ilegais e encobertas por parte do governo estadunidense, que violam a soberania e o direito do povo cubano à autodeterminação.
No início deste mês, o Governo de Cuba descobriu e desbaratou uma operação secreta da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID, United States Agency for International Development), que recrutava jovens procedentes da Venezuela, Costa Rica e Peru desde 2009. A pretensão era estimular potenciais agentes desestabilizadores da política nacional e coletores de informação valiosa para o Governo do EUA, fomentar oposição e propiciar um colapso do governo cubano.
"Os países membros da ALBA-TCP expressam sua mais profunda solidariedade com a República de Cuba e exigem ao Governo dos Estados Unidos que respeite a vontade expressa do povo cubano de continuar aperfeiçoando seu modelo econômico e social e consolidando sua democracia, sem ingerências externas”, declara a Associação.
A organização se diz indignada diante das revelações apresentadas pela agência de notícias estadunidense Associated Press(AP), dizendo considerar o projeto "imoral”. "Cuja autoria e execução o Governo dos Estados Unidos reconheceu de maneira cínica, ratifica o caráter hostil e intervencionista da política norte-americana direcionada a Cuba”, afirmou.
Denúncia de infiltrados
Já a Associação Amizade Honduras Cuba (AHC), que organiza o VIII Encontro Nacional de Solidariedade com Cuba "Comandante Fidel Castro Ruz” — que será realizado nos dias 05 e 06 de setembro deste ano, na cidade hondurenha Choluteca, a 133 quilômetros da capital Tegucigalpa —, chama à solidariedade militante para que se façam denúncias. A entidade defende que todo hondurenho ou estrangeiro que seja contratado por agências de "cooperação e desenvolvimento” dos EUA em território de Honduras seja delatado às autoridades.
"A revolução cubana é um exemplo de dignidade e vanguarda para nossos povos e suas conquistas e solidariedade internacionalista chegam à mais remota de nossas comunidades rurais”, argumenta a entidade em comunicado. "Condenamos essa política intervencionista e conspirativa dos EUA, em vez de reconhecer sua equivocada política beligerante e mercenária contra um povo heroico e retirar o bloqueio genocida mais longo conhecido pela história humana contra nenhum outro povo”, complementa severamente.
A organização compreende que o governo estadunidense pretende ver Cuba e seu povo tal como hoje se encontra Honduras: com alto índice de criminalidade e consumo de narcóticos, violência, despojo de recursos naturais e do patrimônio nacional, militarização da sociedade e do Estado, corrupção pública e privada, além da impunidade no país.
"E o mais grave: uma classe política e empresarial carente de sentimentos pátrios, sustentada nos valores de usura, saque, despojo e desprezo pelo ser humano e pela natureza”, indica a Associação. "Os valores da solidariedade e da amizade são dos nossos povos e isso não se vende nem se aluga”, finaliza a organização.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

VIVA LAS FARC-EP !


Máximo líder de FARC-EP: Colombia no será la misma tras un acuerdo de paz

Timoleón Jiménez, comandante del Estado Mayor Central de las FARC-EP
Timoleón Jiménez, comandante del Estado Mayor Central de las FARC-EP
El máximo líder de las Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia-Ejército del Pueblo (FARC-EP), Timoleón Jiménez, expresó su convicción de que Colombia no seguirá siendo la misma tras la firma de un acuerdo de paz.
“Estamos convencidos de salir adelante, afirmó en un artículo fechado el 8 de agosto en las montañas de Colombia.
En eso nos diferenciamos de nuestros adversarios, ellos solo aspiran a sacarnos del medio para no cambiar nada, para que todo siga igual, señaló.
“Nosotros no llegamos a una mesa de diálogos porque estuviéramos vencidos o desencantados”, subraya el texto.
Lo hicimos, especifica, porque siempre hemos creído en las vías civilizadas y en que es posible alcanzar, con el apoyo de las grandes mayorías colombianas, unos acuerdos dignos que se funden, por una razón elemental, en la proscripción bilateral de la violencia”.
El líder guerrillero rechazó la postura de la llamada gran prensa aliada con los consorcios del capital según la cual, “las guerrillas son las responsables de haber iniciado la larga confrontación, y las verdaderas y únicas responsables de todos los horrores sucedidos en el curso de ella”.
Rechazamos de plano, “por ser contraria a la realidad histórica, la idea de que la clase dominante colombiana, sus partidos políticos tradicionales o sus mixturas de hoy, sus gobiernos, el Estado como tal, los grupos económicos, tienen las manos limpias de sangre del pueblo colombiano”, agrega.
Los verdaderos autores y responsables por los horrores de este largo conflicto son ellos, reiteró.
“Si decidieron ensayar la vía de los diálogos -adujo- fue con el propósito de obtener en la mesa de conversaciones la victoria que les ha sido negada durante medio siglo en los campos de batalla”
El máximo jefe de las FARC-EP recalcó la disposición de esa fuerza guerrillera de explicar cuanto sea necesario y asumir las correspondientes consecuencias.
(Con información de Prensa Latina)

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

VENEZUELA AVANÇA


Petrolífera venezuelana avança em desenvolvimento de projeto de gás


A estatal de Petróleos da Venezuela (Pdvsa) destacou, nesta sexta-feira (8), a exitosa avaliação do Poço DR-9, no Campo Dragón, como parte do desenvolvimento do projeto de gás Mariscal Sucre (estado de Sucre) nas zonas litorâneas do país. 


Revista Oro Negro
A meta da Pdvsa é produzir 1,200 milhões de pés cúbicos de gás diários e até 28 mil barris de condensadosA meta da Pdvsa é produzir 1,200 milhões de pés cúbicos de gás diários e até 28 mil barris de condensados
Segundo a imprensa local, o êxito foi possível graças ao uso de tecnologias de última geração e ao trabalho de profissionais venezuelanos especializados.

Os estudos incluíram uma prova de registro de produção, seguida de uma isócrona modificada e fluxo normal, a qual foi apresentada ao Ministério do Petróleo e Mineração.

O processo lançou resultados de acordo com os potenciais estimados, com a meta de alcançar os primeiros 300 milhões de pés cúbicos diários de gás na primeira fase.

Este é o terceiro poço avaliado associado ao Esquema de Produção Acelerada, se comparado aos já provados DR-5ª e DR-1, tem um potencial de 150 milhões de pés cúbicos de gás diários.

O Projeto Mariscal Sucre contempla o desenvolvimento de quatro campos situados ao norte da península de Paria, denominados Dragón, Patao, Mejillones e Rio Caribe.

O projeto Mariscal Sucre apresenta um desafio para a indústria petrolífera venezuelana, que depois de 100 anos de história está conquistando os espaços submarinos com profundidades superiores a 130 metros e correntes aquáticas, graças ao uso de tecnologias especializadas para construir e instalar infraestruturas ao longo da costa.

O projeto prevê ainda a construção de um tubo energético por mais de 100 quilômetros submarinos, de Sucre até Güiria. Este gasoduto contará com um diâmetro de 36 polegadas e uma extensão de 101,8 quilómetros, dos quais 98,7 são submarinos e 3,1 pertencem a uma área continental.


Fonte: Prensa Latina

ESTADO TERRORISTA DE ISRAEL


Para deter o massacre palestino, é preciso responsabilizar Israel


Israel defende-se com manipulações midiáticas, rechaça críticas ao massacre palestino, promove falsas elucubrações filosóficas e acadêmicas sobre a “guerra justa” e investe na distorção do direito internacional humanitário. Em 2009, o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas confirmou os crimes de guerra perpetrados na ofensiva Chumbo Fundido, mas arriscamos ver o destino do seu relatório repetir-se na investigação do atual massacre: impunidade.

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho


AP Photo
Soldados israelenses participam da operação militar na Cisjordânia, fazendo batida em Hebron, em junho.Soldados israelenses participam da operação militar na Cisjordânia, fazendo batida em Hebron, em junho.
O repúdio global à ocupação da Palestina por Israel e às ofensivas de que é acompanhada esta política é exponencial. Movimentos sociais de todo o mundo levantaram-se nas últimas semanas para protestos fortalecidos devido ao assombro com a chacina na Faixa de Gaza, onde cerca de 80% das vítimas entre as quase 1.500 pessoas mortas até hoje eram civis, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). Em Israel, também, as vozes contrárias à política genocida do seu governo proliferam-se.

Entre as campanhas propostas ressalto um apelo fundamental, além da essencial libertação da Palestina: o fim da impunidade. Desde que foi criado, em 1948, o Estado de Israel continuou se expandindo à custa da repetição, ao longo das quase sete décadas seguintes, do massacre, do despojo, da segregação, da expulsão e do encarceramento massivo dos palestinos, que se recusam a deixar o espírito “quebrar”, como se diz no linguajar “estratégico” das grandes potências que enfrentam uma resistência obstinada. Não é à toa que trabalhadores de todo o mundo identificam-se com a causa palestina.

Leia também:
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Neste sentido, é preciso resgatar do esquecimento o relatório publicado pelo Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas em setembro de 2009, com as conclusões da Missão de Averiguação dos Fatos enviada a Gaza e às cercanias para investigar as denúncias de crimes de guerra cometidos durante a “operação Chumbo Fundido”, que durou 22 dias, entre o final de dezembro de 2008 e meados de janeiro de 2009, matando cerca de 1.400 pessoas e causando devastação.

Foto: UNRWA  
O documento que se convencionou denominar “Relatório Goldstone” – devido ao nome do juiz encarregado da missão, o sul-africano e judeu Richard Goldstone – comprova em mais de 500 páginas de pareceres, testemunhos de palestinos e israelenses e descrições da região, que crimes de guerra e “possíveis crimes contra a humanidade” foram cometidos pelo Exército de Israel, apontando também para violações que teriam sido cometidas pelas forças da resistência palestina, sobretudo as Brigadas Ezedeen Al-Qassam, ligadas ao Hamas, partido à frente do governo em Gaza.

