Bachelet que já presidiu o Chile disputa pela oposição
Bachelet que já presidiu o Chile disputa pela oposição
Hernán Huribe*
São responsáveis políticos por crimes. Dois políticos da extrema direita pretendem a Presidência do Chile, más só um
Pinochetista Longueira disputa pela situação
Pinochetista Longueira disputa pela situação
deles vai disputar por ter passado nas eleições primárias eliminatórias do último dia 30 de junho.
Andrés Allamand (AA) e Pablo Longueira (PL) são respectivamente, os pre candidatos dos partidos Renovación Nacional (RN) e  Unión Demócrata Independiente  (UDI) juntos pelo pacto Alianza. Esses partidos surgiram nos anos 1980 em plena ditadura do general Augusto Pinochet Ugarte que permaneceu no poder durante 17 anos a partir de 1973.
Pelo pacto Nueva Mayoria disputaram: Michelle Bachelet Jeria, do Partido Socialista (PS), mais o Partido pela Democracia (PPD) e o Movimento Amplo Socialista (MAS); Jose Antonio Gomez Urrutia pelo Partido Radical Social Democrata (PRDS); Claudio Orrego Larrain, Partido Democrata Cristiano (PDC); e Andrés Velasco Brañes pelo candidato independente(ILA).
De acordo com os resultados anunciados disputarão as eleições presidenciais e parlamentares de 17 de novembro Michelle Bachelet que teve 73, 05% dos votos da Nueva Mayoria, de oposição, e o governista Pablo Longueira Montes que obteve 51,37% na lista da Alianza.
A ditadura suprimiu todos os partidos políticos além das organizações de qualquer natureza como a Central Unitária de Trabajadores (CUT) e converteu em delito toda tipo de eleições, inclusive nas entidades esportivas como clubes de futebol. Não obstante e como efeito do enorme repudio universal, a Junta Militar autorizou a criação da UDI e a reorganização do Partido Nacional que tinha fomentado o golpe de estado e que se remoçou com a farda da ”Renovación”… Todo esse teatro tinha o  proposito de parecer como democratas…
Em 1988 transcorreu o plebiscito em que se votava por Sim ou Não para a permanência  da APU no poder. As duas entidades mencionadas apoiaram o tirano porém, como se sabe, perdeu o Sim e se fortaleceu dessa maneira ao repúdio a Pinochet e seus crimes dos quais a UDI e a RN foram e são responsáveis políticos e morais.
A denominação da UDI é ridícula, pois, como pode ser democrata uma entidade que nasceu das entranhas da tirania? Mais falso ainda é o “independente” pois se trata de uma copia fiel do Partido Popular da Espanha, que surgiu depois da morte de Franco Franco que teve um discípulo em Pinhochet.
As eleições presidenciais e para o Congresso Nacional (deputados e senadores) serão realizadas em novembro quase no fim do mandato de Sebastián Piñera (RN) único direitista eleito em uma vintena de anos pós tirania. Allamand foi ministsro da Defesa de Piñera e Longueira se desempenhou no ministério da Economia. Agora outros dois ministros renunciaram, Joaquin Lavin e Luciano Cruz-Coke para assumir como chefes das campanhas eleitorais dos postulantes da direita.
Há divisão na direita política chilena? De nenhuma maneira. Trata-se só de matizes pois ambos os coletivos se distinguiram por seu amor por Pinoche e com o regime que, a sangue e fogo, estabeleceu no Chile o primeiro ensaio de capitalismo selvagem. Recorde-se a Milton Friedman, o teórico da tese que propugna a privatização total e que inclui a supressão do Estado, viajou rapidamente a Santiago  para aplaudir pessoalmente a Pinochet e sua turma.
Oito anos depois da suspensão forçada da APU ocorreu um episódio que demonstra o amor eterno dos conservadores chilenos para com quem matou, torturou, encarcerou e exilou a milhares de compatriotas. Em fins de outubro de 1998, quem abandonou o poder em 1990 ostentava o título de “senador vitalício”, foi detido em Londres e ameaçado de ser levado e julgado na Espanha em razão de uma petição dos advogados Baltasar Garzón e Joan Garcés, membros do Departamento Jurídico de Amnesty Internacional com a acusação de homicídio de cidadãos hispânicos no Chile.
