quarta-feira, 31 de julho de 2013

JUMENTA HINDU ELABORA "TESE" ECONÔMICA

[Comentário à análise de acadêmica da Índia sobre o] ‘Socialismo fracassado de Cuba’

Vincenzo Basile
Adital


Tradução: ADITAL
Acadêmica da Índia analisa o "socialismo fracassado de Cuba"
No passado 27 de julho, a revista econômica internacional The Indian Economist publicou um artigo escrito por Geeta Spolia, intitulado "Cuba: um socialismo fracassado”. Nesse trabalho, a autora –uma jovem acadêmica da Universidade de Nueva Delhi- tentava apresentar uma análise sobre as futuras perspectivas do sistema vigente na Ilha após o fim do mandato do atual presidente, Raúl Castro, e do inevitável rumo ao capitalismo que assumiria a economia cubana. Dita análise reduz-se a uma série reiterada de tópicos e clichês internacionalmente reproduzidos pela imprensa imperante que a autora assumia como verdades irrefutáveis.
Nesse sentido, a autora –após citar uma declaração de Raúl Castro, que, em 2010, afirmou que não foi eleito para restaurar o capitalismo, nem para entregar a Revolução, e utilizar uma velha tentativa de manipulação midiática, ou seja, quando os meios de todo o mundo tentaram converter uma declaração de Fidel acerca da necessidade de atualizar o modelo cubano em uma admissão do fracasso do modelo socialista e, daí, a aceitação do capitalismo- a analista sentenciava o inevitável e necessário rumo ao capitalismo que Cuba tomou e que se intensificará após o fim do mandato de Raúl Castro, em 2018.
No entanto, além do reducionismo exasperado que pretende converter uma necessária atualização em uma mudança do sistema econômico, há muitas falhas na tentativa de análise de Geeta Spolia.
O que mais assombra é que a analista –uma acadêmica de uma sociedade póscolonial, como a Índia- falava da pobreza da Ilha –sem a mínima originalidade analítica-, atribuindo-a, claro, ao socialismo, um ideal anacrônico e rígido, renunciando, assim, a qualquer tipo de contextualização histórica e geopolítica, como quatro séculos de colonização espanhola, meio século de protetorado norte-americano e 54 anos de tentativas de destruição econômica e política por parte do governo dos Estados Unidos.
Para evitar cair no mesmo reducionismo que caracterizou seu artigo, seria interessante saber qual tipo de análise a autora ofereceria sobre a dinâmica econômica de seu país, a Índia, que foi colônia britânica durante séculos e se independizou em 1947, abraçando orgulhosamente as receitas capitalistas ocidentais e convertendo-se em um fiel aliado do bloco ocidental durante a guerra fria, com todas as inumeráveis vantagens econômicas que isso implicava.
Apesar de que hoje a Índia se encontra no terceiro lugar na lista dos países pelo PIB (a paridade de poder aquisitivo), atrás dos Estados Unidos e da China e se apresenta ao mundo como um futura potência econômica e política, deve-se considerar também outros aspectos, como, por exemplo, que a Índia tem uma taxa de mortalidade infantil de 46%; que tem uma esperança de vida ao nascer de 67 anos; uma taxa de alfabetização de 66%; e um índice de desenvolvimento humano que a coloca na posição número 136 (enquanto Cuba ocupa o 59º lugar).
Considerando todos esses dados e tentando manter um certo nível de coerência analítica, se a atual pobreza de Cuba é consequência de 54 anos de "fracassado processo revolucionário socialista”, a Índia deveria, consequentemente, considerar-se um dos mais emblemáticos paradigmas do fracasso de um capitalismo que em 66 anos só gerou miséria, depauperação e todo tipo de dualismo econômico e social, alimentando uma massa de centenas de milhares de analfabetos, excluídos e esquecidos.
A alternativa seria tentar contextualizar os problemas sofridos por todas as sociedades que se libertaram após séculos de dominação europeia e, sem cair em um rígido determinismo histórico, tentar analisar a realidade de cada país como inevitavelmente condicionada por longos processos de dependência que não podem ser reduzidos a pouco mais de 50 anos.
Claramente, não é preciso viajar para tão longe, até a imensa Índia, para entender a superficialidade da chamada análise de Geeta Spolia. Em todo o entorno caribenho e centro-americano existem exemplos de países muito mais pobres do que Cuba, países que padecem a autêntica miséria, que abraçaram, mais ou menos espontaneamente, a camisa de força dourada do neoliberalismo e que obtiveram dramáticos fracassos econômicos, sociais e humanos. Por certo, nesses casos, a culpa nunca é atribuída ao sistema econômico e político vigente; e tentam encontrar prováveis e ridículas explicações, como a corrupção, a cultura não apta ao desenvolvimento ou várias contingências endógenas pouco favoráveis.
Fica evidente que uma análise sistêmica melhor construída não serviria para publicar um artigo mais sobre Cuba e seu fracassado modelo, algo que parece ter-se convertido na moda jornalística de hoje em dia, inclusive dos que, em primeira linha, como a autora, deveriam ter vivido as trágicas consequências de séculos de dependência militar, política, econômica e cultural.