Um à parte relevante pode ser dedicado à contradição inerente ao estatuto das brigadas e do próprio Hamas: enquanto as autoridades israelenses os classificam de “terroristas” ou “combatentes ilegais” para justificar o total rechaço aos princípios direito internacional humanitário quando os combatem – ou assassinam – também ignoram a sua própria linha de raciocínio ao usar exatamente o direito internacional para acusar a resistência palestina de também ter cometido “crimes de guerra”.

 Apesar destas zonas cinzentas, o relatório deve sair da gaveta para análise, sobretudo porque praticamente todos os pontos que analisa a fundo são repetições notadas na atual ofensiva contra Gaza, “Margem Protetora”, à exceção, principalmente, do uso de fósforo branco e tungstênio, armas químicas proibidas, contra áreas habitadas do território palestino sitiado. As vítimas, durante a ofensiva de 2008-2009, apresentavam queimaduras tão graves que chegavam a perder os membros atingidos.

  Foto: AP
A propósito, a resposta israelense às acusações de uso dessas armas ilegais foi a de que isso só ocorreu em “zonas abertas” e não habitadas, para efeitos de iluminação noturna. Na atual ofensiva, porém, o Exército de Israel parece ter descoberto a existência de sinalizadores, já que muitas das imagens divulgadas por esses dias têm o efeito sombrio da escuridão assim iluminada. A escuridão, por sua vez, resulta dos ataques às redes elétricas e a um racionamento já em vigor há meses, devido ao bloqueio a Gaza.

Impunidade

Das repetições, valem destaque as conclusões sobre a destruição massiva e disseminada de milhares de residências, muitas vezes vitimando famílias inteiras. Além disso, estruturas da Agência das Nações Unidas para Assistência e Refugiados (UNRWA), que atende a mais de um milhão de pessoas entre os 1,8 milhão de residentes em Gaza, também foram atingidas, o que constitui outro crime de guerra, uma vez que se trata de pessoal e serviços humanitários.

Nesta semana, o bombardeio de uma escola que abrigava 3.300 palestinos – após a 17ª vez em que a UNRWA advertiu o Exército sobre a sua localização – matou 16 pessoas, entre crianças e funcionários da escola, o que levou o comissário da agência a fazer um apelo emocionado pela responsabilização e pelo fim da “carnificina” que é motivo de “vergonha universal”.


  Foto: Reuters 
Hospitais abarrotadosforçosamente evacuados, mesquitas, igrejas, poços de água, redes de esgoto e plantas de energia elétrica são também estruturas que não se enquadram no que o direito internacional humanitário – através de diversas convenções e protocolos sobre a proteção dos civis durante conflitos armados – classifica de “alvos militares legítimos”. Entretanto, são grande parte dos locais destruídos, embora o Exército de Israel afirme oficialmente que seu objetivo é a destruição da “infraestrutura do terror”, especialmente os túneis subterrâneos que afirma serem usados para transportar armas e invadir o território israelense.
  
Outros pontos ressaltados pelo Relatório Goldstone, e que se repetem na atual ofensiva, são os ataques deliberados contra a população civil, o que inclui o extermínio de famílias inteiras em massacres quase diários. Além dos bombardeios aéreos, o documento analisou as instruções dadas pelo Exército aos seus combatentes e citou testemunhos coletados pela organização de soldados Quebrando o Silêncio (Breaking the Silence) sobre a insuficiência das informações recebidas.

Ainda em 2012, em conversa com a jornalista do diário israelenseHaaretz, Amira Hass, que cobriu aquela e a atual ofensiva, ouvi que os soldados não sabiam o que faziam e não eram informados dos procedimentos ou dos objetivos da “operação militar”. Eles “davam declarações que faziam pouco sentido e informações incorretas” quando eram entrevistados, disse ela. Mesmo assim, eram, como hoje, os protagonistas das propagadas nacionalistas de guerra e do “esforço heroico” oferecido à “população inocente de Israel”.

Manipular o direito internacional para conduzir a ofensiva

Entre os principais argumentos elaborados pela Advocacia Geral Militar – órgão institucionalizado em 1950 para a assessoria jurídica na condução da guerra – do Exército israelense contra as críticas internacionais e as acusações de crimes de guerra está a de que o Hamas usa os civis, as maiores vítimas das ofensivas, como “escudos humanos”, já que “os terroristas” – a resistência composta basicamente de voluntários que veem suas famílias e vizinhos morrerem diariamente – “disparam foguetes contra Israel desde áreas habitadas” ou armazenam ali seus armamentos.

O Relatório Goldstone concluiu que não havia evidências para corroborar a alegação israelense, que pretendia desresponsabilizar Israel pelas mortes massivas de civis; o Hamas também negou a acusação, tanto em 2008 quanto neste mês. Ainda assim, lembrou Amira Hass: a Faixa de Gaza, um território de 360 quilômetros quadrados sitiado há oito anos, é um dos locais mais densamente povoados do mundo. 

Foto: Reuters  
Outra forma de se eximir é apropaganda do Exército israelense– o “Exército moral”, como o classificam seus defensores – sobre os panfletos despejados desde aviões ou mensagens por rádio ou celular e chamadas telefônicas em que avisam aos civis que suas casas serão bombardeadas. Algumas afirmam: “Deixe esta área imediatamente, pois ela será atingida em quatro minutos” e frases afins. Um panfleto lançado em 2008 concluía: “Você foi avisado!”, e é assim que as autoridades israelenses alegam cumprir a sugestão da quarta Convenção de Genebra Relativa à Proteção de Pessoas Civis em Tempos de Guerra, de 1949, para que “todos os meios possíveis” sejam adotados para evitar as mortes de civis.

As respostas ao Relatório Goldstone foram as mais variadas, mas a virulência da reação do governo israelense e de comunidades sionistas em várias partes do globo foi intimidante e, embora especialistas tenham analisado as respostas concluindo que não havia argumentos suficientes para refutar o documento, Goldstone, que foi rechaçado pela comunidade judaica do seu país, voltou atrás e se disse “arrependido”, declaração amplamente reproduzida pelos jornais israelenses e sionistas pelo mundo, temerosos que são pela imagem de autoridades israelenses no banco dos réus do Tribunal Penal Internacional, em Haia, para onde também devem ser encaminhados pelas violações cometidas na ocupação geral da Palestina.

Conselho de Direitos Humanos voltou a decidir por uma investigação das novas denúncias de crimes de guerra com apenas um voto contrário entre os 47 membros: o dos Estados Unidos, patrocinador oficial da violência e da impunidade israelense, que garante há décadas o veto a qualquer resolução consequente do Conselho de Segurança. O Brasil, membro do Conselho de Direitos Humanos que já havia declarado sua posição, condenou na sessão de 25 de julho as decisões de Israel, “a potência ocupante”, de agir “à custa da população civil, com o uso desproporcional da força”, embora também condenasse os foguetes lançados pelas brigadas da resistência palestina, rechaçando ainda o bloqueio contra Gaza e a expansão da ocupação israelense ilegal sobre os territórios palestinos. Em 25 de julho de 2014, a história ofereceu outra oportunidade e é preciso defendê-la. 


quinta-feira, 19 de junho de 2014

BAGDÁ URGENTE !

A estrada para Bagdá


Enquanto o mundo acompanha os jogos da Copa 2014, disputada no Brasil, as agências internacionais informam, em despachos urgentes, que rebeldes islâmicos sunitas se encontram há apenas algumas dezenas de quilômetros da capital iraquiana.

Há poucos dias, combatentes do EIIL - Estado Islâmico do Iraque e do Levante, capturaram Tikrit e Mossul, no norte do país, e em rápido avanço, tomaram em seguida Raqqa, Tal Afar, Suleiman Beg e Falluja. Ontem pela manhã, eles  cercavam Baquba, que, se cair também em suas maõs, lhes dará acesso à estrada que, ao longo de 60 quilômetros, os separa dos subúrbios de Bagdá.

Surpreendidos e desnorteados pela rapidez dos acontecimentos, os EUA, como já ocorreu antes, quando tiveram que abandonar, ás pressas, o Vietnam e a Somália, anunciaram o envio de 275 soldados para “proteger” seu corpo diplomático - quando na verdade eles podem estar indo para lá para organizar e cobrir sua retirada - no que pode ser o capítulo final de uma enorme tragédia que teve início com duas farsas: a do não comprovado envolvimento do regime de Saddam Hussein com os até hoje também não esclarecidos ataques de 11 de setembro de 2002; e a mentira sobre a existência, no Iraque, de “armas de destruição em massa” que nunca  foram encontradas.

Impossibilitado, pela própria opinião pública norte-americana - que não quer nem saber de falar em guerra - de se envolver diretamente com o conflito, os Estados Unidos falam em usar drones para atacar os rebeldes, e se dividem quanto a eventual cooperação com o vizinho estado iraniano, que por ser também xiita, simpatiza com o atual Primeiro-Ministro iraquiano, Nouri Maliki.

Chega a ser irônico que os EUA, agora, falem em proteger a “estabilidade” do Iraque. A intervenção norte-americana no país não foi somente injusta, cruel, absurda e desnecessária. Ela transformou-se em um verdadeiro fiasco moral, militar e econômico para os Estados Unidos.

No dia 16 de março de 2003, pouco tempo antes da invasão, o então Vice-Presidente de Bush, Dick Cheney, afirmou, em um encontro com a imprensa na Casa Branca, que a operação iria custar entre 80 e 100 bilhões de dólares, incluindo a conquista de Bagdá e a ocupação do Iraque, e dois anos de conflito.

Dez anos depois, em maio de 2013, um estudo denominado The Costs of War, do Instituto Watson de Estudos Internacionais da Universidade Brown - a sétima mais antiga dos Estados Unidos - calculou em quanto havia ficado a conta para os contribuintes: um trilhão e setecentos bilhões de dólares, mais 490 bilhões de dólares em despesas médicas e indenizações e pensões para os veteranos, que, até que essa geração desapareça, podem chegar a 6 trilhões de dólares, nos próximos 40 anos.

A isso, é preciso acrescentar, segundo a organização antiwar.com, cerca de 5.000 soldados norte-americanos mortos e desaparecidos, e um número estimado de 100.000 feridos.

