quinta-feira, 27 de junho de 2013

EQUADOR ANALISA PEDIDO DE ASILO DE JOVEM PERSEGUIDO PELO IMPÉRIO AMERICANO.

ESPIONAGEM
 Redação | São Paulo

Equador diz que analisará riscos de conceder asilo a Snowden

Chanceler equatoriano negou que país esteja confrontando os EUA e comparou caso ao do australiano Julian Assange

O ministro das Relações Exteriores do Equador, Ricardo Patiño, disse nesta quarta-feira (26/06) que o caso de Edward Snowden é semelhante ao de Julian Assange e que o país vai considerar “todos os riscos” de conceder asilo político a ele, inclusive o de prejudicar as relações comerciais com os Estados Unidos.


“Levamos dois meses para tomar uma decisão no caso de Assange, então não esperem uma decisão mais cedo desta vez”, declarou em uma visita à Malásia. Por meio do Twitter, Patiño acrescentou que parte de sua declaração sobre Snowden havia sido omitida por algum meio de comunicação.

“Em Kuala Lumpur, disse que a decisão de conceder asilo político pode se resolver em um dia, uma semana ou, como aconteceu com Assange, em dois meses”, escreveu. “Algum veículo omitiu a primeira parte da declaração e deixou só a segunda. Querem confundir, já os conhecemos”.

Também hoje, o governo do Equador, através da embaixada em Washington, negou que esteja provocando um confronto com os EUA. "Como se informou, o senhor Edward Snowden solicitou asilo político ao Equador. Esta situação atual não está sendo provocada pelo Equador", disse em comunicado o número dois da embaixada de Quito em Washington, Efrain Baus.
O diplomata acrescentou que o governo do Equador "analisará responsavelmente" a solicitação de Snowden, acusado de espionagem e roubo de propriedade governamental após revelar a existência de dois programas de vigilância secretos da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês).

Ontem (25), o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, abriu as portas para que o ex-consultor da CIA se refugie em seu país. Ele descreveu o asilo político como uma “proteção humanitária” e disse que “o jovem Snowden (...) garante e merece proteção humanitária” porque suas revelações foram úteis para “fazer a humanidade melhor”.
Moscou

Snowden, como reconheceu ontem o presidente russo Vladimir Putin, se encontra na zona de trânsito de um aeroporto de Moscou e pode permanecer lá ainda por um tempo, já que o Equador não chegou a uma conclusão sobre lhe conceder asilo político e, com o passaporte norte-americano anulado, ele não tem documentos que comprovem sua identidade. Assim, ele não pode entrar na Rússia e nem comprar uma passagem para outro lugar.

O chanceler encarregado do Equador, Galo Garzala, disse ontem que o país não concedeu nenhum documento ao ex-técnico da CIA. "Ele (Snowden) não tem documento expedido pelo Equador (passaporte ou uma carteira de refugiado) como foi mencionado", indicou Galarza, segundo transmitiu a rede TC do Equador.

A fala do diplomata desmente a declaração de Assange, feita na segunda-feira em uma conferência com jornalistas, de que Snowden tinha recebido documentos de refugiado emitidos pelo Equador para que pudesse viajar de Hong Kong a Moscou. 


Críticas ao Washington Post

O presidente do Equador, Rafael Correa, rechaçou um editorial do jornal The Washington Post que critica a decisão do país de considerar um possível asilo a Edward Snowden. "O descaramento do século: Washington Post 'acusa' o Equador de duplo padrão. Será que eles se dão conta do poder da imprensa internacional?", escreveu em sua conta no Twitter. "Conseguiram centrar a atenção em Snowden e nos 'malvados' países que o 'apoiam', fazendo com que a gente se esqueça das terríveis coisas denunciadas contra o povo norte-americano e mundo inteiro. 'A ordem mundial não é injusta, é imoral'", disse.

No editorial publicado na segunda-feira, o jornal norte-americano afirma que a China “mostrou desrespeito pela administração de Obama” ao facilitar o voo de Snowden e que a Rússia poderia fazer o mesmo, mas que, em matéria de “ousadia antiamericana”, não há ninguém como Rafael Correa, “o líder autocrático do pequeno, empobrecido Equador”.

Post acrescenta que receber Snowden permitiria a Correa avançar em sua maior ambição: “substituir Hugo Chávez como principal demagogo antiamericano do hemisfério”. Segundo eles, “por anos, Correa foi conhecido por suas acusações a jornalistas de seu próprio país”, mas agora ele “se superou”, fazendo referência à Lei de Comunicação que entrou em vigor no Equador ontem e é chamada pela oposição de “mordaça”.

A União Nacional de Jornalistas e a ONG Fundamedios, assim como entidades internacionais como a Sociedade Interamericana de Imprensa, o Human Rights Watch e o Comitê para a Proteção dos Jornalistas criticaram a lei, que cria a figura do chamado "linchamento midiático", que pode ser empregado para impedir a publicação reiterada de informações com o fim de desprestigiar ou reduzir a credibilidade pública de pessoas físicas e jurídicas.

O governo justifica a legislação por considerar que ela permitirá regulamentar os supostos "abusos" da imprensa. Para a oposição e algumas associações jornalísticas a lei é um tipo de "censura" que limitará a liberdade de expressão no país.