terça-feira, 10 de junho de 2014

AMÉRICA LATINA

Momento político-eleitoral em países da América Latina aponta mudanças


Adital
A corrida eleitoral transforma um país. Além de servir para promover uma renovação da classe política e para a articulação de vontades entre diferentes posições, também possibilita uma oxigenação da ordem existente e seu pluralismo, contribuindo para a estabilidade, redefinição de contornos e abertura de possibilidades para modificação. A análise é do Centro Estratégico Latino-Americano de Geopolítica (Celag), no documento "A disputa eleitoral na América Latina 2014”.
O Celag apresenta um mapa das disputas eleitorais em todos os países da região e traça um panorama das principais forças políticas atuantes, os partidos opositores, resultados das últimas eleições e a situação política frente à corrida eleitoral em países onde a votação esteja se aproximando. A análise foca a corrida presidencial. A seguir, destacamos o panorama político-eleitoral de alguns países.
As eleições presidenciais no Chile aconteceram no fim de 2013. Após uma disputa acirrada com oito candidatos Michelle Bachelet retomou a cadeira presidencial em segundo turno, deixando a conservadora Evelyn Matthei, da Aliança País, para trás. O Celag destaca que, atualmente, no mapa político conjuntural chileno as forças políticas da esquerda revolucionária - o Movimento Todos a La Moneda e o Partido Igualdade - estão unidas oficialmente desde 27 de março, no projeto Frente Ampla por uma Assembleia Constituinte autoconvocada, em que propõem derrubar a Constituição pinochetista de 1980 ao invés de construir uma simples Reforma Constitucional. Isto porque durante a ditadura de Augusto Pinochet, em 1980, a Constituição foi mudada de maneira arbitraria e é a que ainda segue vigente.
Na Colômbia, onde está previsto o segundo turno das eleições presidenciais para o próximo dia 15 de junho, a corrida eleitoral pelo mais alto cargo já começou de forma tensa, com a destituição de Gustavo Petro (Partido Verde), prefeito de Bogotá. A decisão gerou forte polêmica e fez com que 60% da população da cidade ficassem contra o presidente Juan Manuel Santos, que acatou a ordem da Procuradoria de destituir e desabilitar Petro. O relatório aponta que o posicionamento de Santos causou um grande impacto na campanha eleitoral. Vale ressaltar que nas eleições presidenciais de 2010, Antanas Mockus, do Partido Verde, era o principal opositor de Santos.
Costa Rica vive um momento político diferente, com a vitória de Luis Guillermo Solís Rivera, do Partido Ação Cidadã (PAC). Ele enfrentou Johnny Araya Monge, do tradicional Partido Liberação Nacional (PLN) no segundo turno e venceu com 94% dos votos. A vitória de Solís Rivera pode apontar para uma caminhada moderada da América Central em direção à esquerda.
Em outubro, o Brasil celebra eleições presidenciais, no entanto, o momento político vem sendo ofuscado pela Copa do Mundo de Futebol, que começará em poucos dias no país. Em 2010, nas últimas eleições, o Partido dos Trabalhadores (PT) conquistou mais quatro anos de governo, elegendo a primeira mulher para o cargo na história brasileira, Dilma Rousseff, fortemente apoiada pelo então presidente Lula. O Celag analisa que o último ano de Dilma foi, sem dúvida, o mais turbulento de sua gestão e o que apresentou maior queda de sua popularidade, mesmo assim, a presidenta ainda aparece como preferida nas pesquisas de intenção de votos.
O clima de instabilidade no país teve início com as manifestações de junho de 2013, motivadas inicialmente pela elevação no preço do transporte público e pelos gastos com a Copa do Mundo. Após as primeiras manifestações, os jovens - principais organizadores das ações - continuaram a sair às ruas para denunciar a repressão policial e a criminalização dos protestos em todo o país. Várias manifestações estão sendo prometidas para repudiar a Copa e os exorbitantes gastos públicos.
A economia também é motivo de preocupação no país, já que houve significativa desaceleração do crescimento se comparado a outros países da região; a tendência inflacionária também é alta, com média de cerca de 6% ao ano; e a falta de chuva ameaça o abastecimento de energia hidrelétrica. Apesar da soma de problemas e de um eleitorado cada vez mais crítico, o Celag analisa que o crédito do PT e de seus sócios se mantém graças à marca de Lula e aos programas sociais que tiraram milhares de pessoas da pobreza nos últimos anos.
Desde o último dia 1º de junho, El Salvador está sob a gestão de Salvador Sánchez Cerén, da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN), organismo que foi fundado como um grupo guerrilheiro em 1980, no início da guerra civil no país.
O Celag analisa que esse é um momento histórico para El Salvador e destaca que a FMLN precisará estabelecer políticas e estratégias para reconstruir governabilidade e estabelecer acordos parlamentares, já que seu governo estará constantemente ‘assediado’ pelo Partido Arena. Outro desafio é a desigualdade social e as demandas sociais e econômicas das classes médias urbanas. O FMLN precisará dar atenção a essa camada da população se quiser ampliar sua base eleitoral.
"As direitas políticas, hoje agrupadas – fundamentalmente – no Arena e no Movimento de Unidade, assumirão um movimento pendular. Por um lado, um papel negociador e, por outro, de desgaste e erosão. O que fica por observar é a intensidade dos papeis e qual estratégia primará, assim como que ação realizarão esses partidos frente ao novo governo”, analisa o Celag.
Desde o golpe de Estado sofrido pelo presidente Manuel Zelaya, em 2009, cada período eleitoral vivido em Honduras demonstra as tensões de um sistema político em crise. A eleição presidencial realizada em 2013 foi a segunda após o golpe. O destaque foi a incorporação do Partido Libre (nascido em 2010 como plano político eleitoral dos movimentos e organizações membros da Frente Nacional de Resistência Popular, formada após o golpe) na arena eleitoral. A candidatura de Xiomara Castro, esposa de Zelaya, pelo Libre, representou uma ruptura ao bipartidarismo.
A eleição, que teve ampla participação de funcionários da Embaixada dos Estados Unidos, foi vencida por Juan Orlando Hernández, do Partido Nacional, que obteve uma vantagem de 8,01% sobre Xiomara. O Libre denunciou fraude eleitoral. Assim, hoje, Honduras continua a viver um clima de instabilidade, com um governo que vem investindo pesado em equipamentos de guerra e reprimindo protestos sociais.
No último dia 04 de maio, se realizaram as eleições presidenciais no Panamáe o resultado que veio das urnas permitiu que um ciclo se fechasse no país, o ciclo do multimilionário Ricardo Martinelli, do partido Mudança Democrática e de sua experiência governamental. Em sua gestão, Martinelli não provocou uma ruptura ideológica com a administração de Martín Torrijos (2004-2009), na verdade produziu uma reafirmação das políticas neoliberais e dos atores que a sustentam. Hoje, a cadeira presidencial é ocupada por Juan Carlos Varela, ex-vice-presidente do país e dirigente do Partido Panamenhista (PPA).
O Celag aponta que um partido neoconservador desbancou outro, sendo assim, apenas troca-se uma modalidade neoconservadora por outra. A colonização e a subordinação do Estado em favor dos empresários - estratégia do presidente Martelli - foi derrotada pela volta a um partido tradicional, que representa - mais além de seus interesses neoconservadores e seus vínculos com empresários - a volta da classe política, aquela que não abandonou o controle territorial e que aproveitou a sociedade com Martelli para crescer politicamente.
Leia o documento na íntegra (em espanhol):http://www.cronicon.net/paginas/edicanter/Ediciones97/Nota11.pdf