domingo, 23 de março de 2014

GOLPE EM BOGOTÁ

Ex-guerrilheiro, prefeito destituído de Bogotá pressiona por retomada do cargo


Adital
No momento de transição oficial entre o prefeito destituído Gustavo Petro e o prefeito interino Rafael Pardo, o ex-guerrilheiro Petro anuncia que viajará a Havana, capital de Cuba, para dialogar com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). A pretensão seria tentar articular uma nova Assembleia Constituinte no país com vistas a retomar o cargo de prefeito de Bogotá.
Desde que fora destituído do cargo, em 09 de dezembro de 2013, Petro interpreta que houve um "golpe de Estado” na Colômbia. A ordem para sua destituição partiu do procurador geral do país, Alejandro Ordóñez, que apontou, na ocasião, "três faltas graves” e irregularidades no projeto de recolhimento de lixo apresentado pelo prefeito da capital como justificativa, tornando-o inabilitado por 15 anos para exercer o cargo.
Prefeito interino é desarticulador do grupo guerrilheiro do Petro
O economista Gustavo Petro é considerado um dos políticos de esquerda mais proeminentes da Colômbia. Em sua juventude, o prefeito destituído militou no Movimento 19 de abril (M-19), grupo guerrilheiro que deixou o movimento armado e se incorporou à vida político-partidária. O M-19 foi desmobilizado no chamado processo de paz promovido pelo governo de Virgílio Barco (1986-1990).
O líder desse processo de desarticulação do movimento é justamente o prefeito que assumiu o governo de Bogotá, Rafael Pardo, que, até então, atuava como ministro do Trabalho e já foi secretário de Integração Popular e diretor do Plano Nacional de Reabilitação (PNR), durante governo de Barco.
"Transição traumática”
Soma-se a isso a decisão de todos os secretários da gestão de Petro de deixarem o cargo em 1º de abril e uma onda de protestos na capital pelo mau serviço público nos transportes e na limpeza urbana. Nas últimas semanas, uma série de manifestações tem marcado as ruas da capital da Colômbia. A população reclama de frequentes problemas no sistema de transportes de Bogotá.
Além disso, os bogotanos reivindicam medidas de controle para a insegurança da capital e falhas no sistema de manutenção da limpeza urbana do Bogotá. Os cidadãos apontam o momento como uma "transição traumática” na conjuntura política da capital.
Histórico
Nos últimos seis anos, a capital teve três mandatários: o economista e advogado Samuel Moreno, inabilitado por três meses enquanto exercia o cargo; a economista e primeira mulher a dirigir um partido político na Colômbia, Clara López, que havia substituído Moreno, e, agora, Gustavo Petro. Razões políticas são apontadas para a postura de Alejandro Ordóñez, que já havia desabilitado outros funcionários públicos da Colômbia, como a ex-senadora Piedad Córdoba (por 18 anos) e o representante de Bogotá na Câmara, Germán Olano (por 12 anos).
Apoio popular
Em janeiro deste ano, milhares de bogotanos marcharam nas ruas da capital da Colômbia em apoio ao ex-prefeito Gustavo Petro. O ato foi construído nas redes sociais na Internet, envolvendo milhares de pessoas. Na ocasião, ele mesmo chegou a convidar a população a comparecer ao movimento, através de sua conta no Twitter: "Levanta tua mão serena, digna e orgulhosamente grita NÃO PASSARÃO”, escreveu Petro.

Nesta quarta-feira, 19 de março, o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, desqualificou as medidas cautelares expedidas pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que havia solicitado ao governo os documentos do caso para verificar como se deu o processo, orientando pela restituição de Petro ao cargo.
Para o prefeito destituído, a Justiça que protege os povos da América Latina foi agredida pelo presidente Santos, demonstrando "que não está capacitado para adiantar o processo de paz no país”. "Como vai ser capaz de dizer que reconhecerá as garantias civis dos que agora estão nessa mesa de paz, sendo que não pôde reconhecer as medidas cautelares daquele que ganhou pelo voto popular a Prefeitura de Bogotá?”, indaga.
O caso pode ter impactado negativamente na capital cubana, onde o governo colombiano e as FARC negociam acordo que ponha fim ao conflito armado de meio século no país. As Farc qualificaram o caso como "um grave golpe contra o processo”. "É uma mostra das garantias da democracia colombiana às quais nos convidam a nos vincular”, disse, com ironia, um dos negociadores da guerrilha.