As mortes diretas de iraquianos, ainda segundo o estudo da Brown, foram de 134.000 civis, número que deve ser multiplicado por quatro, considerados os que morreram por ferimentos, enfermidade e fome até agora, principalmente crianças. Somando-se ao número inicial, membros de “forças de segurança”, rebeldes, jornalistas e funcionários de organizações humanitárias, chega-se a um número aproximado de 189.000 vítimas.

Antes da intervenção norte-americana no Iraque, o regime de Saddam e o dos Aiatolás, se vigiavam mutuamente, contribuindo para manter certo equilíbrio de forças na região.

Com a destruição da nação iraquiana, os Estados Unidos – assim como estão fazendo na Ucrânia, na Síria, na Líbia - substituíram um país relativamente estável, sem grandes conflitos internos, no qual conviviam diversas etnias, por um inferno de morte e violência do qual, como sempre, se afastaram, depois, quando a situação piorou, como se não tivessem absolutamente nada a ver com isso.

E tudo isso para que ? Para, depois de tantos anos de uma guerra tão cara como brutal, desumana e inútil, os EUA, absolutamente impotentes, verem  tropas rebeldes sunitas islâmicas - muito mais anti-EUA do que Saddam Hussein jamais foi - tomarem conta do país.

Para, depois, correrem o risco de ter de assistir tropas do Irã - a maior potência política e militar da região – tomarem também a estrada para Bagdá, como pacificadores, entregando o Iraque, de bandeja, para um país que sempre consideraram seu arqui-inimigo naquela região.
 

quarta-feira, 11 de junho de 2014

UCRÂNIA

Diplomacia russa é o motor do processo de estabilização na Ucrânia


A Rússia continua realizando ativamente consultas com seus parceiros internacionais para encontrar uma solução para a gravíssima crise que colocou a Ucrânia à beira de desaparecer como país.

Por Serguei Duz , na Voz da Rússia


RIA Novosti/Vladimir Pesnya
Serguei Lavrov em maio
O ministro das Relações Exteriores da Rússia Serguei Lavrov discutiu com os dirigentes da Finlândia os possíveis caminhos para a resolução do problema. De Helsinque ele irá viajar diretamente para São Petersburgo, onde estão planejadas reuniões com seus homólogos alemão e polonês.

Na opinião do ministro das Relações Exteriores alemão, Frank-Walter Steinmeier, a fase mais crítica do conflito ucraniano já terá sido, provavelmente, ultrapassada, mas a sua solução ainda estará longe.

Neste momento a Alemanha deposita enormes esperanças na reunião de Lavrov com Steinmeier e com o ministro das Relações Exteriores da Polônia Radoslaw Sikorski. É evidente que essas esperanças também são partilhadas pelas outras capitais europeias. Mais uma vez a diplomacia russa tem na sua mão a chave da estabilidade no continente. Temos de referir que os políticos ocidentais razoáveis partilham muitas das abordagens de Moscou relativamente a esse problema. Já o ponto de vista de Varsóvia é diferente.

O chefe da diplomacia polonesa já se manifestou por diversas vezes contra a posição da Rússia relativamente à crise na Ucrânia. Ele também se pronunciou contra a venda a Moscou dos porta-helicópteros franceses da classe Mistral, que estão sendo construídos por encomenda de Moscou. Sikorski também tinha acrescentado que no seu país devia estar estacionado um maior contingente militar proveniente dos EUA e da Europa.

Contudo, Varsóvia deverá provavelmente acabar por dar ouvidos à opinião de Berlim em como a Europa não está interessada no isolamento da Rússia. Assim, há boas hipóteses de no próximo encontro tripartido os ministros poderem encontrar soluções novas e mais otimistas que as atuais. Também é evidente que até ao fim dessa reunião todas as conversas sobre esse tema terão apenas um caráter hipotético.

Sobre os resultados da visita do ministro Lavrov à Finlândia, porém, onde seus interlocutores foram o chefe da diplomacia finlandesa Erkki Tuomioja e o presidente do país Sauli Niinisto, já podemos falar com um otimismo evidente. Em todo caso, o próprio ministro das Relações Exteriores da Rússia sublinhou numa conversa com jornalistas o caráter construtivo que teve essa visita:

“Quanto à Ucrânia, que foi o tema principal das conversações, apesar de todas as ressalvas, nós temos uma posição comum sobre o denominador comum, que é o comunicado de Genebra de 17 de abril, e o roteiro nele baseado da presidência suíça da OSCE. Esses documentos abrem caminho à regulação, começando pelos passos prioritários para pôr fim à violência, e para a organização de um diálogo ucraniano geral e inclusivo e de uma profunda reforma constitucional tendo em conta os interesses de todas as forças políticas e de todas as regiões da Ucrânia.”

É interessante verificar que alguns peritos propõem, na qualidade de uma das versões possíveis para o futuro pós-crise, a chamada “finlandização” da Ucrânia. Esse termo não é novo. Em resumo, nos tempos da Guerra Fria, ele significava uma política baseada na neutralidade, na renúncia à adesão à OTAN, nas aspirações em ser uma espécie de ponte entre o Oriente e o Ocidente, na adesão completa aos valores ocidentais e respeitando os interesses do seu vizinho a leste.

Apesar de uma série de analistas duvidar da aplicabilidade da experiência política finlandesa à Ucrânia, os partidários desse tipo de evolução dos acontecimentos encontram vários paralelismos. Tanto a Finlândia, como a Ucrânia, representam na sua essência fragmentos de antigos países. Ambos os países têm o problema do bilinguismo, só que os finlandeses já o resolveram há muito tempo: eles têm o finlandês e o sueco como línguas oficiais (apesar de esta última ser a língua nativa de menos de 6% da população).

Essa análise comparativa pode ser continuada. É sintomática a resposta do ministro Lavrov na coletiva de Turku: ele expressou a esperança de a Ucrânia poder vir a ser, não um fator de divisão na Europa, mas uma espécie de ponte, tal como a Finlândia nos anos da Guerra Fria. Na prática essas palavras do ministro Lavrov significam que também Moscou vê as analogias geopolíticas entre a Ucrânia e a Finlândia.

O principal é não obrigar a Ucrânia a se dividir entre o Ocidente e o Oriente. A realidade sociopolítica ucraniana é bastante mais complexa do que parece a Washington e a Bruxelas, que já cometeram um grande número de erros catastróficos na análise da situação, erros que acabaram por provocar uma guerra civil. Os erros devem ser emendados o mais depressa possível, enquanto o desmoronamento do Estado ucraniano não adquiriu um caráter irreversível.

terça-feira, 10 de junho de 2014

VÁ DE RETRO !

A retirada do rei Juan Carlos

Por Mauro Santayana, em seu blog:

A abdicação de Juan Carlos do trono, em favor de Felipe de Astúrias, faz lembrar, de pronto, a tentativa frustrada de golpe de 17 de fevereiro de l977, pelo coronel Enrique Tejero, da Guarda Civil.

Durante muito tempo, pairaram dúvidas sobre o papel do Rei naquela noite, até hoje não de todo esclarecido. O certo é que os golpistas, durante o episódio, falaram como se obedecessem a suas ordens, e que seu nome foi proposto, por eles, para assumir o poder, depois de passar pela eventual aprovação de um plenário cercado por tropas, e sob a mira de um louco, com uma pistola automática na mão.

Com o tempo, passando por histórias de amantes e de caçadas de elefantes, Juan Carlos I estabeleceu uma personalidade cheia de contrastes, e de situações nebulosas.

Sempre teve estreitas relações com os grandes “magnatas” espanhóis e seus negócios na América Latina, em uma época em que a Espanha achava que podia promover arrogante reconquista de seus antigos territórios, esquecendo-se, os espanhóis e seus oligarcas, de que só estavam em situação aparentemente positiva graças a bilhões de euros a fundo perdido da União Européia e a gigantescas dívidas que terão de pagar agora.

A intimidade com o mundo dos negócios, e com gente que enriqueceu rapidamente, na esteira da entrada da Espanha no euro, levaria a família real – que já contava com generosa “renda” e todas as despesas pagas pelo erário – a envolver-se em uma série de escândalos e negociatas.

O genro do Rei, Iñaki Urdangarin, um ex-jogador de handebol – que ocupava cargos em conselhos de várias empresas espanholas, inclusive a Telefónica América Latina, dona da “Vivo” no Brasil – foi acusado de desvio de dinheiro público, por meio de uma organização fundada por ele, aparentemente “sem fins lucrativos”, o Instituto Noos, que prestava – sem os executar – serviços superfaturados para províncias e municípios espanhóis.

Mesmo posando de democrata, em momentos emblemáticos, Juan Carlos não conseguiu esconder sua verdadeira face, profundamente conservadora e neocolonial, quando disse o que queria – e ouviu o que não queria – ao proferir, em reunião de uma das fracassadas cúpulas “íbero-americanas”, para o Presidente Chavez, “porque no te callas?”

Ao abdicar em favor de seu filho, Juan Carlos I abre mão do reinado para salvar uma monarquia contestada.

Um sistema que é o retrato mais forte de uma Espanha anacrônica e cada vez mais irrelevante, que se encontra dividida por polêmicas intestinas dentro de suas próprias fronteiras.

O seu gesto, interesseiramente apresentado, pela mídia conservadora espanhola, como o da renúncia de um nobre cavalheiro, cansado depois de longa caminhada em defesa de seu povo, pode ter o efeito de um tiro saindo pela culatra, e precipitar, como se viu nas manifestações realizadas em toda a Espanha, o fim da monarquia em seu país.

