MÉXICO O pesadelo do emigrante Jacinto Granda VÃO na procura dum sonho, mas realmente se enfrentam a um pesadelo que, em muitos casos, significa até a morte. Trata-se do destino dos emigrantes ilegais, principalmente centro-americanos e mexicanos, que pretendem chegar aos Estados Unidos, para fugir da pobreza que padecem em seus países, encontrar uma vida melhor e poder ajudar aos seus familiares. Eles viajam em massa no teto da "Besta", como chamam aos trens de cargas que cruzam a fronteira da Guatemala e se adentram na geografia mexicana. Depois, eles tentarão continuar caminho como puderem até o norte. São homens, mulheres e até crianças que nesse perambular se encontram indefesos, face a uma realidade na qual podem ser roubados, golpeados, violados, torturados, sequestrados e assassinados, vítimas de bandos criminosos e, inclusive, de autoridades corruptas. O bispo de Saltillo, Raúl Vera, declarou à imprensa que em cada seis meses o crime organizado obtém, pelo menos, US$25 milhões como resultado das extorsões aos emigrantes. AO CRUZAR A FRONTEIRA Mas a agonia destes viajantes não termina quando finalmente conseguem cruzar a fortificada fronteira dos Estados Unidos. Então são vítimas do inóspito deserto; da perfídia de contrabandistas de pessoas (conhecidos como coiotes ou "polleros"); da violência de grupos xenófobos e dos maus tratos da guarda fronteiriça. O número de indocumentados mortos na fronteira, somente durante o ano passado, aumentou para 477. Apesar de todo este terrível panorama, mais de 11 milhões de emigrantes indocumentados vivem atualmente nos Estados Unidos, embora sua agonia não acabe aí. Pedro Dávalos é um deles. Sobreviveu à rota da "Besta" e conseguiu cruzar o deserto fronteiriço, mas hoje está desempregado e mora num parque de Nova York, narrou um noticiário da televisão mexicana. Outros muitos desempenham trabalhos fortes e muito mal pagos, principalmente na agricultura, na construção ou lavando pratos em restaurantes de baixa categoria. Contudo, o perigo maior é outro. O governo estadunidense endureceu sua política migratória contra os indocumentados e aumentou as deportações, sem importar que levem anos nos Estados Unidos e até que tenham filhos nascidos nesse país. São comoventes os relatos desses pais que foram desterrados e separados de seus entes queridos. Depois de tantos anos com esta situação, e de reclamos constantes e em massa, dos imigrantes e de associações civis, entre outras muitas vozes, agora é que se debate no legislativo estadunidense uma reforma à discriminatória Lei de Emigração. Acerca desta, o presidente Barack Obama, que deve sua reeleição ao voto latino, disse que esse projeto inclui conceitos com os quais ele concorda, mas admitiu que a iniciativa não satisfaz todas suas expectativas. Será preciso esperar o resultado desse debate no Congresso dos Estados Unidos e ver até onde essa reforma será um real benefício para esses milhões de indocumentados.