Farc e governo encerram ‘com avanços’ mais um ciclo dos diálogos de paz

Tatiana Félix
Adital

Para as Farc, existe na Colômbia um "crescente descrédito da política" fato que os motiva a convocar um acordo voluntário para refundar e reinventar o sistema político, de modo que possa servir à paz, a reconciliação e à todos os cidadãos, em especial "as maiorias ignoradas", possibilitando mudanças estruturais, legislativas e constitucionais no país.
Neste sentido, as Farcs defendem a reestruturação do Estado, através da criação de poder popular, limites de concentração de poder público, reforma política e eleitoral, entre outras propostas que impulsionem a participação política democrática, a paz com justiça social e a reconciliação nacional. A guerrilha também lembra que os temas da verdade histórica e da justiça transicional que tem sido debatido na Corte Constitucional do país já fazem parte do quinto ponto da Agenda de diálogo das Farc e que "devem ser debatidos na mesa em Havana e não em Bogotá".
"Afirmamos que as vítimas são vítimas do conflito, que o Estado é responsável pela ação ou por omissão, o que foi reconhecido recentemente pelo presidente da República, Juan Manuel Santos", enfatizou.
No comunicado conjunto, as delegações ressaltaram ainda a importância de toda a sociedade se vincular às discussões e definições sobre a paz na Colômbia, já que este é um assunto que interessa toda a população, e lembrou que os temas não podem ser tratados de forma unilateral. Os interessados em participar com propostas para a agenda dos diálogos de paz podem dar suas contribuições pelo site https://www.mesadeconversaciones.com.co/. O próximo ciclo de diálogos iniciará no dia 19 de agosto.
As Farc aproveitaram o encerramento vitorioso deste novo ciclo para criticar as declarações do general do Exército Colombiano, Sergio Mantilla, quem afirmou que a guerrilha estaria "desmoralizada”. "Desmoralizadas podem estar as tropas do General Mantilla, pois muitos de seus oficiais experimentados em guerra de guerrilhas estão indo para os Emirados Árabes para se venderem como mercenários. Aqui arriscam sua vida e lhes pagam com migalhas, em troca lá lhes pagam em dólares”, rebateu as Forças Revolucionárias da Colômbia.
Sobre as declarações de autoridades colombianas ao longo dos anos que afirmavam que a guerrilha estaria derrotada em pouco tempo, as Farc lembraram que "as dezenas de generais que enfrentaram [o comandante Manuel Marulanda Vélez] durante 44 anos nunca puderam derrotá-lo”. "Uma guerrilha que resistiu a assimetria em número e tecnologia, a ofensiva contrainsurgente maior que se tem conhecimento na história da América, não pode ser uma guerrilha desmoralizada, senhor General”, conclui, afirmando que as declarações do oficial não contribuem para os esforços pela paz.