AMÉRICA LATINA

Momento político-eleitoral em países da América Latina aponta mudanças


Adital
A corrida eleitoral transforma um país. Além de servir para promover uma renovação da classe política e para a articulação de vontades entre diferentes posições, também possibilita uma oxigenação da ordem existente e seu pluralismo, contribuindo para a estabilidade, redefinição de contornos e abertura de possibilidades para modificação. A análise é do Centro Estratégico Latino-Americano de Geopolítica (Celag), no documento "A disputa eleitoral na América Latina 2014”.
O Celag apresenta um mapa das disputas eleitorais em todos os países da região e traça um panorama das principais forças políticas atuantes, os partidos opositores, resultados das últimas eleições e a situação política frente à corrida eleitoral em países onde a votação esteja se aproximando. A análise foca a corrida presidencial. A seguir, destacamos o panorama político-eleitoral de alguns países.
As eleições presidenciais no Chile aconteceram no fim de 2013. Após uma disputa acirrada com oito candidatos Michelle Bachelet retomou a cadeira presidencial em segundo turno, deixando a conservadora Evelyn Matthei, da Aliança País, para trás. O Celag destaca que, atualmente, no mapa político conjuntural chileno as forças políticas da esquerda revolucionária - o Movimento Todos a La Moneda e o Partido Igualdade - estão unidas oficialmente desde 27 de março, no projeto Frente Ampla por uma Assembleia Constituinte autoconvocada, em que propõem derrubar a Constituição pinochetista de 1980 ao invés de construir uma simples Reforma Constitucional. Isto porque durante a ditadura de Augusto Pinochet, em 1980, a Constituição foi mudada de maneira arbitraria e é a que ainda segue vigente.
Na Colômbia, onde está previsto o segundo turno das eleições presidenciais para o próximo dia 15 de junho, a corrida eleitoral pelo mais alto cargo já começou de forma tensa, com a destituição de Gustavo Petro (Partido Verde), prefeito de Bogotá. A decisão gerou forte polêmica e fez com que 60% da população da cidade ficassem contra o presidente Juan Manuel Santos, que acatou a ordem da Procuradoria de destituir e desabilitar Petro. O relatório aponta que o posicionamento de Santos causou um grande impacto na campanha eleitoral. Vale ressaltar que nas eleições presidenciais de 2010, Antanas Mockus, do Partido Verde, era o principal opositor de Santos.
Costa Rica vive um momento político diferente, com a vitória de Luis Guillermo Solís Rivera, do Partido Ação Cidadã (PAC). Ele enfrentou Johnny Araya Monge, do tradicional Partido Liberação Nacional (PLN) no segundo turno e venceu com 94% dos votos. A vitória de Solís Rivera pode apontar para uma caminhada moderada da América Central em direção à esquerda.
Em outubro, o Brasil celebra eleições presidenciais, no entanto, o momento político vem sendo ofuscado pela Copa do Mundo de Futebol, que começará em poucos dias no país. Em 2010, nas últimas eleições, o Partido dos Trabalhadores (PT) conquistou mais quatro anos de governo, elegendo a primeira mulher para o cargo na história brasileira, Dilma Rousseff, fortemente apoiada pelo então presidente Lula. O Celag analisa que o último ano de Dilma foi, sem dúvida, o mais turbulento de sua gestão e o que apresentou maior queda de sua popularidade, mesmo assim, a presidenta ainda aparece como preferida nas pesquisas de intenção de votos.
O clima de instabilidade no país teve início com as manifestações de junho de 2013, motivadas inicialmente pela elevação no preço do transporte público e pelos gastos com a Copa do Mundo. Após as primeiras manifestações, os jovens - principais organizadores das ações - continuaram a sair às ruas para denunciar a repressão policial e a criminalização dos protestos em todo o país. Várias manifestações estão sendo prometidas para repudiar a Copa e os exorbitantes gastos públicos.
A economia também é motivo de preocupação no país, já que houve significativa desaceleração do crescimento se comparado a outros países da região; a tendência inflacionária também é alta, com média de cerca de 6% ao ano; e a falta de chuva ameaça o abastecimento de energia hidrelétrica. Apesar da soma de problemas e de um eleitorado cada vez mais crítico, o Celag analisa que o crédito do PT e de seus sócios se mantém graças à marca de Lula e aos programas sociais que tiraram milhares de pessoas da pobreza nos últimos anos.
Desde o último dia 1º de junho, El Salvador está sob a gestão de Salvador Sánchez Cerén, da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN), organismo que foi fundado como um grupo guerrilheiro em 1980, no início da guerra civil no país.
O Celag analisa que esse é um momento histórico para El Salvador e destaca que a FMLN precisará estabelecer políticas e estratégias para reconstruir governabilidade e estabelecer acordos parlamentares, já que seu governo estará constantemente ‘assediado’ pelo Partido Arena. Outro desafio é a desigualdade social e as demandas sociais e econômicas das classes médias urbanas. O FMLN precisará dar atenção a essa camada da população se quiser ampliar sua base eleitoral.
"As direitas políticas, hoje agrupadas – fundamentalmente – no Arena e no Movimento de Unidade, assumirão um movimento pendular. Por um lado, um papel negociador e, por outro, de desgaste e erosão. O que fica por observar é a intensidade dos papeis e qual estratégia primará, assim como que ação realizarão esses partidos frente ao novo governo”, analisa o Celag.
Desde o golpe de Estado sofrido pelo presidente Manuel Zelaya, em 2009, cada período eleitoral vivido em Honduras demonstra as tensões de um sistema político em crise. A eleição presidencial realizada em 2013 foi a segunda após o golpe. O destaque foi a incorporação do Partido Libre (nascido em 2010 como plano político eleitoral dos movimentos e organizações membros da Frente Nacional de Resistência Popular, formada após o golpe) na arena eleitoral. A candidatura de Xiomara Castro, esposa de Zelaya, pelo Libre, representou uma ruptura ao bipartidarismo.
A eleição, que teve ampla participação de funcionários da Embaixada dos Estados Unidos, foi vencida por Juan Orlando Hernández, do Partido Nacional, que obteve uma vantagem de 8,01% sobre Xiomara. O Libre denunciou fraude eleitoral. Assim, hoje, Honduras continua a viver um clima de instabilidade, com um governo que vem investindo pesado em equipamentos de guerra e reprimindo protestos sociais.
No último dia 04 de maio, se realizaram as eleições presidenciais no Panamáe o resultado que veio das urnas permitiu que um ciclo se fechasse no país, o ciclo do multimilionário Ricardo Martinelli, do partido Mudança Democrática e de sua experiência governamental. Em sua gestão, Martinelli não provocou uma ruptura ideológica com a administração de Martín Torrijos (2004-2009), na verdade produziu uma reafirmação das políticas neoliberais e dos atores que a sustentam. Hoje, a cadeira presidencial é ocupada por Juan Carlos Varela, ex-vice-presidente do país e dirigente do Partido Panamenhista (PPA).
O Celag aponta que um partido neoconservador desbancou outro, sendo assim, apenas troca-se uma modalidade neoconservadora por outra. A colonização e a subordinação do Estado em favor dos empresários - estratégia do presidente Martelli - foi derrotada pela volta a um partido tradicional, que representa - mais além de seus interesses neoconservadores e seus vínculos com empresários - a volta da classe política, aquela que não abandonou o controle territorial e que aproveitou a sociedade com Martelli para crescer politicamente.
Leia o documento na íntegra (em espanhol):http://www.cronicon.net/paginas/edicanter/Ediciones97/Nota11.pdf

sábado, 24 de maio de 2014

LÍBIA

Líbia de novo no cenário internacional

Lejeune Mirhan *

Desde a derrubada de Muammar Khadaffi em 2011, apoiado por rebeldes e terroristas que assolam todo o mundo árabe e com bombardeio das forças da OTAN, seus grandes aliados, a Líbia quase estava fora do noticiário internacional. Voltou quando um embaixador estadunidense foi morto em Benghazi. O Estado líbio foi praticamente destruído. O espírito tribal volta à cena e o exército se desfaz. Agora, surge um general que pretende alterar a estrutura de coisas. É tema de nossa coluna esta semana. 


Ele atende pelo nome de Khalifah Haftar. Foi general do antigo exército do Estado líbio com Khadaffi. Havia se exilado ao romper com o coronel e líder do país por décadas. Biografias disponíveis dizem que ele até teria sido treinado na Rússia. Mas, o certo é que estava exilado e morando nos Estados Unidos.

Pois bem. Para surpresa de muitos e com pouca ou quase nenhuma cobertura da mídia internacional, eis que ele surge se autodenominando comandante do Exército Nacional Líbio, coisa inexistente. Um ajuntamento de soldados recrutados em tribos simpatizantes do general, em especial a da família Khadaffi.

No último domingo, dia 18 de maio, tomam de assalto a principal rede de TV da Líbia, fecham o parlamento e anunciam que combaterão até o fim os fundamentalistas islâmicos vinculados à rede terrorista Al Qaeda e a Irmandade Muçulmana, que inclusive, tinha maioria no parlamento. Ele foi apoiado por um coronel de nome Mokhtar Fernana. Suas bases mais fortes são na capital Trípoli e na segunda maior cidade Benghazi. Ainda nesta semana o ministro do Interior do governo anunciou seu apoio à Khalifah e diversas outras autoridades.

O general Khalifah anuncia a sua operação e lhe dá o nome de Karama (Dignidade em árabe). Diz que lutará contra a islamização do país, defenderá a laicidade e se coloca contrário que sejam aplicadas as leis da Sharia, regras do direito islâmico.

As eleições gerais no país estavam marcadas para agosto e a comissão eleitoral nacional anunciou nesta semana a antecipação para 25 de junho. Não sabemos se em consonância com o novo líder líbio.

As informações ainda são esparsas e não temos ainda condições de formar uma opinião. Em especial porque estamos acostumados a tecer análises com base na realidade de nosso país, que tem partidos estruturados e sabemos bem a diferença entre esquerda e direita.

O que fica claro é que na Líbia hoje temos dois grandes blocos. Um, da Irmandade e de sunitas fundamentalistas, muito vinculados ao terrorismo que usam o Islã como sua arma principal e outro bloco os que defendem a laicidade do Estado líbio.

A ideologia do primeiro bloco é amplamente conhecida. Vimos sua ação na Síria que resultou na destruição de grande parte da infraestrutura do país e a morte de mais de cem mil pessoas. Mesmo no Egito, esse agrupamento praticou atos terroristas e massacrou o povo. Quem não é muçulmano tem que pagar caro por isso. É a volta à Idade Média.