No início de novembro de 1998 já estava instalada em Londres a direção da UDI e da RN para visitar o general já declarado reo, internado no Groveland Hospital por ter se declarado enfermo. Estavam nessa Alberto Espina, então presidente da RN e atual senador; Pablo Longueira, deputado, presidente da UDI; Patricio Melero, deputado, atual presidente da UDI e Joaquin Lavin, nessa época pre candidato a Presidência pela UDI.
Foram reverenciar o ex ditador, mas também puderam constatar que em Londres havia manifestações públicas de repúdio a APU. Em um desses atos realizados em Trafalgar Square esteve presente a chilena Sola Sierra, então presidenta do Agrupamento de Familiares Presos-Desaparecidos. Nesses dias Pinochet com marcante cinismo declarou: “Me quieren condenar sin probar cargos” (sic e antológico) (“Querem me condenar sem provas”.
Foi o “The Sunday Times” o jornal que divulgou tal afirmação a qual acrescentou que sua prisão “enterraria os esforços para conseguir uma reconciliação em Chile”. Outra: “Fico triste pelo fato de minha prisão abalar minha confiança na grã Bretanha”. No Chile escutou-se o coro a favor do preso. Algumas vozes:  Andrés Chadwick, atual ministro do Interior de Piñera: “A autoridade tem o dever de resguardar  o bem comum e, muitas vezes, isso exige que não se dê a conhecer toda a verdade” (revista Que Pasa, 2-9-1991), Evelyn Mattei, atual ministra do Trabalho: Calem-se, comunistas de merda” (sic) (revista El Sabado, 7-1-1998); Joaquín Lavin:  “É um senador e um ex presidente da República que viaja com passaporte diplomático e, portanto, com a proteção de Chile” (diário La Nación , 18-10-1998).
Mas também se escutaram palavras com outra índole. Por exemplo, as do bispo católico Carlos Camus, publicadas por La Nación em 1-3-199: “Qual o destino de Pinochet? Terá que pagar na outra vida. O juízo de Deus é muito mais profundo. Nesta vida nunca poderia pagar o sofrimento dos torturados, dos assassinados, dos desaparecidos … Como se faz para aparecer um desaparecido cujo corpo foi triturado, jogado ao mar ou destruído por fosfato? Como se repara essa dor?”
O próprio Pinochet contribuiu para sua condenação, pelo menos moral. Ele afirmou: “Não foram executadas pessoas, mas sim animais”, e outra: “Quando o exército sai, o faz para matar porque foi treinado para isso” (jornal El País, 1995)
Pinochet pode regressar ao Chile como suposto inválido, falsa doença que utilizou para evitar a extradição para Espanha. Não obstante, o episódio de Londres foi útil para conseguir que fosse julgado no Chile, o que ocorreu em 2001. Sua defesa invocou de novo motivos de saúde, porém o juiz Juan Guzmán, ministra da Corte de Apelações, pode indicia-lo como autor de 57 homicídios e 18 sequestros.
Hoje, em 2013 e com a APU já morta, prosseguem no Chile e no exterior os processos pelas incontáveis vítimas de um pesadelo que começou há quarenta anos e permaneceu por mais de três lustros. Em fevereiro passado, Espanha solicitou a extradição dos sete assassinos do diplomata madrilenho Carmelo Soria que trabalhava na CEPAL, com sede em Santiago do Chile.
Por outro lado a Corte Suprema chilena tamb[em está pedindo a extradição do chileno Pedro Barrientos Nuñez, que está nos Estados Unidos e é um dos oito oficiais que em 1973 mataram o conhecido músico Victor Jarra, prisioneiro, cujo cadáver tinha 44 impactos de balas.
*Fontes consultadas: Salinas, Luis A. The London Clinic, Santiago, LOM, 1999. Arquivo do autor. Jornalista e escritor chileno – de IPS para Diálogos do Sul