O que não está claro é como pensam os que integram o segundo bloco sob a liderança do general Khalifah. Muitas perguntas não estão respondidas, em especial se ele tem apoio dos Estado Unidos ou manterá a independência do país, que vive sob cerco das tropas da OTAN.

A história do general Khalifah


Khalifah tem hoje 65 anos. Era cadete do exército quando, em 1969, os coronéis liderados por Khadaffi derrubaram o rei Idris e implantaram a República. Ele apoiou esse movimento e se aproximou do novo líder do país. Chegou a ser chefe da guarda militar pessoal do presidente Khadaffi.

Entre 1978 e 1987, lutou clandestinamente no vizinho Chade, mas sob ordens de Khadaffi. Ao final, foi derrotado e ele e mais 300 soldados foram feitos prisioneiros. Khadaffi viveu uma imensa contradição. Ele não poderia reconhecer que tinha soldados lutando no país vizinho. Assim, optou por negar tudo e disse sequer conhecer o então tenente-coronel Khalifah. O atual general sofreu muito nas cadeias do Chade, tempo que aumentou seu ódio pelo líder líbio. Prometeu vingança. Chegou a fazer acordos com o governo do Chade, foi libertado sob a condição de formar uma milícia, que chamou de Exército Nacional Líbio.

Morou exilado nos Estados Unidos, no Estado da Virgínia, exatamente na cidade de Langley, onde fica o Quartel General da CIA. Há fortes suspeitas de que foi treinado por essa organização de espionagem, pois os EUA queriam, há muito, tirar Khadaffi do poder. No entanto, nos últimos anos da vida de Khadaffi ele acabou fazendo acordos com os EUA e a União Europeia, chegando a indenizar as famílias vítimas do atentado do Boeing da Lokerbee que caiu na Inglaterra e matou quase 500 pessoas. Aplicou a política neoliberal, negando praticamente o seu passado.

O general Khalifah retornou à Benghazi já no levante insuflado pela Europa e EUA, com apoio da OTAN, que visava derrotar Khadaffi. Isso foi no primeiro semestre de 2011. Chegou com a sua milícia e para organizar os rebeldes pela derrubada do presidente.

De lá para cá foi promovido à patente de general e lidera tropas. Muitos o consideram um militar muito preparado, profissional e com muita experiência em batalhas. O braço político de sua organização militar que ele lidera chama-se Frente de Salvação Nacional. Ele expressa profunda divergência com os fundamentalistas da Irmandade Muçulmana, apoiada pelos EUA e pelos terroristas da Al Qaeda. Refere-se a eles como “grupos extremistas” e “flagelo terrorista”.

Nos últimos dias passou a ter o apoio do chefe do Estado Maior da Força Aerea, coronel Joma Al Abani. Diversos ministros do atual governo, de maioria conservadora, sunita e vinculado à Irmandade.

Perspectivas para a Líbia


Não se pode prever o desfecho dos acontecimentos. O que sabemos ao certo é que a Líbia é na verdade um agrupamento de grandes tribos espalhadas pelas várias regiões. O general é apoiado pelas maiores e mesmo a da família de Khadaffi. Não temos notícias ainda da extensão do seu apoio tanto na população, quanto na estrutura do Estado líbio, praticamente destruída com apoio da OTAN, como fizeram no Iraque e tentam fazer agora na Síria. Se não podem derrubar o líder, destroem o país por completo.

Aqui, mesmo sem saber em detalhes a ideologia do general, seu plano de salvação nacional da Líbia, quero arriscar alguns palpites.

Como disse acima, temos dois grandes blocos no país, ainda sem uma nítida divisão e clareza ideológica. No entanto, do lado defendido pelo general está a laicidade do Estado, dos valores seculares e contra a islamização do país. Não sabemos as suas concepções de democracia. No entanto, o outro campo é fundamentalista. É apoiado pela Irmandade e pelo grupo terrorista Al Qaeda que tantos males e ataques vem causando em vários países do mundo.

O campo do fundamentalismo defende a volta à Idade Média, a um Islã do século VII, da época do profeta Maomé. Defende a implantação de um estado islâmico. O sistema judicial que propõem baseia-se na Sharia, conjunto de normas islâmicas do direito que tem como base única e exclusivamente o Alcorão. Defendem a imposição do véu para todas as mulheres. Mas mais do que isso, defendem imensas restrições aos direitos das mulheres, como na Arábia Saudita e outros lugares que dominam.

Até por isso, podemos ter opinião inicial de que é preciso, de fato, combater o terrorismo e o extremismo. É claro que não devemos seguir a linha do “inimigo de meu inimigo é sempre meu amigo”. A vida vai mostrar, em breve, talvez em dias, a que veio esse general.

Parte da imprensa internacional que pude ler chegam a aponta-lo como uma espécie de general Sisi, que é o comandante do exército egípcio e forte candidato nas eleições deste final de semana e deve vencê-las. Vamos ver. Breve saberemos. 

VENEZUELA

Venezuela e as manipulações da mídia

http://aporrea.org/
Por Salim Lamrani, no site Opera Mundi:

Apesar de a violência mortífera que ataca o país desde fevereiro de 2014 ser resultado de ações da oposição, os meios de comunicação ocidentais insistem em acusar o governo democrático de Nicolás Maduro.

Desde 1998, a oposição venezuelana tem rejeitado os resultados das eleições democráticas, com uma exceção: reconheceu a legitimidade de sua vitória no referendo constitucional de 2 de dezembro de 2007, o qual ganhou com uma margem inferior a 1%. Assim, a direita se opôs resoluta aos governos de Hugo Chávez de 1999 a 2013 e ao de Nicolás Maduro desde abril de 2013. Utilizou todos os métodos para derrubá-los: golpe de Estado, assassinatos políticos, sabotagem petroleira, guerra econômica, convocações a revoltas e campanhas midiáticas de desprestígio.

Desde fevereiro de 2014, a Venezuela é vítima de uma violência mortífera que custou a vida de mais de 40 pessoas, entre elas 5 membros da guarda nacional e um promotor da República. Mais de 600 pessoas ficaram feridas, entre elas 150 policiais, e os danos materiais superam os 10 bilhões de dólares: ônibus queimados, estações de metrô saqueadas, uma universidade —a UNEFA — completamente destroçada pelas chamas, dezenas de toneladas de produtos alimentícios destinados aos supermercados públicos reduzidos a cinzas, edifícios públicos e sedes ministeriais saqueados, instalações elétricas sabotadas, centros médicos devastados, instituições eleitorais destruídas etc. [1].

Frente a essa tentativa de desestabilização destinada a provocar uma ruptura da ordem constitucional, as autoridades venezuelanas deram uma resposta enérgica e começaram a prender vários líderes da oposição que fizeram apelos à insurreição ou promoveram atos de vandalismo, e quase mil pessoas envolvidas com a violência [2]. Como todo Estado de Direito e no estrito respeito às garantias constitucionais, a Justiça venezuelana julgou os acusados e lhes aplicou as sanções previstas no Código Penal para atos semelhantes [3].

Os meios de comunicação ocidentais denunciam atentados contra os direitos humanos. Ao mesmo tempo, omitem cuidadosamente os assassinatos que os manifestantes cometeram, as apreensões, por parte da polícia, de armas e explosivos entre esses grupos apresentados como pacíficos e as destruições de propriedades públicas e privadas [4].

De fato, a indignação midiática tem dois pesos e duas medidas e não se aplica de modo universal. Efetivamente, a imprensa observa um surpreendente silêncio quando os países ocidentais tomam medidas muito mais draconianas por distúrbios muito menos graves que os que atacam a Venezuela.

O caso da França é revelador. No dia 27de outubro de 2005, estouraram revoltas urbanas nos bairros populares de Paris e das grandes cidades do país, depois da morte acidental de dois adolescentes perseguidos pela polícia. A importância da violência - que não causou nenhum morte - era menor que a que atingiu a Venezuela nas últimas semanas.

Entretanto, a partir de 8 de novembro de 2005, o presidente Jacques Chirac decidiu declarar o estado de exceção em todo o país e instaurar um toque de recolher mediante o decreto 2005-1386, durante vários meses, aplicando assim a lei de 3 de abril de 1955 adotada durante... a guerra da Argélia. Essa lei, que não era utilizada desde 1961, suspende as garantias constitucionais e atenta gravemente contra as liberdade públicas já que permite “proibir o trânsito de pessoas”, “instituir zonas de proteção ou de segurança onde se regulamenta a permanência de pessoas” e declara “prisão domiciliar em uma circunscrição territorial para toda pessoa que resida na zona determinada pelo decreto” [5].

Da mesma maneira, “o ministro do Interior, para todo o território onde está instaurado o estado de exceção, e o prefeito da província, podem ordenar o fechamento provisório de salas de espetáculos, bares, restaurantes e locais de reunião de todo tipo nas zonas determinadas pelo decreto previsto no artigo 2. Podem também proibir, a título geral ou particular, as reuniões cuja natureza possa provocar ou alimentar a desordem.” [6].

A lei de 3 de abril de 1955 confere “às autoridades administrativas apontadas no artigo 8 o poder de ordenar registros de domicílio dia e noite” e habilita “as mesmas autoridades a tomarem todas as medidas para assegurar o controle da imprensa, das publicações de toda índole, assim como dos programas de rádio, das projeções cinematográficas e das representações teatrais” [7].

Essa lei dá o poder à Justiça Militar de substituir a Justiça Civil. Assim, “pode autorizar a jurisdição militar a se encarregar de crimes, assim como dos delitos que lhe são conexos, que competem [normalmente] ao tribunal regional”, em detrimento da jurisdição de direito comum [8].

Para justificar semelhantes medidas que contrariam a Convenção Europeia de Direitos Humanos (CEDH), Paris evocou o artigo 15 da CEDH que autoriza “em caso de guerra ou de perigo público que ameace a vida da nação”, suspender as obrigações às quais a França tinha se comprometido [9].

Em nenhum momento a Venezuela - atacada por uma violência mais severa que a de 2005 na França - instaurou o estado de exceção, nem suspendeu as garantias constitucionais, nem atentou contra as liberdades públicas, nem impôs a Justiça Militar em detrimento da Justiça Civil.

Um exemplo mais recente é também ilustrativo. Depois dos distúrbios que aconteceram na cidade de Amiens, no dia 14 de agosto de 2012 que causaram danos materiais (uma escola e vários edifícios públicos incendiados) e feriram 17 policiais, a Justiça francesa sancionou severamente os autores desses delitos. Seis pessoas foram condenadas a penas de um a cinco anos de prisão [10]. O tribunal de menores de Amiens, inclusive, condenou cinco adolescentes de 14 a 17 anos a penas de até 30 meses de prisão [11].

Seria fácil multiplicar os exemplos. Quando a polícia de Nova York prendeu arbitrariamente mais de 700 manifestantes pacíficos, os quais foram vítimas de brutalidades por parte das forças da ordem, os meios de comunicação não acusaram o governo de Barack Obama de violar os direitos humanos [12].

Da mesma maneira, quando a polícia brasileira reprimiu violentamente os manifestantes pacíficos em São Paulo e prendeu 262 pessoas em um único dia, agredindo ao mesmo tempo vários jornalistas, os meios de comunicação, com razão, não colocaram em julgamento a legitimidade democrática da presidenta Dilma Rousseff [13].

Os meios de comunicação ocidentais são incapazes de mostrar imparcialidade quando se trata de abordar a complexa realidade venezuelana. A imprensa se nega a cumprir seu dever, que consiste em difundir todos os fatos e zomba do Código de Ética Jornalística. Prefere defender uma agenda política bem precisa, a qual vai contra os princípios elementares da democracia e da vontade do povo venezuelano expressada múltiplas vezes nas urnas.

Notas:

1. Agencia Venezolana de Noticias, "Violencia derechista en Venezuela destruye 12 centros de atención médica y electoral", 27 de março de 2014.
2. Salim Lamrani, "Se a oposição venezuelana fosse francesa... ", Opera Mundi, 11 de abril de 2014. (site consultado no dia 20 de maio de 2014).
3. EFE, "Lilian Tintori expone el caso de Leopoldo López ante autoridades españolas”, 18 de maio de 2014.
4. Paulo A. Paranagua, « Leopoldo Lopez, prisonnier politique numéro un du président vénézuélien Maduro », Le Monde, 22 de abril de 2014. (site consultado no dia 20 de maio de 2014).
5. Loi n°55-385 du 3 avril 1955 relatif à l’état d’urgence. (site consultado no dia 20 de maio de 2014).
6. Ibid.
7. Ibid.
8. Ibid.
9. Convention européenne des droits de l’homme, article 15. (site consultado no dia 20 de maio de 2014). 

10. Le Monde, « Emeutes d’Amiens : jusqu’à cinq ans de prison ferme pour les violences », 16 de maio de 2014. (site consultado no dia 20 de maio de 2014). 

11. Le Monde, « Emeutes d’Amiens : jusqu’à 2 ans de prison ferme des mineurs », 13 de mayo de 2014. (site consultado no dia 20 de maio de 2014). 

12. Sandro Pozzi, "La policía detiene a 700 indignados por ocupar el puente de Brooklyn", El País, 2 de outubro de 2011. 

13. María Martin, "Ativistas denunciam brutalidade policial durante o ato contra a Copa de São Paulo”, El País, 14 de febrero de 2014. (site consultado el 20 de mayo de 2014).

EQUADOR


"A América Latina não vai mais aceitar o neocolonialismo", diz Correa


O presidente do Equador, Rafael Correa, disse nesta quinta-feira (22) que a política exterior do governo dos Estados Unidos “é terrível, sobretudo em relação à América Latina” e possui como característica fundamental uma “falsa moral intolerável”.


Wikicommons
Para o presidente do Equador, Rafael Correa, a política exterior do governo dos Estados Unidos “é terrível, sobretudo em relação à América Latina”.Para o presidente do Equador, Rafael Correa, a política exterior do governo dos Estados Unidos “é terrível, sobretudo em relação à América Latina”.
Em uma entrevista ao Russia Today, o mandatário equatoriano reafirmou que tem muita estima pelo povo norte-americano: “Admiro-os como nação, como cultura, o pragmatismo, a simplicidade, mas também temos que denunciar os seus erros”.

Correa afirmou que “a política estrangeira norte-americana é terrível, sobretudo no que diz respeito à América Latina”. Como vem fazendo há algum tempo, criticou o fato de a sede da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) ser em Washington e lembrou que os Estados Unidos não ratificaram o Pacto de San José que rege o organismo. “A CIDH é financiada por Washington, que paga para controlar o resto das nações do continente desde o ponto de vista jurídico”, afirmou o presidente do Equador.

Leia também:
Correa: "CIDH persegue governos progressistas da América Latina"
Chanceleres da Unasul debaterão criação do Banco do Sul e CIDH
Correa apresentará proposta de reforma do SIDH na cúpula da Alba

Para Correa, a Comissão “se tornou um instrumento de perseguição contra os governos progressistas”. Ele enfatizou ainda que “os problemas estão aí e se nós não resolvermos, nossos países continuarão sendo colônias” e completou dizendo que “na América Latina do século 21, não vamos aceitar mais o neocolonialismo”.

Na semana passada, durante a posse do presidente costarriquenho, Luis Guillermo Solís, Correa qualificou a situação da CIDH como “uma das clamorosas contradições e um dos mais graves resquícios do neocolonialismo em Nossa América e que muitos não se atrevem a dizê-lo claramente”.

O governo de Equador entrou recentemente em conflito com a CIDH após rejeitar as medidas de proteção que a entidade concedeu a três opositores equatorianos.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

O SÉCULO EURASIANO

Nasce o século eurasiano

Rússia e China fazem o Oleogasodutostão
Pepe Escobar, Tom Dispatch 


HONG KONG – Um espectro ronda Washington, visão enervante, enlouquecedora, de uma aliança sino-russa, casada numa simbiose de comércio e trocas em expansão que cresce e se alastra pela massa continental de territórios da Eurásia – e à custa dos EUA.

Não surpreende que Washington esteja ansiosa. Em vários sentidos, aquela aliança já é negócio fechado: através do grupo das potências emergentes BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul); na Organização de Cooperação de Xangai, o contrapeso asiático à OTAN; dentro do G-20;[1] e mediante o Movimento dos Países Não Alinhados [orig. Non-Aligned Movement, NAM].[2] Comércio e trocas são só uma parte da barganha futura. As sinergias no desenvolvimento de novas tecnologias militares, idem. Depois que estiver implantado o ultrassofisticado sistema russo de defesa antimísseis, padrão Star Wars, S-500[3], em 2018, não há dúvidas de que Pequim também quererá uma versão para ela. Entrementes, a Rússia está a um passo de vender dúzias de jatos de combate estado-da-arte Sukhoi Su-35[4] aos chineses, com Pequim e Moscou andando a passos largos para selar uma parceria no campo da indústria da aviação.

Essa semana deve fazer ver os primeiros grandes fogos de artifício na celebração de um novo século eurasiano que vai nascendo, quando o presidente Vladimir Putin encontrar o presidente da China Xi Jinping, em Pequim. 

Vocês lembram bem do Oleogasodutostão[5] – toda aquela malha de oleodutos e gasodutos que cruzam a Eurásia e são, de fato, o verdadeiro sistema circulatório pelo qual caminha e do qual se alimenta a própria vida naquela região. Agora, o negócio-mãe-de-todos-os-negócios do Oleogasodutostão, no valor de 1 trilhão de dólares e em preparação há uma década, será afinal posto em papel e tinta e assinado. Por esse negócio, a gigante russa de energia, Gazprom, controlada pelo estado, se comprometerá a fornecer[6] à CNPC [China National Petroleum Corporation], estatal chinesa, 3,75 bilhões de pés cúbicos de gás natural liquefeito por dia, por período não inferior a 30 anos, que se iniciará em 2018. É o equivalente a ¼ do total do gás que a Rússia exporta para toda a Europa. A demanda diária de gás na China está hoje em torno de 16 bilhões de pés cúbicos por dia; e as importações respondem por 31,6% do consumo total.

A Gazprom pode até continuar a recolher o grosso de seus lucros da Europa, mas a Ásia será seu Everest. A empresa usará essa mega-negócio para dar novo fôlego aos investimentos no Leste da Sibéria,[7] e toda a região será reconfigurada como fonte privilegiada de gás também para o Japão e a Coreia do Sul. Se você quiser entender por que nenhum país chave na Ásia deu ou dará qualquer sinal de querer “isolar”[8] a Rússia em plena crise ucraniana – e em aberto desafio ao que ordene o governo Obama – basta examinar o que se passa hoje no Oleogasodutostão.

Sai o petrodólar. Entra o gás-o-yuan

E é quando, por falar de ansiedade em Washington, há também a considerar o triste destino que espera o petrodólar, ou, em vez dele, a possibilidade ‘termonuclear’ de que Moscou e Pequim contratem o pagamento do negócio Gazprom-CNPC, não em petrodólares, mas em yuans chineses. Difícil imaginar tumulto tectônico maior que esse, com o Oleogasodutostão em intersecção-somatória com uma crescente parceria de energia sino-russa. E com ela, cresce também a possibilidade futura de forte impulso, comandado também por China e Rússia, em direção a uma nova moeda internacional de reserva – de fato, uma cesta de moedas – que deslocaria o dólar (pelo menos, nos sonhos otimistas dos países BRICS[9]).

Imediatamente depois dessa cúpula sino-russa que tem potencial para mudanças cataclísmicas, começará, em julho, a reunião de cúpula dos BRICS, no Brasil. É quando, afinal, um banco de desenvolvimento dos BRICS, com capital de $100 bilhões,[10] anunciado em 2012, nascerá oficialmente, como alternativa possível ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Banco Mundial, como fonte de financiamento de projetos para o mundo em desenvolvimento.

Mais cooperação entre os BRICS, com vistas a ‘atropelar’ o dólar, aparece também no ‘gás-o-yuan’[11] – gás natural comprado e pago em moeda chinesa. A Gazprom já considera, inclusive, lançar papéis especiais em yuan, como parte do planejamento para financiar a expansão da empresa. Bônus com lastro em yuan já estão sendo comercializados em Hong Kong, Singapore, Londres e, recentemente, começaram a ser comercializados também em Frankfurt.[12] 

Nada pode ser mais sensível para o novo Oleogasodutostão, que os contratos serem assinados em moeda chinesa. Pequim pagará à Gazprom russa nessa moeda (que pode ser convertida em rublos); a Gazprom acumulará yuan; e a Rússia, então poderá comprar montanhas de bens e serviços made-in-China, em yuan conversíveis em rublos.

Todos sabem que os bancos em Hong Kong, do Standard Chartered ao HSBC – além de outros intimamente ligados à China por cadeias negociais – já vêm diversificando seus portfólios na direção do yuan, o que implica que o yuan pode tornar-se uma das moedas globais de reserva de facto, antes, até, de que seja totalmente conversível. (Extraoficialmente, Pequim já está trabalhando na direção de um yuan totalmente conversível, já para 2018.)

O negócio Rússia-China de gás é inextrincavelmente ligado ao relacionamento de energia entre a União Europeia (UE) e a Rússia. Afinal, o grosso do PIB da Rússia vem de vendas de petróleo e gás, motivo pela qual a Rússia tanto se empenha em manter o mais perfeito equilíbrio na gestão da questão ucraniana. Por sua vez, a Alemanha depende da Rússia para suprir gordos 30% de suas carências de gás natural. Mas imperativos geopolíticos de Washington – temperados com histeria polonesa – empurraram Bruxelas a encontrar meios para ‘castigar’ Moscou na futura esfera de energia (sem gerar riscos para os relacionamentos de energia hoje vigentes).

Há boatos insistentes em Bruxelas nos últimos dias sobre o possível cancelamento[13] do Ramo Sul [orig. gasoduto South Stream], projeto de 16 bilhões de euros, cuja construção deve começar em junho. Depois de pronto, bombeará mais gás natural russo para a Europa – nesse caso, pelo subsolo do Mar Negro (contornando a Ucrânia), para Bulgária, Hungria, Eslovênia, Sérvia, Croácia, Grécia, Itália e Áustria.

Bulgária, Hungria e República Checa já deixaram claro que se opõem firmemente a qualquer cancelamento. É não é provável que se cogite de cancelar coisa alguma. Afinal, a única alternativa é o gás do Mar Cáspio, do Azerbaijão, e dificilmente acontecerá, a menos que a União Europeia consiga, repentinamente, mobilizar vontade política e muito dinheiro para, afinal, e contra todas as expectativas, organizar-se e construir o fabuloso oleoduto Baku-Tblisi-Ceyhan (BTC), concebido nos anos Clintons, para deixar na poeira a Rússia e o Irã.

Seja como for, em nenhum caso o Azerbaijão teria capacidade necessária para suprir os níveis necessários de gás natural, e outros atores, como o Cazaquistão, assolado por problemas de infraestrutura, ou o pouco confiável Turcomenistão, que prefere vender seu gás à China, já estão em boa parte fora do enquadramento. E não esqueçam que o Ramo Sul, combinado com projetos subsidiários de energia, criarão muitos, muitos empregos e investimentos, em muitos dos mais economicamente devastados países da União Europeia.

Mesmo assim, essas ameaças da União Europeia, embora pouco realistas ou completamente irrealistas, só servem para acelerar a simbiose crescente entre a Rússia e os mercados asiáticos. Para  Pequim especialmente, é situação de ganha-ganha. Afinal, entre energia fornecida através de mares policiados e controlados pela Marinha dos EUA, e rotas seguras, estáveis e sobretudo terrestres a partir da Sibéria, não é difícil preferir a Sibéria.

Escolha aí a sua própria Rota da (sua própria) Seda

Claro que o dólar norte-americano permanece como principal moeda global de reserva, envolvendo 33% do total das trocas em moeda estrangeira no final de 2013, segundo o FMI. Mas em 2000, eram 55%. Ninguém conhece a porcentagem em yuan (e Pequim não abre a boca), mas o IMF observa que reservas “em outras moedas” em mercados emergentes chegaram a 400%, desde 2003.

O Fed parece estar monetizando[14] 70% da dívida do governo dos EUA, numa tentativa de impedir que as taxas de juros tomem o rumo da estratosfera. Jim Rickards, conselheiro do Pentágono – e de todos os banqueiros que operam em Hong Kong – tende  a acreditar que o Fed está quebrado (mas eles nada dizem aos jornalistas sobre o tema). Ninguém se atreve sequer a imaginar a extensão de um possível dilúvio que o dólar dos EUA pode vir a sofrer, sob um Monte Ararat de $1,4 trilhão de derivativos financeiros. Que ninguém suponha que seria a morte do capitalismo ocidental; seria só um tropeço do neoliberalismo, essa fé econômica reinante, e ainda a ideologia oficial dos EUA, da maioria da União Europeia e de partes da Ásia e da América do Sul.

No que tenha a ver com o “neoliberalismo autoritário” (como talvez se possa dizer) do Império do Meio, qual o problema do qual reclamar hoje? A China provou que há alternativa orientada para resultados ao modelo capitalista ocidental “democrático”, para nações que visem a ser bem-sucedidas.  Trata-se de construir não uma, mas miríades de novas Rotas da Seda,[15] redes massivas de vias de alta velocidade, rodovias, oleodutos, gasodutos, portos e redes de fibra ótica por toda aquela abundância vastíssima de terras que é a Eurásia. Aí se inclui uma estrada do Sudoeste da Ásia, uma estrada da Ásia Central, uma “via marítima” pelo Oceano Índico e, até, uma ferrovia de alta velocidade que atravesse o Irã e a Turquia e chegue diretamente à Alemanha.

Em abril, quando o presidente Xi Jinping visitou a cidade de Duisburg no Rio Reno, onde há o maior porto de atracação do mundo, da indústria de aço alemã, fez ali uma proposta das mais ousadas: uma nova “Rota da Seda econômica” que se deveria construir entre a China e a Europa, sobre o eixo da ferrovia Chongqing-Xinjiang-Europa, que vai da China ao Cazaquistão, atravessa Rússia, Bielorrússia, Polônia e, finalmente, a Alemanha. São 15 dias de viagem por trem, 20 dias a menos que os cargueiros consomem viajando pelo litoral leste da China. E, sim, seria o terremoto geopolítico total, em termos de integrar o crescimento econômico por toda a Eurásia.

Tenham em mente que, se nenhuma bolha eclodir, a China deve passar a ser – e ficar nessa posição – a maior potência econômica global... de volta à posição que foi dela durante 18 dos últimos 20 séculos. Mas não contem aos hagiógrafos em Londres;[16] eles vivem da fé de que a hegemonia dos EUA é eterna, inabalável, que durará, digamos assim, para todo o sempre.

Leve-me para a Guerra Fria 2.0

Apesar de recentes graves lutas financeiras, os países BRICS seguem trabalhando conscientemente para converter-se numa contraforça em oposição ao [novamente] G7 – depois que de lá expulsaram a Rússia,[17] em março. Anseiam por criar uma nova arquitetura global para substituir a que foi imposta logo depois da 2ª Guerra Mundial, e veem-se, eles mesmos, como desafio possível ao mundo excepcionalista e unipolar que Washington imagina para nosso futuro (com ela própria no papel de robocop global, e a OTAN como seu braço-robocop-policial armado). O historiador e líder de hooliganismo imperialista, Ian Morris, em seu livro War! What is it Good For?[Guerra! Que utilidade tem a guerra?], define os EUA como o “globocop” radical e “derradeira esperança da Terra”.  Se esse globocop “desperdiçar sua missão”, escreve ele, “não há plano B”.     

Ora... Há, sim, um plano BRICS – ou, pelo menos, os países BRICS gostam de pensar que haja. E quando os BRICS agem nesse espírito, no cenário global, eles rapidamente mobilizam e conjuram contra sim uma estranha mistura de medo, histeria e fúria, noestablishment de Washington. 

Tomem, por exemplo, Cristopher Hill. O ex-secretário de Estado assistente para o Leste da Ásia e embaixador dos EUA no Iraque é agora conselheiro do Grupo Albright Stonebridge – empresa de consultoria com conexões profundas com a Casa Branca e o Departamento de Estado. Quando a Rússia andava por baixo, Hill gostava de delirar sobre uma “nova ordem mundial” norte-americana hegemônica. Agora que os russos, esses mal-agradecidos, estragaram tudo[18] que “o Ocidente ofereceu” – quer dizer, “status especial com a OTAN; relacionamento privilegiado com a União Europeia; e parceria em missões diplomáticas internacionais” – os russos estão, diz ele, trabalhando para fazer reviver o império soviético! Tradução: se você não é nosso vassalo, você está contra nós. Bem-vindos à Guerra Fria 2.0.   

O Pentágono tem sua própria versão disso, dirigida nem tanto à Rússia, mas, mais, contra a China, a qual, dizem os think-tanks especialistas em guerras futuras, já está, em vários sentidos, em guerra contra Washington.[19] Assim sendo, se não é Apocalipse-hoje, é Armageddon-amanhã. E nem é preciso dizer que, com tanta coisa dando errado, enquanto o governo Obama ‘pivoteia-se’ acintosa e publicamente para a Ásia, e a imprensa-empresa nos EUA faz a parte[20] de reviver uma política da era da Guerra Fria, de “contenção” no Pacífico, tudo é, sempre, culpa da China.

Embutidos no enlouquecimento geral da Guerra Fria 2.0, há alguns estranhíssimos fatos em campo: o governo dos EUA, com dívida interna de $17,5 trilhões e aumentando, contempla um confronto financeiro com a Rússia, o maior produtor global de energia e grande potência nuclear, assim como também está promovendo um ‘cerco’ militar economicamente insustentável contra seu próprio principal credor, a China.

A Rússia conta com considerável superávit comercial. Bancos chineses gigantescos não terão problema algum em ajudar bancos russos, se os fundos ocidentais secarem. Em termos de cooperação inter-BRICS, poucos projetos batem um oleoduto de $30 bilhões, em planejamento, que se estenderá[21] da Rússia à Índia, pelo noroeste da China. Empresas chinesas discutem empenhadamente a possibilidade de participarem na criação de um corredor de transporte[22] da Rússia para a Crimeia, além de um aeroporto, um estaleiro e um terminal de gás natural líquido. E há outro gambito ‘termonuclear’ em preparação: o nascimento de uma organização equivalente à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (orig. Organization of the Petroleum Exporting Countries OPEC), que incluirá Rússia, Irã, e, ao que se noticia,[23] também o Qatar, super insatisfeito aliado dos EUA.

Os planos de longo prazo (não declarados) dos BRICS envolvem a criação de um sistema econômico alternativo que incluirá uma cesta de moedas com lastro em outro, que deixaria de lado o atual sistema financeiro global EUA-cêntrico. (Não surpreende que Rússia e China estejam acumulando a maior quantidade possível de ouro.) O euro – moeda sólida apoiada em grandes mercados de papéis com liquidez e sólidas reservas de ouro – será também bem-vindo.

Não é segredo em Hong Kong que o Banco da China está usando uma rede paralela SWIFT para conduzir todo o tipo de negócio ou troca comercial com Teerã, apesar do pesado sistema de sanções comandado pelos EUA. Com Washington manobrando Visa e Mastercard como armas[24] numa campanha econômica de estilo mais Guerra Fria a cada dia, contra a Rússia, Moscou está a um passo de implementar sistema alternativo de pagamento e cartões de crédito, não controlado pela finança ocidental. Via ainda mais fácil seria adotar o sistema Union Pay chinês,[25] cujas operações já ultrapassaram, em volume global, o sistema American Express.   

Estou só a pivotear-me, eu comigo mesmo... 

Não há ‘pivotagem’ do governo Obama para a Ásia, para conter a China (e ameaçá-la com o controle pela Marinha dos EUA[26] de todas as rotas marítimas de energia para aquele país) que consiga empurrar Pequim para longe de sua estratégia autodescrita de “desenvolvimento pacífico”[27] inspirada em Deng Xiaoping, e que visa a converter a China em usina global de comércio e negócios. Nem futuros deslocamentos de soldados dos EUA ou da OTAN para o leste da Europa, ou outros movimentos[28] Guerra-Friistas[29] como esses conseguirão impedir Moscou de empreender sua ação de equilibramento: assegurar que a esfera de influência da Rússia na Ucrânia permanecerá forte, sem comprometer os negócios e o comércio, nem, tampouco, os laços políticos com a União Europeia – e, sobretudo, com sua parceira estratégica, a Alemanha. Esse é o Santo Graal de Moscou; uma zona de livre comércio[30] de Lisboa a Vladivostok, sonho o qual (não por acaso) é em tudo equivalente ao sonho chinês de uma nova Rota da Seda até a Alemanha.

Cada vez mais desconfiada contra Washington, Berlin, por sua vez, detesta a noção de a Europa ser apanhada nas vascas de uma Guerra Fria 2.0. Os líderes alemães têm peixe maior para fritar, inclusive tentar estabilizar a oscilante União Europeia, que se vê presa nos meandros de um colapso econômico nos países do sul e do centro, vendo avançar os partidos da direita mais extremistas.

Do outro lado do Atlântico, o presidente Obama e seus principais assessores e funcionários mostram todos os indícios de que se vão enredando nas próprias pivotagens e pivoteamento – para o Irã, para a China, para as fronteiras leste da Rússia e (fora do radar[31]) também para a África. A ironia de todas essas manobras, antes de tudo, militares, é que de fato só fazem ajudar Moscou, Teerã e Pequim a construir sua própria profundidade estratégica na  Eurásia e em outros pontos – como já se vê acontecer na Síria, ou, crucialmente, em mais e mais novos negócios de energia.[32] Estão também ajudando a cimentar[33] a crescente parceria estratégica entre China e Irã. A narrativa do incansável Ministério da Verdade de Washington sobre todos esses desenvolvimentos ignora atentamente o fato de que, sem Moscou, o ‘ocidente’ jamais teria sentado para discutir um acordo nuclear com o Irã, nem teria conseguido o desarmamento químico de Damasco. 

Quando as disputas entre China e seus vizinhos no Mar do Sul da China e entre aquele país e o Japão pelas ilhas Senkaku/Diaoyou encontrarem a crise ucraniana, a conclusão inevitável será que ambas, Rússia e China, consideram suas fronteiras e rotas marítimas como propriedade privada e não admitirão desaforos sem revidar – ainda que o desaforo venha sob formato de expansão da OTAN, do cerco militar pelos EUA, ou de escudos de mísseis. Nem Pequim nem Moscou se curvarão à forma usual de expansão imperialista, apesar da versão dos eventos que vem sendo servida à opinião pública ocidental. As respectivas ‘linhas vermelhas’ são e permanecerão essencialmente defensivas, não importa o trabalho que, vez ou outra, seja necessário para mantê-las protegidas e seguras.

Seja o que for que Washington deseje, tema ou tente impedir que aconteça, os fatos em campo sugerem que, nos próximos anos, Pequim, Moscou e Teerã só farão aproximar-se cada vez mais, lenta mais firmemente construindo um novo eixo geopolítico na Eurásia. Entrementes, EUA desnorteados-metendo-pés-pelas-mãos parecem estar ajudando a acelerar a desconstrução de sua própria ordem unipolar, ao mesmo tempo em que oferecem aos BRICS uma genuína janela de oportunidade para tentar mudar as regras do jogo. 

Rússia e China em modo “Pivô” 

Na think-tank-elândia de Washington, a convicção de que o governo Obama deve focar-se em reencenar a Guerra Fria mediante uma nova versão de política de contenção para “limitar o desenvolvimento da Rússia como potência hegemônica” tomou conta de todas as cabeças. A receita: armas até os ossos os vizinhos, dos estados do Báltico ao Azerbaijão, para “conter” a Rússia. Guerra Fria 2.0 na veia, porque, do ponto de vista das elites de Washington, a Guerra Fria, de fato, nunca acabou.

Mas, por mais que os EUA combatam contra a emergência de um mundo multipolar, de várias potências, fatos econômicos em campo apontam sempre, regularmente, nessa direção. A questão é sempre a mesma: o declínio do hegemon será lento e razoavelmente digno e decente, ou todo o mundo será arrastado para o buraco, na opção que tem sido chamada de “opção Sansão”?

Enquanto se assiste ao espetáculo que se desdobra, sem fim de jogo à vista, convém manter em mente que uma nova força está crescendo na Eurásia, com a aliança estratégica sino-russa ameaçando dominar o coração do mundo e grandes porções das áreas continentais. Ora, do ponto de vista de Washington, é pesadelo de proporções Mackinderescas.[34]  Pense, por exemplo, em como Zbigniew Brzezinski, o ex-conselheiro de segurança nacional, que se tornou mentor de política global do presidente Obama, veria a coisa.

Em seu livro de 1997, O Grande Tabuleiro de Xadrez, Brzezinski argumentava que “a luta pelo primado global continuará a ser disputada” no “tabuleiro” eurasiano, do qual “a Ucrânia era um pivô geopolítico”. “Se Moscou reconquistar o controle sobre a Ucrânia”, escreveu ele naquele momento, a Rússia “automaticamente reobterá os meios para tornar-se poderoso estado imperial, que se estenderá sobre Europa e Ásia.” 

É o argumento básico que há por trás da política imperial de contensão, pelos EUA – da “Rússia próxima”, europeia, ao Mar do Sul da China. Assim sendo, e sem fim de jogo à vista, fiquem de olho no pivoteamento da Rússia em direção à Ásia; da China, por todo o planeta; e no duro trabalho dos BRICS, tentando fazer serviço de parteiros do Novo Século Eurasiano. *****

[5] 1/6/2013, Pepe Escobar, “Oleogasodutostão e a(s) Nova(s) Rota(s) da Seda”, traduzido em http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2013/06/pepe-escobar-oleogasodutostao-e-as.html
[8] 25/3/2014, Pepe Escobar: “A Ásia não ‘isolará’ a Rússia”, Asia Times Online, traduzido em http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2014/03/pepe-escobar-asia-nao-isolara-russia.html  
[9] O presidente Hugo Chávez muito falou dessa petromoeda. Mas é absolutamente IMPOSSÍVEL encontrar hoje, pelo buscador Google-Brasil, as falas do presidente Chávez! Há uma censura total, na imprensa-empresa comercial brasileira ‘livre’ [só rindo]. Depois de muita procura, encontramos, para citar aqui, o que se lê em http://www.estadao.com.br/noticias/economia,chavez-quer-brasil-na-opep-e-criacao-da-petro-moeda,347790,0.htm; é matéria de 2009, e nada tem de ‘fato’: só tem, mesmo, de opinionismo tosco golpista do Estadão


AQUI FICA, ENTÃO, como NOSSA HOMENAGEM AO PRESIDENTE HUGO CHÁVEZ.

“Chávez insiste que a aproximação com os países árabes deve incluir a criação de uma nova moeda internacional e até num Banco Petroleiro Internacional, o que evitaria que os governos que contam com recursos tenham de colocar suas reservas em investimentos e fundos nos países ricos. "Temos de pensar nisso", disse. "Já basta do domínio do dólar no mundo", disse Chávez. Ele lembrou que a China e a Rússia irão sugerir a criação de uma moeda de reserva durante o encontro do G-20. [NTs]
[13] 8/5/2014, Pepe Escobar: “FMI vai à guerra na Ucrânia”, RT, trad. em http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2014/05/pepe-escobar-fmi-vai-guerra-na-ucrania.html  
[29] 29/4/2014, Pepe Escobar: “Estratégia” de Obama contra Rússia “pária”, Asia Times Online, trad. em http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2014/04/pepe-escobar-estrategia-de-obama-contra.html